quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Exodus - Persona Non Grata (2021)

 

Já faz algumas semanas, algo próximo de um mês, que eu tenho ouvido bastante os álbuns clássicos da banda, desde o início com a obra-prima que é o debute, até o excelente, e um dos meus preferidos, “Impact is Imminent” (1990). Digo isso não para tentar embasar minha opinião no fato de que escuto muito a banda. Ouvir muito ou pouco uma banda não é, necessariamente, critério para dizer a qualidade de seus discos. Mas preferi, no entanto, começar desse jeito pelo seguinte, Steve “Zetro” Souza disse, muito recentemente numa entrevista, que o novo disco, “Persona Non Grata” (2021), é o melhor disco deles já feito até então. É uma afirmação um tanto quanto... Polêmica, talvez? Se parar para olhar principalmente para esses álbuns de início de carreira – e tantos outros que vieram depois –, fica difícil de acreditar em tal afirmação. Então, foi a partir daí que resolvi pausar minhas novas incursões pelos discos clássicos para, enfim, ouvir o tão bem falado lançamento.

O álbum abre com a faixa homônima e já nos mostra que eles não estão aqui pra brincadeira. A faixa é um soco no ouvido do começo ao fim, mantendo um ritmo agressivo de fazer qualquer um ficar de boca aberta! “Persona Non Grata” significa alguém que não é bem-vindo em um determinado local, e combina muito bem com a proposta do álbum, que é expor e criticar as sujeiras da humanidade, desde a hipocrisia dos políticos até a hipocrisia dos religiosos e das religiões etc. Então chega a segunda faixa, “R.E.M.F.”, igualmente agressiva e com riffs que lembram os usados em álbuns dos anos 80, como algumas músicas do “Pleasures of the Flesh” e até mesmo algumas do “Impact is Imminent”. Com uma letra que questiona, durante as guerras,  as decisões daqueles - incluindo decisões políticas -, que não estão na linha de frente (“But if gunfire were near, would they volunteer?”), muito pelo contrário, estão seguros bem longe dali, em seus escritórios. Esta segunda faixa nos mostra o quão afiados eles ainda estão ao compor suas letras, com seus riffs e seus solos, todos destruidores! “Slipping into Madness” fala sobre o uso abusivo de drogas, do seu grande comércio e de muitos jovens que acabam tirando a própria vida quando as drogas não mais camuflam suas depressões (“The opiated generation, Now a poster child for suicide, The blind consumption, Can be one's demise, As depressions in a catatonic state, Now in a coma, And breathing through a tube”). Em “Elitist” a crítica é, como o próprio nome sugere, sobre os egocêntricos, egoístas e narcisistas que manipulam e usam as pessoas para seus próprios ganhos (“Now I've used every friend I've ever had, And it doesn't look like I'm stopping there!”). “Prescribing Horror”, a um ritmo mais lento e cadenciado, embora ainda pesado, fala sobre a droga Talidomida, que era prescrita às grávidas no final da década de 50 para evitar enjoos e outros sintomas. O que parecia ser um remédio “milagroso” pelo seu excelente efeito em tais sintomas (ele combatia inclusive vários tipos de dores crônicas em vários tipos de pacientes), mostrou-se desastroso quando os bebês começaram a nascer com má formação nos membros. “The Beatings Will Continue (Until Morale Improves)”, junto da segunda faixa, traz outro dos meus riffs preferidos do álbum, riffs destruidores como um guerreiro viking cavalgando ao encontro de seu inimigo, prestes a arrancar sua cabeça com seu machado.

A segunda parte do disco abre com “The Years of Death and Dying” e “Clickbait”. A primeira, é interessante notar, traz referências muito legais em sua letra, referências que vão desde Bowie, passando por Queen e Rush, chegando em Slayer e mais. É bom ficar atento a esses detalhes que deixam o álbum ainda melhor. E esta última, por sua vez, vale dar um destaque, pois fala de um assunto muito importante nos dias de hoje, que são as fake News e jornais cujas manchetes estão cheias de mentiras convenientes para atrair o grande público não pensante (“False headlines full of lies, To keep us entertained”), sem compromisso nenhum com a verdade. É uma faixa que reforça o engajamento da banda com tais questões políticas, mesmo que cada um ali tenha suas próprias convicções. Aliás, interessante notar que, numa entrevista recente, o líder e fundador da banda, Gary Holt, disse que os membros têm opiniões políticas diferentes e que isso não os impede de serem amigos. As letras do álbum mostram que dá para chegar num lugar comum. Mas para além desse lugar comum, essa informação dada pelo líder da banda mostra que dá, sim, para as pessoas serem amigas e ainda assim terem posições políticas diferentes. Uma coisa não pode e não deve anular a outra. A nona faixa “Cosa del Pantano” é uma introdução para a faixa seguir, “Lunatic-Liar-Lord”, que traz alguns momentos um pouco mais compassados misturados a agressividade e solos inspiradíssimos. É uma crítica mordaz às religiões e os conflitos causados por elas. “The Fires of Division” e “Antiseed”, penúltima e última faixas, reforçam que todos na banda estão em grande fase, pois encerram o álbum de forma extremamente coesa, com esta última música entregando uma mistura de momentos um pouco mais lentos e um pouco melódicos com a velocidade e agressividade já determinados até aqui.

