Direção: Ib Melchior
Roteiro: Ib Melchior, David L. Hewitt
Elenco: Preston Foster,
Philip Carey, Merry Anders, John Hoyt, Dennis Patrick, Joan Woodbury, Delores
Wells, Steve Franken, Berry Kroeger, Gloria Leslie, Molly Glessing, Peter
Strudwick, J. Edward McKinley, Margaret Seldeen, Forrest J. Ackerman
Gênero: Ficção Cientifica
Duração: 82 minutos
País: Estados Unidos
“Fleming descobriu a
penicilina por acidente. Roentgen, os raios X. E nós... O fim do mundo.”
Ib Melchior é um diretor com apenas dois filmes em sua curtíssima filmografia. O primeiro é o bom sci-fi "The Angry Red Planet", de 1959, e o outro, é este, "The Time Travelers", que veio 5 anos depois. Como roteirista, no entanto, sua filmografia se revela mais extensa. Coescreveu, por exemplo, "Live Fast, Die Young", em 1958, juntamente com Allen Rivkin; em 1961, o filme "Reptilicus" junto com Sidney W. Pink; em 1962, o filme "Journey to the Seventh Planet"; e em 1964, o filme "Robinson Crusoe on Mars"; dentre outros. O diretor que também assina o roteiro, trabalha nesta sua última empreitada, como o próprio título do filme sugere, o tema viagens através do tempo. É um filme B de baixíssimo orçamento extremamente divertido e muito bem dirigido, com cenas que possuem planos longos muito bem desenvolvidos e uma história que, se peca pelos clichês e por algumas conveniências, acerta na criatividade e fluidez.
Um grupo de cientistas, liderado pelo Dr. Erik von Steiner
(Preston Foster), está estudando os conceitos da viagem através do tempo no laboratório da universidade onde trabalha. Eles desenvolveram uma máquina capaz de realizar tais viagens, no entanto ainda está em fase primária de testes, testes estes, aliás, que não vem apresentando bons resultados já há algum tempo, para a tristeza dos cientistas. Sem desanimar, no entanto, o grupo continua com o experimento até que
Dr. Steve (Philip Carey) percebe que pode haver um meio de fazê-la funcionar,
mas é um meio um tanto quanto perigoso, pois, se falhar, a máquina pode sofrer danos irreversíveis. Sendo então a única maneira de conseguir êxito, Steve (um pouco inconsequente diante de tais fatos - ou não?) acaba pondo o plano em prática, forçando a máquina até o ponto em que acontece o óbvio. A máquina sofre alguns problemas que, por coincidência (!!!), acaba gerando um resultado bastante interessante e imprevisível naquele momento, eles são levados a 107 anos no futuro para descobrirem que o planeta foi
devastado e já não mais existe como antes. Essa imagem do futuro é projetada numa espécie de tela gigante fixada na parede do laboratório.
Um empregado da universidade, Danny (Steve Franken), bastante curioso, acaba percebendo que
aquilo é muito mais do que apenas uma imagem projetada na parede, aquilo é, literalmente, uma passagem. Óbvio que ele iria atravessá-la! Dentre todos os riscos, o pior é o de a passagem fechar deixando-o preso para sempre do outro lado. Eis então que um efeito
cascata ocorre, Dr. Steiner sai a sua procura, seguido por Steve e por Carol (Merry
Anders) (uma atitude bastante inteligente para um grupo de cientistas, não?). Claro que o resultado não poderia ser outro, a passagem, após todos terem a atravessado, enfraquece e desaparece, deixando-os presos do outro lado.
Perdidos, os três passam a ser perseguidos por
criaturas deformadas bastante hostis (criaturas estas que lá na frente descobre-se que são mutantes gerados a
partir da radiação deixada pelas guerras nucleares pelas quais a Terra havia passado).
Durante a fuga acabam encontrando Danny, que os ajuda a chegar a uma caverna no pé das colinas que os rodeiam. No entanto encontram outras criaturas tão feias quanto que os
encurralam. A tensão se estabelece por alguns instantes, pois, sem ter para onde ir, não há mais nada a se fazer. É então que súbitamente aparece a Dra. Gadra (Joan Woodbury), uma
das cientistas remanescentes do planeta que logo trata de acalmá-los para então explicar-lhes que aqueles são apenas seus inofensivos androides e que, apesar da aparência assustadora, não são nada perigosos.
Sem muitas delongas, os quatro são levados a conhecer seu líder, Dr. Varno (John Hoyt), que, numa conversa bastante franca, conta que ele e seu grupo, Dra. Gadra, Dr. Willard (Dennis Patrick) e cia possuem um projeto no qual estão trabalhando para poderem sair do planeta Terra devastado para outro planeta fora do sistema solar com condições parecidas com as que a Terra tinha anteriormente, completamente capaz de abrigar vida. Questionados sobre a Terra devastada, Varno bem brevemente explica que o próprio ser humano causou aquilo através de anos e mais anos de guerras nucleares.
