sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Iceman (Der Mann aus dem Eis, 2017)




Diretor: Felix Randau.
Roteirista: Felix Randau.
Elenco: Jürgen Vogel, Susanne Wuest, André Hennicke, Sabin Tambrea, Franco Nero, Violetta Schurawlow.
Gênero: Aventura/Drama
País: Alemanha / Itália / Áustria  

“Iceman”, ou “Der Mann aus dem Eis” em seu título original, traz uma premissa simples, porém fascinante. Conta a história da múmia europeia mais bem preservada que se tem conhecimento, acidentalmente encontrada no ano de 1991 nos Alpes entre Itália e Áustria. Tão bem preservada, aliás, que se acreditou de início tratar-se do corpo de algum alpinista morto há poucos invernos atrás.  A polícia de Munique, na Alemanha, chegou a investigar o que seria o assassinato de Ötzi (nome com o qual batizaram a múmia) descobrindo que o homem foi ferido na mão e nas costas por uma flecha, ficando nos Alpes italianos para ser soterrado pela neve junto aos seus pertences. A morte, de acordo com os investigadores, foi devida a hemorragia causada pela flecha que o atingiu no ombro esquerdo, e o que motivou o assassinato foi muito provavelmente uma vingança, uma vez que o corpo foi deixado junto de tudo o que carregava. Estudos posteriores constataram que a múmia data de 5300 anos atrás.

O diretor e também roteirista alemão, Felix Randau, conta a história do nosso herói em uma trama de vingança com fantásticas cenas de batalha em meio a lindos planos da majestosa natureza da região. Kelab (nome dado ao personagem na trama; os motivos que levaram o diretor a não levar para a tela grande o nome original são desconhecidos por mim) sai para caçar no que parece ser um dia normal, porém, ao voltar, percebe que sua tribo foi completamente dizimada por um grupo rival que, além de matar a todos, também rouba seu tesouro, chamado de Tineka. O que se vê a seguir, portanto, é uma história de vingança no qual Kelab vai atrás do grupo com um bebê (único sobrevivente da investida) e uma cabra, que ele utiliza para amamentar o recém-nascido.

O primeiro ato consiste em apresentar os personagens mostrando o papel de Kelab naquela comunidade. Além de ser o provedor – é ele quem sai para caçar –, também atua como uma espécie de xamã, o que pode ser observado no ritual feito para a mulher que acaba morrendo ao dar a luz ao bebê que ele carrega após os ataques. O ataque, aliás, é lindamente bem dirigido, com uma longa cena em plano sequência que entra e sai das casas e rodeia os personagens para mostrar absolutamente toda a investida em detalhes. E a violência mostrada é tão palpável que por pouco o cheiro de sangue não atravessa a tela da televisão. O espectador não é poupado durante o filme todo inclusive. Mesmo que essa violência se mostre pontual, quando ela acontece, acontece de maneira a mostrar com detalhes os ataques. Como o filme acompanha mesmo apenas Kelab, suas habilidades de caça não são mostradas em detalhe num primeiro momento, servindo apenas como ponto de partida para serem desenvolvidas no segundo ato. É aqui que ele realmente mostra do que sabe, tanto ao perseguir seus inimigos quanto nos embates corpo a corpo. A trilha sonora contribui muito nesses momentos, pois muitas das vezes se apresenta como a música tribal muito semelhante ao que era feito na época, e isso ajuda muito quem está assistindo a imergir nesse hostil mundo neolítico.

No terceiro ato ocorre o já conhecido embate que o deixou ferido para morrer na montanha, com o diretor mostrando de forma bastante verossímil o que se acredita que tenha acontecido por meio das evidências coletadas pelos pesquisadores. Sua relação com o tesouro roubado, a propósito, ganha inclusive um desfecho bastante interessante nesta última parte, com o personagem agindo de forma curiosa ao objeto, dando até mesmo um espaço para interpretação. Apesar da simplicidade da trama, tudo o que foi retratado condiz com as vidas desses caçadores, e percebe-se que a luta pela sobrevivência vai muito além do que se acredita ser o simples dessa época ancestral. A relação de quem é bom e de quem é mau, nestas condições, talvez dependa da perspectiva. De fato não está longe da realidade desses povos. Portanto, a ideia de pegar os estudos feitos com a múmia, com as informações que se obtiveram a partir dos estudos que consequentemente proporcionaram saber como talvez tenha sido sua vida até o momento de sua morte, não apenas se mostra excelente, como fascinante! 




quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Gwen (2018)



Diretor: William McGregor.
Roteirista: William McGregor.
Elenco: Eleanor Worthington-Cox, Maxine Peake, Richard Harrington, Mark Lewis Jones, Kobna Holdbrook-Smith, Richard Elfyn, Gwion Glyn, Jodie Innes.
Gênero: Drama/Horror.
País: Reino Unido. 