Acredito que “Persona Non Grata” não se mostra o melhor da banda, mas um dos melhores com certeza. Talvez o melhor em vinte anos. Os caras continuam ótimos, e dessas grandes bandas do gênero, é uma das que ainda está muito enraizada no Underground. Não há espaço, neste disco, para modernidades e nem para artifícios de massa pra atrair um público maior dentro do Metal. Aqui o disco é o que é. É um som pesado, cru e direto como deve ser. É um som que vai deixar feliz tanto os fãs do gênero como um todo, quanto aqueles (principalmente, talvez) que amam o Thrash dos anos 80.

  

Nota:


País: Estados Unidos.

Locação: San Francisco (Bay Area), California

Tipo: Álbum. 

Lançamento: 19 de novembro, 2021.

Gravadora: Nuclear Blast.

Gênero: Thrash Metal.

 

Banda:

·        Tom Hunting

·         Gary Holt

·         Steve "Zetro" Souza

·         Jack Gibson

·         Lee Altus

 

1.

Persona Non Grata

07:30

 

2.

R.E.M.F.

04:22

 

3.

Slipping into Madness

05:33

 

4.

Elitist

03:58

 

5.

Prescribing Horror

05:09

 

6.

The Beatings Will Continue (Until Morale Improves)

03:01

 

7.

The Years of Death and Dying

05:22

 

8.

Clickbait

04:31

 

9.

Cosa del Pantano

01:13

 

10.

Lunatic-Liar-Lord

07:59

 

11.

The Fires of Division

05:23

 

12.

Antiseed

06:17

 

 

01:00:18


 


 



quarta-feira, 24 de março de 2021

Contos da Meia-Noite (Campfire Tales, 1997)

 


★★★

Diretor: Matt Cooper, Martin Kunert e David Semel
Roteirista: Martin Kunert, Eric Manes e Matt Cooper
Elenco: James Marsden, Amy Smart, Frederick Lawrence, Christopher Masterson, Jay R. Ferguson, Christine Taylor, Kim Murphy, Glenn Quinn, Suzanne Goddard-Smythe, Jennifer MacDonald, Ron Livingston, David Cooper, Mike Terner, Matt Cooper, Hawthorne James (...).
Gênero: Terror
Ano: 1997
País: Estados Unidos

Antologias de terror costumam ser, em geral, bastante interessantes e divertidas. Ao longo da história algumas das que ganharam destaque entre os fãs de horror foram os filmes da produtora britânica Amicus – a dita prima pobre da Hammer –, com filmes como “Contos do Além” (“Tales from the Crypt”, 1972) por exemplo, que ajudaram a influenciar e a forjar o subgênero. Além dos filmes, existe também a série “Contos da Cripta” (no original também “Tales from the Crypt”) que, baseada nos quadrinhos dos anos 50, foi ao ar entre os anos 1989 e 1996 e é uma das antologias mais conhecidas do gênero.  Das mais conhecidas do grande público, hoje, estão os recentes “V/H/S” (2012/2013/2014) e “O ABC da Morte” (“The ABCs of Death”, 2012). “Contos da Meia-Noite” (1997), ou “Campfire Tales” no original, não é a melhor e nem a mais criativa das antologias, mas é bem divertida com um interessante prólogo, contos divertidos e até certo ponto assustadores e uma história central que ajuda a manter o público interessado até o final.

Após voltarem de um show, quatro amigos sofrem um acidente de carro. Por causa disso, acabam sendo obrigados a passarem a noite na estrada à espera de ajuda; no caso, eles acabam encontrando as ruínas de uma antiga igreja ali na redondeza onde resolvem esperar a ajuda chegar. Eles constroem uma fogueira e, sentados ao seu redor, contam histórias de terror para passar o tempo. Após o prólogo, “The Hook”, que trata de uma lenda urbana que fala sobre um casal de namorados que são perseguidos por um homem que utiliza de um gancho no lugar de uma das mãos para matar, a primeira história é contada pelo motorista do carro, Cliff (Jay R. Ferguson), com um intuito de assustar as garotas do grupo, Lauren (Christine Taylor) e Alex (Kim Murphy), mais o irmão da primeira, Eric (Christopher Masterson).

Dirigido por Matt Cooper, “The Honeymoon” conta a história de um casal recém-casado, Rick (Ron Livingstone, que os fãs de terror o reconhecerão como o pai da família Perron, no primeiro “invocação do Mal”) e Valerie (Jennifer MacDonald), em lua de mel, que resolvem desviar de seu caminho principal para fazerem uma espécie de turismo macabro; querem conhecer uma mina onde um acidente obrigou alguns mineiros, presos dentro dos túneis, a praticarem canibalismo para sobreviver. No meio do nada e sem gasolina, o casal encontra Cole (Hawthorne James, também conhecido como o motorista do ônibus de “Velocidade Máxima”), que logo trata de afugentá-los ao dizer-lhes que há um animal misterioso na redondeza que costuma sair para caçar nessas épocas de lua cheia. É uma história de lobisomem mediana, porém interessante e um pouco tensa que conta com todos os clichês possíveis.

