Diretor: Michael Anderson.
Roteirista: Luciano Vincenzoni, Sergio Donati.
Elenco: Richard Harris, Charlotte Rampling, Will Sampson, Bo Derek, Keenan Wynn, Robert Carradine, Scott Walker, Peter Hooten, Wayne Heffley.
Gênero: Horror/Eco-horror.
País: Estados Unidos.
Quando comecei a pensar na possibilidade de rever este filme, ficava imaginando como seria minha reação a um dos clássicos da minha infância e adolescência. Já fazia tanto tempo desde a última vez que era inevitável pensar como tal revisão afetaria minha opinião e meus sentimentos para com essa obra tão importante para mim. Felizmente os sentimentos ainda continuam o mesmo, uma nostalgia que bate no peito e ainda faz-me lembrar das boas sessões que tinha quando era moleque nas tardes após voltar da escola. O que mudou, no entanto, foi minha opinião, que infelizmente já não é mais a mesma após essa visita.
A História gira em torno de um
pescador de tubarões, Capitão Nolan (Richard Harris) e sua tripulação, que resolvem expandir o
negócio caçando orcas. As coisas então começam a degringolar quando passam a ser
perseguidos, após uma caçada malsucedida, por uma orca
vingativa que faz questão de tentar matar um por um.
Após a gênese do eco-horror com “Tubarão” (Jaws, 1975), muitas
imitações, plágios e filmes inspirados neste vieram a seguir. O subgênero que possui
alguns clássicos cult como “Grizzly, a Fera Assassina” (Grizzly, 1976), “A
Maldição das Aranhas” (Kingdom of the Spiders, 1977), “Piranha” (1978) e este próprio, vieram para ajudar a consolidar histórias sobre animais assassinos numa época em que alguns filmes bastante interessantes - embora sejam cópia da cópia da cópia - sobre o tema eram produzidos. Na década de setenta e oitenta, no entanto, eram em sua maioria genéricos baratos do seminal “Jaws”. E aqui, aliás, a coisa não é tão diferente."Orca" surgiu como espécie de derivado com uma história muito parecida cujo intuito foi tentar trazer um diferencial com relação ao tipo animal assassino. Já existiam filmes com aranhas, ursos, tubarões, coelhos, mas com orcas, não. Foi algo bastante interessante trazer aos cinemas um animal como vilão cujo nome popular carrega a palavra "assassina". Tinha pano para manga. Infelizmente foram panos furtados da manga de algo já feito anteriormente. Um ponto a favor com relação a trama é que ela é conduzida por um suspense que tem como um de seus alicerces a superstição do povo local, que acha que esses animais possuem atributos que, de alguma forma, são capazes de trazer azar àquele povoado caso alguém os faça mal, podendo inclusive atrapalhar a pescaria daqueles que dependem disso afastando os peixes da região, como se possuíssem consciência para isso. É posto que as orcas talvez possuam um cérebro e inteligência superiores aos do ser humano, e que, de uma forma ou de outra, são capazes de fazer coisas extremamente complexas e incompreensíveis para nós. Dentro disso, o diretor consegue até certo ponto conduzir as cenas de modo a deixar esse suspense em um nível relativamente alto por meio dessa sugestividade (não tão sugestiva assim, como verá adiante), ao mostrar a orca tomando certas atitudes que outros animais com o cérebro não tão complexo quanto talvez não tomariam. Essa sugestividade, aliás, é bastante frágil, uma vez que, por mais que o diretor queira que o espectador decida por si mesmo, ele de certa forma acaba manipulando determinadas ações de modo a já deixar direcionada a conclusão que ele quer que você chegue. Ou seja, a sugestividade só ocorre quando é conveniente. Apesar desses momentos conflitantes no decorrer da trama, é interessante ver e pensar se tudo aquilo que está acontecendo - quando lhe é permitido interpretar - está sendo minuciosamente calculado pelo bicho ou não.
Por outro lado, mesmo com os clichês abundantes (como o
homem que cai do barco justo na hora em que o animal aparece, por exemplo,
num show de obviedade) e personagens que não possuem um mínimo de
desenvolvimento (como um que sai de cena para não mais dar satisfação), pode-se
dizer que o elenco se sai bem. Richard Harris é o que tem o maior arco e o que
consegue entregar mais de sua interpretação por ter tido mais tempo em cena. Will
Sampson, que interpreta o indígena Umilak, embora apareça de forma discreta e
infelizmente subdesenvolvida, contribui com a parte “sobrenatural” da trama ao
incrementar as histórias e costumes de seus antepassados relacionados ao animal.
Já Bo Derek, que interpreta Annie, é um dos pontos fracos, aparecendo pouco e
sem ter muito a contribuir, no entanto protagoniza uma das melhores cenas do
filme. E como não falar de Charlotte Rampling? A atriz indicada ao Oscar pelo filme
“45 Anos” (45 Years, 2015) é a segunda com maior tempo em cena, possuindo um
arco também maior do que os outros, o que lhe permite entregar uma das melhores atuações do
filme.
Os efeitos práticos juntos com a
excelente trilha do Maestro Morricone (que sem dúvida é a melhor coisa do filme) são outros pontos altos que merecem ser
ressaltados, e poderiam inclusive ter elevado a obra a outro patamar caso não houvesse tanta fragilidade no roteiro e na direção. Muito do que se vê aqui, aliás, é muito parecido com os
acontecimentos da obra do Spielberg, deixando claro que um dos objetivos da produção
era capitalizar em cima do sucesso estrondoso que foi “Jaws”, tornando o filme em um genérico caça-níquel um tanto quanto cara de pau. O fim do filme, por exemplo, é muito parecido com o fim do outro, com a tripulação indo de barco à procura do animal passando por todo tipo de perigo similar ao que Brody, Quint e seus parceiros passaram.
No entanto, mesmo com todos esses problemas e a picaretagem toda, “Orca”
ainda é capaz de deixar os fãs do gênero (leia-se fãs de podreiras - embora o filme não tenha ares de podreira descarada) tensos em alguns bons momentos de
suspense e de ataque da criatura, e, embora tenha caído no meu conceito como obra cinematográfica, ainda
conseguiu me deixar atento durante os seus 92 minutos de duração, ainda desencadeando bons sentimentos. É um filme cujo qual tenho enorme carinho principalmente pelas boas lembranças das sessões que tinha durante a tarde. Com certeza irei revisitá-lo eventualmente.