Primeiro projeto para o cinema do diretor e roteirista inglês William McGregor, “Gwen” é um filme de baixo orçamento (estimado em dois milhões de dólares) que conta a história da personagem homônima e sua família, sua irmã caçula Mari (Jodie Innes) e a matriarca Elen (Maxine Peake), que vivem sozinhas durante a revolução industrial numa casa isolada nas montanhas de Gales, na região rural do país, enquanto o marido e figura paterna não retorna da guerra.  A família vive momentos turbulentos enquanto pragas assolam a região, além da pressão exercida pelo dono de uma pedreira, que está em vias de expansão até aquela região, para que lhe vendam a casa.

O filme já dita o ritmo logo nos primeiros momentos, com o diretor estreante comandando a câmera com movimentos lentos que convidativa e cuidadosamente caminham entre os cenários, sugestivamente mostrando apenas o necessário de modo que contribua para que o espectador colha as informações necessárias para montar o quebra-cabeça, de uma maneira que lá no terceiro ato seja recompensado com o que de fato está acontecendo naquele meio. O suspense crescente se deve muito a isso e é reforçado com o fato de que a trama acontece sob o ponto de vista da jovem. Assim, é interessante notar o cuidado que o diretor e roteirista tem de mostrar apenas o que a garota consegue ver e ouvir dentro daquele meio em que está inserida, como por exemplo no momento em que a mãe conversa com um homem, na saída da igreja, e o espectador apenas consegue ouvir a conversa enquanto a garota ainda está por perto. Conforme ela se afasta e consequentemente não consegue mais ouvi-los, o espectador também não os ouve. Ela dá as costas e lentamente sai de perto enquanto a imagem dos dois conversando na porta da igreja ligeiramente se desfoca e sai do ângulo da câmera. Isso tudo ajuda no desenvolvimento do tom enigmático da história, pois são momentos importantes da trama que poderiam dar informações cruciais sobre o que está acontecendo, mas não dá por causa da acertada escolha narrativa de mostrar os acontecimentos sob a ótica da filha e não da mãe.

As informações dadas pelo roteiro, aliás, são sutilmente discretas e variam desde informações básicas dentro da própria história, como quando alguém é acusado de roubar um remédio, e isso acaba acarretando algumas ações esclarecedoras dentro da trama, à linguagem utilizada, quando, por sua vez, ao mostrar uma imagem distorcida e desfocada através do vidro, ajuda a mostrar o possível desencadeador daqueles eventos, embora ainda não se saiba como e por quê. O maior pecado, no entanto, é um ou outro momento desnecessariamente expositivo que, assim como um jumpscare, que embora efetivo, destoa daquilo que tinha sido construído até ali. Na verdade o terceiro ato quase todo assume um tom mais esclarecedor, deixando de lado a sugestividade para dar lugar às informações mais claras para não deixar dúvidas sobre o que está ocorrendo dentro daquela família. O tom atmosférico criado pelos movimentos lentos de câmera, por outro lado, são corroborados pela trilha sonora lenta e pesada igualmente atmosférica que também ajuda na criação da tensão, passando sempre a sensação de perigo. O fato de a trilha estar sempre presente ajuda a passar a ideia de um perigo iminente, colaborando com o senso de alerta, mostrando-se como um grande acerto.

Por fim, o terceiro ato se encerra de forma extremamente pessimista ao mostrar aonde de fato reside o verdadeiro horror. É um horror palpável do qual não se pode escapar, é implacável e violento, especialmente violento contra aqueles mais fracos que não podem ou conseguem abrir mão daquilo que possuem. E a trajetória da jovem Gwen e sua mãe demonstra bem isso tudo.




terça-feira, 9 de julho de 2019

Orca: A Baleia Assassina (Orca, 1977)



Diretor: Michael Anderson.
Roteirista: Luciano Vincenzoni, Sergio Donati.
Elenco: Richard Harris, Charlotte Rampling, Will Sampson, Bo Derek, Keenan Wynn, Robert Carradine, Scott Walker, Peter Hooten, Wayne Heffley.
Gênero: Horror/Eco-horror.
País: Estados Unidos. 

Quando comecei a pensar na possibilidade de rever este filme, ficava imaginando como seria minha reação a um dos clássicos da minha infância e adolescência. Já fazia tanto tempo desde a última vez que era inevitável pensar como tal revisão afetaria minha opinião e meus sentimentos para com essa obra tão importante para mim. Felizmente os sentimentos ainda continuam o mesmo, uma nostalgia que bate no peito e ainda faz-me lembrar das boas sessões que tinha quando era moleque nas tardes após voltar da escola. O que mudou, no entanto, foi minha opinião, que infelizmente já não é mais a mesma após essa visita.  
A História gira em torno de um pescador de tubarões, Capitão Nolan (Richard Harris) e sua tripulação, que resolvem expandir o negócio caçando orcas. As coisas então começam a degringolar quando passam a ser perseguidos, após uma caçada malsucedida, por uma orca vingativa que faz questão de tentar matar um por um.