Apesar das péssimas decisões de ambos os personagens (fruto de um roteiro até certo ponto preguiçoso), mas principalmente por parte do marido, o maior mérito aqui é a criação do suspense por meio dessa criatura misteriosa. Sabe-se apenas que é um lobisomem, pois são eles que saem nas luas cheias para caçar, mas a falta de mais informações aliada ao clima de perigo que surge quando eles ficam presos no meio do nada por falta de gasolina (que maravilha de clichê, hein?!) conferem a diversão desse conto. Os mais atentos (não que isso importe), descobrirão que o final deste conto é uma variação de uma das lendas mostradas no filme do ano seguinte “Lenda Urbana” (Urban Legend, 1998).

O segundo segmento é o “People Can Lick Too”, dirigido por Martin Kunert, e conta a história de Amanda (Alex McKenna), uma garota que, na véspera de seu aniversário, acaba ficando sozinha em casa durante a noite apenas com a companhia de seu cachorro, Odin. Seus pais foram à reunião de pais e mestres da escola, e sua irmã mais velha, Katherine (Devon Odessa), aproveitando a ausência dos dois, também sai para encontrar algumas amigas, dando a Amanda dinheiro para não contar aos pais sobre a escapada. Amanda tem uma amizade virtual secreta com Jessica, com a qual passa bastante tempo conversando pelo computador. O que a garota não sabe, no entanto, é que Jessica é na verdade um pedófilo (interpretado por Jonathan Fuller, que em anos anteriores atuou em filmes do Stuart Gordon, “The Pit and the Pundulum”, de 1991, e “Castle Freak”, de 1995) com quem já vem mantendo contado há tempos.

É o mais fraco dos contos e, assim como o anterior, também não traz nada de novo. O maior problema, contudo, é a condução de uma história que se propõe a ser um suspense, mas que não se sustenta solidamente por falta desses elementos. A garota fica em casa sozinha fazendo suas coisas de criança, como provar os vestidos da irmã e procurar pelo tão sonhado presente de aniversário, e muito pouco é mostrado por parte do pedófilo, que aparece adentrando a casa em alguns momentos e sendo esquecido em outros. A falta de elementos sonoros bem desenvolvidos pode ter contribuído com isso. Também falha em causar a apreensão que deveria ao público muito porque a criança não se monstra assim tão interessante, mas mesmo assim ainda carrega alguns fragmentos de tensão que o salvam do fracasso total.

O terceiro e último segmento é o “The Locket”, dirigido por David Semel, e que conta a história de Scott (Glenn Quinn), um motociclista em uma road trip que, após ter sua moto danificada, encontra abrigo numa casa no meio do nada. Nesta casa ele conhece Heather (interpretada pela linda modela australiana Jacinda Barrett), uma mulher enigmática muito por conta de sua deficiência vocal, ela é muda e só se comunica escrevendo num pequeno quadro negro que carrega consigo. Apesar de enigmática, no entanto, se mostra bastante hospitaleira e simpática, acolhendo o viajante da chuva torrencial que cai do lado de fora.

Este último é uma história de fantasmas bastante interessante e é a melhor das três. O grande mérito deste, além da boa e macabra ambientação, é ter algumas pontas que são unidas conforme mais informações são apresentadas ao público. Uma atitude que poderia ser interpretada como uma decisão ruim de um personagem, por exemplo, tem sua devida explicação quando os eventos começam a ocorrer. Com isso, coisas que parecem sem sentido a uma primeira vista, mostram-se coerentes ao olhar mais atento do espectador lá na frente da trama. Quando os fantasmas começam a aparecer, por sua vez, o clima macabro e mórbido toma conta e é acentuado pelo conjunto das construções da cena, afinal uma casa no meio do nada, sem vizinho algum por perto, a moto quebrada e uma chuva torrencial incessante apenas afunilam as alternativas que são dadas ao casal que, apesar da forma apressada com a qual tomam algumas decisões, acaba despertando sentimento de preocupação no espectador que espera passivo o desenrolar da história enquanto torce pelo melhor.

“The campfire”, dirigido por David Semel , portanto, é a história central ao redor da qual todos esses segmentos são mostrados e é responsável por ajudar a manter o público interessado entre um conto e outro, e seu papel ao incrementar novas situações (perceba que Cliff escuta e vê coisas que são justificadas mais a frente) acaba se mostrando funcional a esse propósito. Seu desfecho, após o término do último conto, aliás, é um bom, porém previsível final que encerra decentemente esta antologia de três contos baseados em lendas urbanas americanas bastante famosas que, apesar de não entregar absolutamente nada de novo, é bastante divertida. 


 

Sessão Dupla: Os Goonies (1985) e Conta Comigo (1986)

      Os Goonies (The Goonies, 1985) – Richard Donner Conta Comigo (Stand by Me, 1986) – Rob Reiner Dentre as várias combinações possíveis...