Já faz algumas semanas, algo próximo de um mês, que eu tenho ouvido bastante os álbuns clássicos da banda, desde o início com a obra-prima que é o debute, até o excelente, e um dos meus preferidos, “Impact is Imminent” (1990). Digo isso não para tentar embasar minha opinião no fato de que escuto muito a banda. Ouvir muito ou pouco uma banda não é, necessariamente, critério para dizer a qualidade de seus discos. Mas preferi, no entanto, começar desse jeito pelo seguinte, Steve “Zetro” Souza disse, muito recentemente numa entrevista, que o novo disco, “Persona Non Grata” (2021), é o melhor disco deles já feito até então. É uma afirmação um tanto quanto... Polêmica, talvez? Se parar para olhar principalmente para esses álbuns de início de carreira – e tantos outros que vieram depois –, fica difícil de acreditar em tal afirmação. Então, foi a partir daí que resolvi pausar minhas novas incursões pelos discos clássicos para, enfim, ouvir o tão bem falado lançamento.
O álbum abre com a faixa homônima e já nos mostra que eles não estão aqui pra brincadeira. A faixa é um soco no ouvido do começo ao fim, mantendo um ritmo agressivo de fazer qualquer um ficar de boca aberta! “Persona Non Grata” significa alguém que não é bem-vindo em um determinado local, e combina muito bem com a proposta do álbum, que é expor e criticar as sujeiras da humanidade, desde a hipocrisia dos políticos até a hipocrisia dos religiosos e das religiões etc. Então chega a segunda faixa, “R.E.M.F.”, igualmente agressiva e com riffs que lembram os usados em álbuns dos anos 80, como algumas músicas do “Pleasures of the Flesh” e até mesmo algumas do “Impact is Imminent”. Com uma letra que questiona, durante as guerras, as decisões daqueles - incluindo decisões políticas -, que não estão na linha de frente (“But if gunfire were near, would they volunteer?”), muito pelo contrário, estão seguros bem longe dali, em seus escritórios. Esta segunda faixa nos mostra o quão afiados eles ainda estão ao compor suas letras, com seus riffs e seus solos, todos destruidores! “Slipping into Madness” fala sobre o uso abusivo de drogas, do seu grande comércio e de muitos jovens que acabam tirando a própria vida quando as drogas não mais camuflam suas depressões (“The opiated generation, Now a poster child for suicide, The blind consumption, Can be one's demise, As depressions in a catatonic state, Now in a coma, And breathing through a tube”). Em “Elitist” a crítica é, como o próprio nome sugere, sobre os egocêntricos, egoístas e narcisistas que manipulam e usam as pessoas para seus próprios ganhos (“Now I've used every friend I've ever had, And it doesn't look like I'm stopping there!”). “Prescribing Horror”, a um ritmo mais lento e cadenciado, embora ainda pesado, fala sobre a droga Talidomida, que era prescrita às grávidas no final da década de 50 para evitar enjoos e outros sintomas. O que parecia ser um remédio “milagroso” pelo seu excelente efeito em tais sintomas (ele combatia inclusive vários tipos de dores crônicas em vários tipos de pacientes), mostrou-se desastroso quando os bebês começaram a nascer com má formação nos membros. “The Beatings Will Continue (Until Morale Improves)”, junto da segunda faixa, traz outro dos meus riffs preferidos do álbum, riffs destruidores como um guerreiro viking cavalgando ao encontro de seu inimigo, prestes a arrancar sua cabeça com seu machado.
A segunda parte do disco abre com “The Years of Death and Dying” e “Clickbait”. A primeira, é interessante notar, traz referências muito legais em sua letra, referências que vão desde Bowie, passando por Queen e Rush, chegando em Slayer e mais. É bom ficar atento a esses detalhes que deixam o álbum ainda melhor. E esta última, por sua vez, vale dar um destaque, pois fala de um assunto muito importante nos dias de hoje, que são as fake News e jornais cujas manchetes estão cheias de mentiras convenientes para atrair o grande público não pensante (“False headlines full of lies, To keep us entertained”), sem compromisso nenhum com a verdade. É uma faixa que reforça o engajamento da banda com tais questões políticas, mesmo que cada um ali tenha suas próprias convicções. Aliás, interessante notar que, numa entrevista recente, o líder e fundador da banda, Gary Holt, disse que os membros têm opiniões políticas diferentes e que isso não os impede de serem amigos. As letras do álbum mostram que dá para chegar num lugar comum. Mas para além desse lugar comum, essa informação dada pelo líder da banda mostra que dá, sim, para as pessoas serem amigas e ainda assim terem posições políticas diferentes. Uma coisa não pode e não deve anular a outra. A nona faixa “Cosa del Pantano” é uma introdução para a faixa seguir, “Lunatic-Liar-Lord”, que traz alguns momentos um pouco mais compassados misturados a agressividade e solos inspiradíssimos. É uma crítica mordaz às religiões e os conflitos causados por elas. “The Fires of Division” e “Antiseed”, penúltima e última faixas, reforçam que todos na banda estão em grande fase, pois encerram o álbum de forma extremamente coesa, com esta última música entregando uma mistura de momentos um pouco mais lentos e um pouco melódicos com a velocidade e agressividade já determinados até aqui.
Acredito que “Persona Non Grata” não se mostra o melhor da banda, mas um dos melhores com certeza. Talvez o melhor em vinte anos. Os caras continuam ótimos, e dessas grandes bandas do gênero, é uma das que ainda está muito enraizada no Underground. Não há espaço, neste disco, para modernidades e nem para artifícios de massa pra atrair um público maior dentro do Metal. Aqui o disco é o que é. É um som pesado, cru e direto como deve ser. É um som que vai deixar feliz tanto os fãs do gênero como um todo, quanto aqueles (principalmente, talvez) que amam o Thrash dos anos 80.
Nota: 9
País: Estados Unidos.
Locação: San Francisco (Bay Area), California
Tipo: Álbum.
Lançamento: 19 de novembro, 2021.
Gravadora: Nuclear Blast.
Gênero: Thrash Metal.
Banda:
· Tom Hunting
· Gary Holt
· Steve "Zetro" Souza
· Jack Gibson
· Lee Altus
1. |
Persona Non Grata |
07:30 |
|
R.E.M.F. |
04:22 |
|
|
Slipping into Madness |
05:33 |
|
|
Elitist |
03:58 |
|
|
Prescribing Horror |
05:09 |
|
|
The Beatings Will Continue (Until Morale Improves) |
03:01 |
|
|
The Years of Death and Dying |
05:22 |
|
|
Clickbait |
04:31 |
|
|
Cosa del Pantano |
01:13 |
|
|
Lunatic-Liar-Lord |
07:59 |
|
|
The Fires of Division |
05:23 |
|
|
Antiseed |
06:17 |
|
|
|
01:00:18 |