 
Após a gênese do eco-horror com “Tubarão” (Jaws, 1975), muitas imitações, plágios e filmes inspirados neste vieram a seguir. O subgênero que possui alguns clássicos cult como “Grizzly, a Fera Assassina” (Grizzly, 1976), “A Maldição das Aranhas” (Kingdom of the Spiders, 1977), “Piranha” (1978) e este próprio, vieram para ajudar a consolidar histórias sobre animais assassinos numa época em que alguns filmes bastante interessantes - embora sejam cópia da cópia da cópia - sobre o tema eram produzidos. Na década de setenta e oitenta, no entanto, eram em sua maioria genéricos baratos do seminal “Jaws”. E aqui, aliás, a coisa não é tão diferente."Orca" surgiu como espécie de derivado com uma história muito parecida cujo intuito foi tentar trazer um diferencial com relação ao tipo animal assassino. Já existiam filmes com aranhas, ursos, tubarões, coelhos, mas com orcas, não. Foi algo bastante interessante trazer aos cinemas um animal como vilão cujo nome popular carrega a palavra "assassina". Tinha pano para manga. Infelizmente foram panos furtados da manga de algo já feito anteriormente.

Um ponto a favor com relação a trama é que ela é conduzida por um suspense que tem como um de seus alicerces a superstição do povo local, que acha que esses animais possuem atributos que, de alguma forma, são capazes de trazer azar àquele povoado caso alguém os faça mal, podendo inclusive atrapalhar a pescaria daqueles que dependem disso afastando os peixes da região, como se possuíssem consciência para isso. É posto que as orcas talvez possuam um cérebro e inteligência superiores aos do ser humano, e que, de uma forma ou de outra, são capazes de fazer coisas extremamente complexas e incompreensíveis para nós. Dentro disso, o diretor consegue até certo ponto conduzir as cenas de modo a deixar esse suspense em um nível relativamente alto por meio dessa sugestividade (não tão sugestiva assim, como verá adiante), ao mostrar a orca tomando certas atitudes que outros animais com o cérebro não tão complexo quanto talvez não tomariam. Essa sugestividade, aliás, é bastante frágil, uma vez que, por mais que o diretor queira que o espectador decida por si mesmo, ele de certa forma acaba manipulando determinadas ações de modo a já deixar direcionada a conclusão que ele quer que você chegue. Ou seja, a sugestividade só ocorre quando é conveniente. Apesar desses momentos conflitantes no decorrer da trama, é interessante ver e pensar se tudo aquilo que está acontecendo - quando lhe é permitido interpretar - está sendo minuciosamente calculado pelo bicho ou não.

 
Por outro lado, mesmo com os clichês abundantes (como o homem que cai do barco justo na hora em que o animal aparece, por exemplo, num show de obviedade) e personagens que não possuem um mínimo de desenvolvimento (como um que sai de cena para não mais dar satisfação), pode-se dizer que o elenco se sai bem. Richard Harris é o que tem o maior arco e o que consegue entregar mais de sua interpretação por ter tido mais tempo em cena. Will Sampson, que interpreta o indígena Umilak, embora apareça de forma discreta e infelizmente subdesenvolvida, contribui com a parte “sobrenatural” da trama ao incrementar as histórias e costumes de seus antepassados relacionados ao animal. Já Bo Derek, que interpreta Annie, é um dos pontos fracos, aparecendo pouco e sem ter muito a contribuir, no entanto protagoniza uma das melhores cenas do filme. E como não falar de Charlotte Rampling? A atriz indicada ao Oscar pelo filme “45 Anos” (45 Years, 2015) é a segunda com maior tempo em cena, possuindo um arco também maior do que os outros, o que lhe permite entregar uma das melhores atuações do filme.

Os efeitos práticos juntos com a excelente trilha do Maestro Morricone (que sem dúvida é a melhor coisa do filme) são outros pontos altos que merecem ser ressaltados, e poderiam inclusive ter elevado a obra a outro patamar caso não houvesse tanta fragilidade no roteiro e na direção. Muito do que se vê aqui, aliás, é muito parecido com os acontecimentos da obra do Spielberg, deixando claro que um dos objetivos da produção era capitalizar em cima do sucesso estrondoso que foi “Jaws”, tornando o filme em um genérico caça-níquel um tanto quanto cara de pau. O fim do filme, por exemplo, é muito parecido com o fim do outro, com a tripulação indo de barco à procura do animal passando por todo tipo de perigo similar ao que Brody, Quint e seus parceiros passaram.

No entanto, mesmo com todos esses problemas e a picaretagem toda, “Orca” ainda é capaz de deixar os fãs do gênero (leia-se fãs de podreiras - embora o filme não tenha ares de podreira descarada) tensos em alguns bons momentos de suspense e de ataque da criatura, e, embora tenha caído no meu conceito como obra cinematográfica, ainda conseguiu me deixar atento durante os seus 92 minutos de duração, ainda desencadeando bons sentimentos. É um filme cujo qual tenho enorme carinho principalmente pelas boas lembranças das sessões que tinha durante a tarde. Com certeza irei revisitá-lo eventualmente.   



Sessão Dupla: Os Goonies (1985) e Conta Comigo (1986)

      Os Goonies (The Goonies, 1985) – Richard Donner Conta Comigo (Stand by Me, 1986) – Rob Reiner Dentre as várias combinações possíveis...