Sem muitas delongas, os quatro são levados a conhecer seu líder, Dr. Varno (John Hoyt), que, numa conversa bastante franca, conta que ele e seu grupo, Dra. Gadra, Dr. Willard (Dennis Patrick) e cia possuem um projeto no qual estão trabalhando para poderem sair do planeta Terra devastado para outro planeta fora do sistema solar com condições parecidas com as que a Terra tinha anteriormente, completamente capaz de abrigar vida. Questionados sobre a Terra devastada, Varno bem brevemente explica que o próprio ser humano causou aquilo através de anos e mais anos de guerras nucleares.
Os filmes são um retrato de seu tempo. Alguns em maior grau, outros em menor. Na década de cinquenta e sessenta, principalmente na de cinquenta, uma forte tensão causada pela guerra fria colocava as pessoas sob uma grande incógnita. Enquanto passavam os dias temendo uma possível guerra causada pelas tensões entre Estados Unidos e União Soviética, muitos questionamentos vinham às suas mentes, sendo o principal o que poderia acontecer caso uma guerra dessas se concretizasse. Muitos filmes surgiram a partir disso, e em pleno 1964 também se pode usar dessa abordagem como uma interpretação. E aqui o diretor deixa bastante claro sua intenção de mostrar os efeitos maléficos e extremamente destrutivos que guerras, principalmente as nucleares, podem causar ao planeta e seus habitantes, deixando uma mensagem de alerta a todos.
Outro ponto interessante é com relação aos
mutantes, que estão em constante briga com os cientistas remanescentes do
planeta. Briga que tem durado anos a fio e que aparentemente não terá fim
enquanto ambos ainda estiverem no mesmo planeta. São vistos pelos olhos dos cientistas que restaram como os vilões, como algo a ser destruído. No entanto, algo
acontece lá para o meio do filme que coloca esses mutantes sob outra
perspectiva. Quando da invasão da base, um mutante é encontrado pela Dra. Carol
que, ao perceber que ele é o contrário do que todos diziam, mostrando-se um mutante inofensivo e assustado,
tenta então ajudá-lo, o que causa um pequeno confronto contra os outros cientistas da base que insistem em
dizer que ele deve ser exterminado, pois, mesmo sendo até mesmo entre os
mutantes um ser de pouca relevância, por ser diferente dos outros, ainda assim é um ser deles e merece ser
morto, afinal ele não pertence àquele grupo e veio de fora. Carol é a primeira a questionar tais atitudes, afinal, apesar de mutantes, ela ainda os vê como seres humanos. A fato de a radiação tê-los deformando não muda este fato. Tão prontamente ganha respaldo dos
amigos que dizem “se ele precisa ser
morto por ter vindo de fora, seguindo esse raciocínio, então nós somos os
próximos na lista?”. É aqui que o público é pela primeira vez levado a se questionar sobre quem de fato são os verdadeiros vilões.
Em meio a tudo isso, Danny, o ajudante dos cientistas é o
alívio cômico que infelizmente não se mostra funcional à história. Percebe-se que está ali apenas por dois motivos, para ser o desencadeador dos acontecimentos
– nada do que se vê em tela teria acontecido se o imbecil não tivesse sido
imprudente o bastante para atravessar o portal – e ser engraçadinho em momentos
pontuais com o intuito, infelizmente falho, de quebrar a tensão. São poucos esses momentos, mas esse pouco não é bom o suficiente como o diretor talvez tenha imagino que poderia ser e por causa disso acaba atrapalhando. Esse personagem, aliás, protagoniza um dos momentos mais constrangedores
de todo o filme, quando se vê sob o interesse de uma das mulheres do setor de
construção e manutenção dos androides. Há inclusive uma quebra da quarta parede
totalmente desnecessária que está ali apenas para que o infeliz solte sua infame piadinha vergonhosamente
sem graça. Não serve a um propósito narrativo bem definido e definitivamente não funciona, principalmente porque se destoa daquilo já estabelecido até então.
Os mutantes, por sua vez, não aparecem muito. Após aquele
início, eles demoram a voltar à cena. O senso de perigo não se instala por completo, pois a ideia de que se tem no decorrer da trama é que os problemas parecem não
demorar a resolver-se. Sabe-se que os mutantes podem atacar a qualquer momento,
no entanto se sabe, também, que aquele grupo de cientistas está preparado para qualquer eventualidade, afinal há muitos androides por lá que podem ajudar e foram construídos justamente para esse fim. Mesmo que não sejam muitos, ainda assim são suficientes para oferecerem a ajuda necessária. O problema
maior é que, se algo acontecer à missão, eles não mais poderão ir até Alfa Centauro (o planeta para o qual pretendem mudar-se) e
consequentemente morrerão. É baseado nisso que o diretor tenta elevar a tensão nessa segunda metade.
