quarta-feira, 24 de março de 2021

Contos da Meia-Noite (Campfire Tales, 1997)

 


★★★

Diretor: Matt Cooper, Martin Kunert e David Semel
Roteirista: Martin Kunert, Eric Manes e Matt Cooper
Elenco: James Marsden, Amy Smart, Frederick Lawrence, Christopher Masterson, Jay R. Ferguson, Christine Taylor, Kim Murphy, Glenn Quinn, Suzanne Goddard-Smythe, Jennifer MacDonald, Ron Livingston, David Cooper, Mike Terner, Matt Cooper, Hawthorne James (...).
Gênero: Terror
Ano: 1997
País: Estados Unidos

Antologias de terror costumam ser, em geral, bastante interessantes e divertidas. Ao longo da história algumas das que ganharam destaque entre os fãs de horror foram os filmes da produtora britânica Amicus – a dita prima pobre da Hammer –, com filmes como “Contos do Além” (“Tales from the Crypt”, 1972) por exemplo, que ajudaram a influenciar e a forjar o subgênero. Além dos filmes, existe também a série “Contos da Cripta” (no original também “Tales from the Crypt”) que, baseada nos quadrinhos dos anos 50, foi ao ar entre os anos 1989 e 1996 e é uma das antologias mais conhecidas do gênero.  Das mais conhecidas do grande público, hoje, estão os recentes “V/H/S” (2012/2013/2014) e “O ABC da Morte” (“The ABCs of Death”, 2012). “Contos da Meia-Noite” (1997), ou “Campfire Tales” no original, não é a melhor e nem a mais criativa das antologias, mas é bem divertida com um interessante prólogo, contos divertidos e até certo ponto assustadores e uma história central que ajuda a manter o público interessado até o final.

Após voltarem de um show, quatro amigos sofrem um acidente de carro. Por causa disso, acabam sendo obrigados a passarem a noite na estrada à espera de ajuda; no caso, eles acabam encontrando as ruínas de uma antiga igreja ali na redondeza onde resolvem esperar a ajuda chegar. Eles constroem uma fogueira e, sentados ao seu redor, contam histórias de terror para passar o tempo. Após o prólogo, “The Hook”, que trata de uma lenda urbana que fala sobre um casal de namorados que são perseguidos por um homem que utiliza de um gancho no lugar de uma das mãos para matar, a primeira história é contada pelo motorista do carro, Cliff (Jay R. Ferguson), com um intuito de assustar as garotas do grupo, Lauren (Christine Taylor) e Alex (Kim Murphy), mais o irmão da primeira, Eric (Christopher Masterson).

Dirigido por Matt Cooper, “The Honeymoon” conta a história de um casal recém-casado, Rick (Ron Livingstone, que os fãs de terror o reconhecerão como o pai da família Perron, no primeiro “invocação do Mal”) e Valerie (Jennifer MacDonald), em lua de mel, que resolvem desviar de seu caminho principal para fazerem uma espécie de turismo macabro; querem conhecer uma mina onde um acidente obrigou alguns mineiros, presos dentro dos túneis, a praticarem canibalismo para sobreviver. No meio do nada e sem gasolina, o casal encontra Cole (Hawthorne James, também conhecido como o motorista do ônibus de “Velocidade Máxima”), que logo trata de afugentá-los ao dizer-lhes que há um animal misterioso na redondeza que costuma sair para caçar nessas épocas de lua cheia. É uma história de lobisomem mediana, porém interessante e um pouco tensa que conta com todos os clichês possíveis.

Apesar das péssimas decisões de ambos os personagens (fruto de um roteiro até certo ponto preguiçoso), mas principalmente por parte do marido, o maior mérito aqui é a criação do suspense por meio dessa criatura misteriosa. Sabe-se apenas que é um lobisomem, pois são eles que saem nas luas cheias para caçar, mas a falta de mais informações aliada ao clima de perigo que surge quando eles ficam presos no meio do nada por falta de gasolina (que maravilha de clichê, hein?!) conferem a diversão desse conto. Os mais atentos (não que isso importe), descobrirão que o final deste conto é uma variação de uma das lendas mostradas no filme do ano seguinte “Lenda Urbana” (Urban Legend, 1998).

O segundo segmento é o “People Can Lick Too”, dirigido por Martin Kunert, e conta a história de Amanda (Alex McKenna), uma garota que, na véspera de seu aniversário, acaba ficando sozinha em casa durante a noite apenas com a companhia de seu cachorro, Odin. Seus pais foram à reunião de pais e mestres da escola, e sua irmã mais velha, Katherine (Devon Odessa), aproveitando a ausência dos dois, também sai para encontrar algumas amigas, dando a Amanda dinheiro para não contar aos pais sobre a escapada. Amanda tem uma amizade virtual secreta com Jessica, com a qual passa bastante tempo conversando pelo computador. O que a garota não sabe, no entanto, é que Jessica é na verdade um pedófilo (interpretado por Jonathan Fuller, que em anos anteriores atuou em filmes do Stuart Gordon, “The Pit and the Pundulum”, de 1991, e “Castle Freak”, de 1995) com quem já vem mantendo contado há tempos.

É o mais fraco dos contos e, assim como o anterior, também não traz nada de novo. O maior problema, contudo, é a condução de uma história que se propõe a ser um suspense, mas que não se sustenta solidamente por falta desses elementos. A garota fica em casa sozinha fazendo suas coisas de criança, como provar os vestidos da irmã e procurar pelo tão sonhado presente de aniversário, e muito pouco é mostrado por parte do pedófilo, que aparece adentrando a casa em alguns momentos e sendo esquecido em outros. A falta de elementos sonoros bem desenvolvidos pode ter contribuído com isso. Também falha em causar a apreensão que deveria ao público muito porque a criança não se monstra assim tão interessante, mas mesmo assim ainda carrega alguns fragmentos de tensão que o salvam do fracasso total.

O terceiro e último segmento é o “The Locket”, dirigido por David Semel, e que conta a história de Scott (Glenn Quinn), um motociclista em uma road trip que, após ter sua moto danificada, encontra abrigo numa casa no meio do nada. Nesta casa ele conhece Heather (interpretada pela linda modela australiana Jacinda Barrett), uma mulher enigmática muito por conta de sua deficiência vocal, ela é muda e só se comunica escrevendo num pequeno quadro negro que carrega consigo. Apesar de enigmática, no entanto, se mostra bastante hospitaleira e simpática, acolhendo o viajante da chuva torrencial que cai do lado de fora.

Este último é uma história de fantasmas bastante interessante e é a melhor das três. O grande mérito deste, além da boa e macabra ambientação, é ter algumas pontas que são unidas conforme mais informações são apresentadas ao público. Uma atitude que poderia ser interpretada como uma decisão ruim de um personagem, por exemplo, tem sua devida explicação quando os eventos começam a ocorrer. Com isso, coisas que parecem sem sentido a uma primeira vista, mostram-se coerentes ao olhar mais atento do espectador lá na frente da trama. Quando os fantasmas começam a aparecer, por sua vez, o clima macabro e mórbido toma conta e é acentuado pelo conjunto das construções da cena, afinal uma casa no meio do nada, sem vizinho algum por perto, a moto quebrada e uma chuva torrencial incessante apenas afunilam as alternativas que são dadas ao casal que, apesar da forma apressada com a qual tomam algumas decisões, acaba despertando sentimento de preocupação no espectador que espera passivo o desenrolar da história enquanto torce pelo melhor.

“The campfire”, dirigido por David Semel , portanto, é a história central ao redor da qual todos esses segmentos são mostrados e é responsável por ajudar a manter o público interessado entre um conto e outro, e seu papel ao incrementar novas situações (perceba que Cliff escuta e vê coisas que são justificadas mais a frente) acaba se mostrando funcional a esse propósito. Seu desfecho, após o término do último conto, aliás, é um bom, porém previsível final que encerra decentemente esta antologia de três contos baseados em lendas urbanas americanas bastante famosas que, apesar de não entregar absolutamente nada de novo, é bastante divertida. 


 

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