domingo, 15 de julho de 2018

The Void (2016)







Direção: Jeremy Gillespie, Steven Kostanski 
Roteiro: Jeremy Gillespie, Steven Kostanski
Elenco: Aaron Poole, Ellen Wong, Kathleen Munroe, Kenneth Welsh, Art Hindle, Stephanie Belding, Daniel Fathers, James Millington, Dennis Nicomede, Mark Fisher, Amy Groening, Evan Stern, Trish Rainone, Grace Munro, Mik Byskov, Keith Bowser, David Scott, Janine Davies, Jason Detheridge.
Gênero: Terror
Duração: 90 minutos
País: Canadá / Estados Unidos 



  
Jeremy Gillespie e Steven Kostanski são dois jovens diretores conhecidos pelas colaborações com Guillermo Del Toro em filmes como “Pacific Rim” (2013) e “The Shape of Water” (2017), tendo trabalhado no departamento de arte e maquiagem dos filmes como segundo assistente. Além deste, um dos trabalhos mais recentes e aclamados da dupla é o novo “IT” (2017), sendo que o primeiro trabalhou no departamento de arte, e o segundo, no de maquiagem. São dois novatos muito talentosos dentro de seus ramos e são fãs assumidos de horror, por isso mergulham de cabeça neste que é seu primeiro e mais íntimo projeto que nada mais é do que uma homenagem ao horror oitentista feitos por diretores como Canperter, Clive Barker e até mesmo pelo mestre italiano Lucio Fulci. As homenagens, no entanto, não param por aí, como poderão ver nos parágrafos seguintes.  
 

Os diretores não perdem tempo já iniciando a trama mostrando um assassinato brutal a sangue mais do que frio – diria quase congelando. A câmera mostra duas pessoas tentando fugir de uma casa, sendo que uma delas consegue, o rapaz, e a outra, uma garota, é brutalmente assassinada por duas pessoas, Vincent (Daniel Fathers) e seu filho (Mik Byskov), que não bastassem meterem bala contra a moça, ainda ateiam fogo. Toda cena é observada por pessoas encapuzadas vestindo branco com um símbolo negro de um triângulo no centro do capuz que lhes cobrem o rosto. Logo após, o policial Daniel Carter (Aaron Poole) em patrulha numa rodovia, percebe um rapaz, aparentemente drogado, tentando sair do meio dos arbustos. Ele o autua para então mostrar ao público que o rapaz na verdade é o que conseguiu fugir da casa, seu nome, descobre-se mais adiante, é James (Evan Stern). Como o rapaz está muito debilitado e com marcas nos braços e com quase zero de reação, o policial resolve levá-lo até o hospital mais próximo, que é onde acontece toda a ação. 

 
Estando neste hospital, a enfermeira Allison (Kathleen Munroe) o recebe e o ajuda a levar o rapaz até um quarto para ser atendido. Então mais personagens são apresentadas, a estagiaria Kim (Ellen Wong), o médico Richard Powell (Kenneth Welsh), um avô na sala de espera com sua neta grávida, aparentemente em trabalho de parto, Ben (James Millington) e Maggie (Grace Munro). Após a primeira morte – extremamente sangrenta, diga-se de passagem – e alguns outros problemas, pai e filho, que foram apresentados lá no início da história, chegam completamente malucos com uma espingarda e sedentos de raiva à procura do rapaz que tinha fugido havia pouco. Daniel então percebe que está sem comunicação com a central para então o sangue e as bizarrices começarem a acontecer de fato. O que se cria a partir disso é uma história claustrofóbica onde não há para onde ir, nem a quem recorrer, pois, além de estarem sem comunicação, esses membros encapuzados de uma seita macabra fecham o cerco contra o hospital impossibilitando aqueles que ali estão de fugir. É o famoso “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, pois além disso tudo, ainda há coisas estranhas e enigmáticas, além das mortes violentas, acontecendo dentro local. Não há saída, literalmente. 

 
O filme não possui muitas personagens, é um elenco enxuto, principalmente em vista do baixo orçamento do qual a produção se dispunha. Desses personagens, pode-se dizer que nem um é tridimensional; no entanto tal exigência não faz sentido em um filme B como este ou em qualquer outro filme B que se preze de qualquer época – diria principalmente os da década de oitenta. Este não é um filme da Nouvelle Vague ou do Neorrealismo italiano. Personagens não tão bem desenvolvidos sempre existiram neste gênero, vide a esmagadora maioria dos que foram feitos na época a qual “The Void” se propõe a homenagear. Sim, é um problema, mas um problema que em filmes assim dá para relevar, principalmente quando em questão o roteiro é bem amarrado de modo que consiga desenvolver as situações nas quais esses personagens estão inseridos sem deixa-los cair na repetição e no marasmo. Aqui um ponto puxa o outro e a história se desenrola levemente.

Ainda com pouco desenvolvimento de personagens, estes possuem uma quantidade considerável de humanidade e por isso fazem com que o espectador consiga, até certo ponto, relacionar-se com alguns deles. Isso acontece porque são problemas reais pelos quais eles passam, como por exemplo o policial que tenta seguir os passos do pai e não tem uma boa relação com sua esposa, enfermeira do hospital, para que mais adiante se descubra que esse relacionamento desgastado acontece por causa de uma perda que ambos tiveram, mas que parece tê-la afetado mais; a estagiária preguiçosa e pouco voluntariosa; a garota grávida esperando para ser atendida. São coisas mundanas que acontecem todos os dias na vida da maioria das pessoas. Essa parte da carga dramática real conferida a esses personagens ajudam a desenvolver um senso de empatia através do qual fará com que se crie um “engajamento” que é muito importante em filmes assim. 

Boa parte das atitudes desse grupo de pessoas ajuda a tocar a trama adiante, e isso é bom para a fluidez, pois passa a sensação de progresso e de que essas personagens são importantes para a trama. Nesse ponto, há a cena na qual a estagiária ajuda a guiar Daniel e os outros três nos corredores subterrâneos do hospital. Se não fosse por ela, eles não teriam descoberto uma misteriosa escadaria. Portanto, dentro de suas limitações, o que se vê é o típico desse tipo de produção, e os personagens, embora nada brilhantes e um pouco estereotipados, possuem um nível de contribuição necessário para o desenvolvimento.

Os efeitos e maquiagem merecem ser parabenizados e ressaltados também. Apesar do baixo orçamento, os jovens diretores não pouparam esforços para entregar uma obra recheada de gore e nojeiras, além, é claro, de excelentes efeitos especiais referentes ao terceiro ato. É um trabalho de dar orgulho. Orgulho este, aliás, que Clive Barker deve ter sentido ao ver o “monstro” em carne viva que muito se assemelha a Frank de sua obra máxima. 

 
Os dois jovens diretores se propõem a homenagear alguns nomes importantes do gênero nesta que é sua primeira produção, e acertam em cheio ao conseguir fazê-lo de modo que soe natural, fazendo-o caminhar com suas próprias pernas sem que pareça apenas mais um emaranhado de referências avulsas. O horror lovecraftiano que permeia toda a obra e é enfatizado no terceiro ato é um elo com a atmosfera e referências ao cinema do mestre Carpenter, e tudo isso se liga bem com a proposta de fazer um horror cósmico e de seita cheio de mistério. Há uma boa dose, por exemplo, de “The Thing” aqui, encontrada principalmente nas pessoas que se transformam naquelas criaturas com “tentáculos” que saem pelos orifícios, remetendo às transformações apresentadas por Carpenter em sua ficção, além, claro, da própria trilha sonora.

Não é um filme, no entanto, com grandes pretensões, e se você é um daqueles que acompanhou parte da divulgação do longa à época, ou que apenas assistiu ao trailer, verá que os diretores entregam aquilo que prometem, sem mais nem menos. Claro, isso não é garantia de que vá agradar a todos, na verdade a proposta é bem o oposto disso. O longa chegou relativamente a dividir um pouco algumas opiniões até mesmo dentro dos apreciadores do gênero, alguns amaram – como é o meu caso –, outros já não gostaram tanto assim, embora ainda tenham gostado. Para uma melhor apreciação, o importante – que aliás, é o essencial a se fazer sempre e com todos os filmes – é tentar entender sua proposta e então comprá-la, deste modo, o filme sendo bem-feito do jeito que é, provavelmente irá agradar a uma boa parcela daqueles que o assistirem. 

Dito isso, “The Void” é um delicioso culto às entidades ancestrais cósmicas cuja trama claustrofobicamente bem amarrada faz homenagens sem que as deixe cair na repetição, sendo repleta de nojeiras e gore de excelente qualidade, além do fato de que levanta mais questionamentos do que respostas, abrindo um leque de opções para a mente daqueles que gostam de brincar de criar teorias e interpretações.


Sessão Dupla: Os Goonies (1985) e Conta Comigo (1986)

      Os Goonies (The Goonies, 1985) – Richard Donner Conta Comigo (Stand by Me, 1986) – Rob Reiner Dentre as várias combinações possíveis...