O problema maior, por parte dos viajantes do tempo, encontra-se em Willard. O Dr. já deixou bem claro desde o início que não gostou deles quatro, uma antipatia que o roteiro não faz muita questão de explicar. Aproximando-se do fim, um grande evento ocorre colocando sob um grande risco toda a missão, entregando uma surpresa interessante e completamente inesperada lá no seu final. É simples, como todo o filme o é, mas que funciona por ser intrigante e instigante, além de dar ao final um sabor gostoso de que o filme valeu a pena. Àqueles que gostam de ler e pesquisar sobre os mecanismos do universo provavelmente se sentirão instigados. Surpresas como esta, desde que bem desenvolvidas, são muito bem vindas.
O problema maior, por parte dos viajantes do tempo, encontra-se em Willard. O Dr. já deixou bem claro desde o início que não gostou deles quatro, uma antipatia que o roteiro não faz muita questão de explicar. Aproximando-se do fim, um grande evento ocorre colocando sob um grande risco toda a missão, entregando uma surpresa interessante e completamente inesperada lá no seu final. É simples, como todo o filme o é, mas que funciona por ser intrigante e instigante, além de dar ao final um sabor gostoso de que o filme valeu a pena. Àqueles que gostam de ler e pesquisar sobre os mecanismos do universo provavelmente se sentirão instigados. Surpresas como esta, desde que bem desenvolvidas, são muito bem vindas.
O elenco, por sua vez, está muito bem e ninguém deixa a desejar dentro do que se espera de um filme B de ficção científica de baixíssimo orçamento. Na cena onde Carol encontra o mutante abandonado escondido dentro da base e que quase foi morto por Willard – só não foi morto por causa dela própria e de seus amigos, como foi dito –, é interessante por conta de uma curiosidade; aquele ator, extremamente desconhecido, é Peter Strudwick. O fato de ser desconhecido é explicável, este foi o primeiro de seus dois únicos papeis no cinema, o segundo e último veio quase duas décadas depois, em 1981, quando participou do documentário "Being Different". Strudwick nasceu com deformidades nas mãos e sem pés devido sua mãe ter contraído rubéola durante a gravidez. O próprio foi à casa do diretor e roteirista pedir um papel no filme. Esse papel e sua breve aparição foram escritas especialmente para ele, após a conversa que ambos tiveram.
Além de tudo, "The Time Travelers" foi um importante filme à época, pois influenciou, em 1966, a série "The Time Tunnel ", que fez certo sucesso nas TVs durante os anos de 66 e 67, mas que teve apenas uma primeira temporada; e também por ter influenciado o filme "Jornada ao Centro do Tempo (Journey to the Center of Time)", em 67, com o ator Scott Brady, que nos anos 80 viria a tornar-se um grande conhecido dos fãs de terror como o Xerife Frank, de "Gremlins".
A produção do longa começou em 1963 com o título provisório de "Time Trap", no entanto o orçamento baixo de aproximadamente 250 mil não era o bastante para suportar toda a linha do tempo complexa pela qual a história se desenrola. Ainda assim a película foi muito elogiada pela forma como o diretor usou os recursos necessários sem estourá-los. Os efeitos, apesar do baixo orçamento, são muito bons, com portais que se abrem e se fecham, explosões e tudo o mais. É o que faz parte daquela máxima dentro do cinema, criatividade vale mais do que um orçamento inchado.
Sendo um típico filme B de ficção científica, é evidente que os roteiristas não tratariam fielmente as leis da física como elas realmente são; é óbvio que existirão erros e liberdades criativas em filmes assim. Quem assiste a um típico sci-fi B, principalmente os da década de cinquenta e sessenta, sabe disso. Evidente que tudo isso se torna aceitável, uma vez que são liberdades criativas que trabalham em função da história e não contra ela. Imagine só se todos os sci-fis produzidos resolvessem obedecer a risca todas as leis da física? Esmagadora maioria dos filmes não seriam os clássicos que são, alguns sequer existiriam. É necessário, neste ponto, observar a proposta de cada filme e interpretá-la dentro daquele determinado contesto estabelecido. Um filme como este não é como os novos "Gravidade", de Alfonso Cuarón, e "Interestelar", de Christopher Nolan, que têm como proposta justamente o oposto, ou seja, retratar fielmente todas as leis da física que conhecemos. Tendo isso em mente, é engraçado notar que, quando citam a viagem a Alfa Centauro, dizem que a distância até lá é de 25 mil bilhões de milhas (usando o sistema métrico americano), sendo que a real distância é de 4,37 anos-luz do nosso sistema solar, o que equivaleria a aproximadamente 25 trilhões de milhas. Uma falha, lógico, que não chega a comprometer em hipótese alguma.
"Passagem para o Futuro" é, enfim, um divertidíssimo exemplar que agrada pela história em si bastante instigante – viagens através do tempo sempre foram algo muito interessante de se ver nos filmes –, pela forma como o diretor conseguiu contornar o orçamento minguado e entregar ótimos efeitos especiais que, vale lembrar, não decepcionam, e também pelo excelente e inesperado final... É um conjunto de fatores que somados fazem desta uma película a ser descoberta e redescoberta. Merecia ter ganhado uma edição caprichada em DVD e Blu-ray.