Nota: ★★½
Diretor: Jamie Blanks
Roteiro: Silvio Horta
Elenco: Jared Leto, Alicia Witt, Rebecca Gayheart, Robert Englund, Michael Rosenbaum, Loretta Devine, Joshua Jackson, Tara Reid, John Neville, Julian Richings...
Gênero: Terror
Duração: 1h 39min
País: Canadá, Estados Unidos
Sobre essa onda de filmes de terror teen slashers iniciada por Wes Craven com “Pânico” (1996) e, depois, seguida por “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado” (1997), o filme em questão neste texto é provavelmente o mais conhecido e falado. Aqui, a história busca explorar as lendas urbanas, muito comuns nos Estados Unidos, usando a fórmula criada por Craven e que é ambientada em um campus universitário. Não foge absolutamente de tudo o que já vinha sendo feito, o que muda é apenas o local já mencionado onde ocorrem os assassinatos. Há o assassino misterioso, que, em vez de uma máscara, usa uma roupa de inverno robusta com um capuz enorme que esconde seu rosto, e as vítimas, por sua vez, são as mesmas que em outros filmes do subgênero: a quieta, o engraçadinho, o que só pensa em festejar e em sexo, e por aí vai. Ou seja, todos os arquétipos e estereótipos estão presentes. Por um lado, a repetição de uma fórmula, sem um caminho por onde percorrer bem definido, leva ao desinteresse; por outro, o que acontece, no entanto, é que esse clichê é contornado pelo carisma dos atores que, embora não entreguem as melhores atuações (e não chega a ser prudente esperar algo do tipo em filmes assim), também cativam pela interação que possuem entre si – dá para perceber que eles estão se divertindo em seus respectivos papéis.
Natalie (interpretada pela bela Alicia Witt) e sua melhor amiga Brenda (Rebecca Gayheart) encontram-se em meio a uma série de assassinatos que ocorrem na universidade onde estudam, na qual elas e seus outros amigos – Damon (Joshua Jackson), Parker (Michael Rosenbaum) e sua namorada radialista Sasha (Tara Reid), e Paul (Jared Leto), o jornalista sem coração que escreve para o jornal da faculdade – precisarão se desdobrar para não serem mortos.
A primeira morte do filme, que introduz o modus operandi do assassino e estabelece o ritmo, é a mais elaborada de todo o roteiro. Nela, a lenda urbana por trás é a do assassino que se esconde no banco de trás do carro, esperando o momento certo para atacar a vítima. A construção do ambiente é eficiente: a personagem viaja sozinha em uma noite chuvosa, em uma estrada deserta, o que culmina em um desfecho surpreendente, em que Michelle Mancini (Natasha Gregson Wagner) será decapitada por um machado. O grande problema aqui, que se estende por todo o filme e por todas as outras mortes, é o quão conveniente toda a situação é para o assassino: como alguém entra no seu carro, se esconde no banco de trás e você não percebe? E piora ainda mais. Como o atendente do posto de gasolina percebe o que está acontecendo e decide avisar a moça é, no mínimo, duvidoso. Além disso, sua morte, que ocorre com o carro em movimento, não causa sequer o capotamento ou colisão com outro veículo ou qualquer outra coisa. Pelo menos um acidente leve (supondo que você suspenda sua descrença e aceite isso, o que é um pouco difícil, convenhamos, considerando que o carro estava em alta velocidade) deveria ter causado algum ferimento no algoz da mulher, que aparece em seguida incólume (quem já viu e sabe quem é o assassino vai perceber essa inconsistência na hora).
Conveniências e coincidências como essas acontecem o tempo todo. O roteirista parece não se importar com isso, o que, até certo ponto, chega a ser um insulto à inteligência do espectador. O elenco carismático, por outro lado, é um dos fatores que consegue contornar esses problemas. A amizade entre Natalie e Brenda é convincente, e o ponto de atrito entre elas — o interesse amoroso de Natalie, Parker — é um elemento adicional que favorece essa interação. O luto pelo qual a primeira passa (a mulher decapitada no carro era sua amiga de longa data) confere um pouco mais de profundidade à sua personagem (mesmo que de forma modesta), e os demais personagens, como Damon, por exemplo, ajudam a desenvolver a história, sempre convergindo com a trama da protagonista. Há no elenco também presenças ilustres como a de Robert Englund, que interpreta o professor Wexler, e a scream queen Danielle Harris, que interpreta a gótica e depressiva Tosh. E logo no começo, como atendente duvidoso do posto de gasolina, está Brad Dourif, em uma aparição bem rápida.
As mortes, por sua vez, são baseadas em lendas urbanas, como já dito, muito famosas nos Estados Unidos e, embora todas elas apresentem esse elemento duvidoso que sempre favorece o assassino, elas acabam sendo divertidas. Uma das mortes, por exemplo, é a de um personagem enforcado em uma árvore, pendurado pelo pescoço, com os pés tocando levemente o teto do carro, causando um ruído que chama a atenção da personagem, que está quieta lá dentro, esperando justamente o retorno desse outro personagem. Toda a cena é divertida, mas são as soluções fáceis que o roteiro busca que diminuem um pouco o impacto. Após a morte do sujeito e a colisão do carro com a árvore, pouco tempo depois, a polícia do campus chega ao local e não encontra sequer uma pequena evidência do que pode ter ocorrido ali. O assassino se livrou do carro, do corpo, da corda e limpou qualquer registro que pudesse indicar que algo realmente macabro aconteceu ali (em uma demonstração mais do que clara de que o roteirista e o diretor não dão a mínima importância à construção de algo crível).
E assim o filme segue até o seu desfecho, onde o assassino
finalmente se revela e, como em “Pânico”,
expõe todas as suas motivações. Neste caso, porém, o faz por meio de uma
apresentação que mais assemelha a um seminário acadêmico – mais uma escolha
equivocada do roteirista. Ainda assim, os personagens conseguem sustentar a
narrativa. A trilha sonora, marcada por um piano sombrio que se harmoniza bem
com as situações, é um ponto positivo, e as mortes são criativas e divertidas.
A ambientação na universidade também se destaca, com um tom sombrio reforçado
por iluminação baixa e cenários predominantemente escuros. O campus, com sua bela
arquitetura e um layout bem explorado, compõe à narrativa de forma eficaz,
contribuindo para enriquecer a experiência visual e contar a história, mesmo
com todos os problemas apresentados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário