Get Away (2024)

 

Nota: ★★★

Direção: Steffen Haars
Roteiro: Nick Frost
Elenco: Nick Frost, Aisling Bea, Sebastian Croft, Jouko Ahola, Eero Milonoff, Maisie Ayres, Anitta Suikkari, Ville Virtanen...
Gênero: Terror, Comédia
Duração: 1h 26min
País: Reino Unido

Nos anos 2000, Nick Frost e Simon Pegg marcaram história no cinema britânico de terror e comédia, especialmente com os filmes que compõem a Trilogia Cornetto (Three Flavours Cornetto Trilogy): “Todo Mundo Quase Morto” (2004), “Chumbo Grosso” (2007) e “Heróis de Ressaca” (2013). Essas produções exploram gêneros como terror, ação e até ficção científica, sempre com o humor característico do Reino Unido, além de muita violência e acidez. Após o sucesso da trilogia, a dupla se separou, seguindo caminhos distintos, mas sem abandonar o estilo humorístico ácido que os consagrou. Com suas mais recentes empreitadas no gênero, Simon Pegg, em 2023, estrelou “Nandor Fodor and the Talking Mongoose” – filme que ainda não possui título oficial em português. Agora, um ano depois, é a vez de seu parceiro Nick Frost retornar como roteirista e protagonista em “Get Away” (2024) – também sem título em português até o momento.

Durante as férias, Richard (Nick Frost), Susan (Aisling Bea) e seus filhos, Sam (Sebastian Croft) e Jessie (Maisie Ayres), viajam para uma ilha remota na Suécia para participar de uma festividade local estranha e peculiar chamada Karantan, de mais de 200 anos, e que carrega um enorme valor cultural e emocional para os moradores da região. No entanto, os habitantes da ilha não gostam de receber visitantes, especialmente estrangeiros, durante essa época do ano. Considerada exclusivamente deles, a festividade macabra desperta um forte senso de proteção nos insulares. Assim, quando a família britânica chega à ilha, eles enfrentam uma recepção bastante hostil, liderada pela matriarca da comunidade, a furiosa e ranzinza Klara (Anitta Suikkari), que chega inclusive a ameaçá-los diretamente.

Como ocorre em praticamente todos os filmes que misturam terror e comédia (os populares terrir), o humor acaba prevalecendo sobre o terror, e é exatamente isso que acontece aqui. A dinâmica familiar desempenha um papel essencial nessa balança: a forma como eles interagem entre si e com os moradores da ilha é, ao mesmo tempo, hilária e angustiante. Essas interações são responsáveis por criar uma sensação de desconforto que se instala logo na chegada da família à ilha e se intensifica conforme a contagem regressiva para a festividade avança. O anfitrião, que aluga a casa para a família, também contribui para essa atmosfera peculiar. Estranho e enigmático, mas inicialmente receptivo, ele desperta suspeitas à medida que os acontecimentos se desenrolam.

A boa escrita de Frost é, sem dúvida, o fator central do filme. Ele consegue desenvolver os dois gêneros, criando uma experiência que é ao mesmo tempo divertida e desconfortável. A premissa, bem construída, se desenvolve de forma sólida, explorando tanto o núcleo familiar e sua dinâmica quanto a interação desse grupo com os ilhéus. No terceiro ato, por exemplo, humor e violência atingem seu ápice, sem poupar o espectador de piadas ácidas e mortes sangrentas. A combinação intensifica a narrativa, tornando os acontecimentos mais claros e impactantes à medida que a história se aproxima de sua grande revelação.

Fica evidente que a produção modesta, com orçamento limitado, não foi um empecilho para a qualidade do filme. O trabalho se destaca, começando pela escrita e atuação de Frost, passando pela direção eficiente de Steffen Haars, que opta pelo simples, mas bem executado, até o restante do elenco, que entrega performances divertidas. Ou seja, não é nada grandioso nem novo (até apresenta um ou outro problema no ritmo), mas é eficiente. Além disso, os efeitos visuais e as maquiagens são muito bem realizados. É natural que surjam comparações, em termos de ambientação e terror psicológico, com "Midsommar" (2019), de Ari Aster, devido ao foco em uma festividade estranha e isolada. Contudo, fora esse ponto, as duas produções são completamente distintas em suas abordagens e temáticas.

 

(Textos Curtos - Algumas Considerações)