domingo, 23 de dezembro de 2018

House of the Dead (Alien Zone, 1978)




Diretor: Sharron Miller.
Roteirista: David O'Malley.
Elenco: John Ericson, Ivor Francis, Judith Novgrod, Burr DeBenning, Charles Aidman, Bernard Fox, Richard Gates, Elizabeth MacRae, Linda Gibboney, Leslie Paxton, John King III, Bo Byers, David O'Malley, Robert Telford, Michael Colley.
Gênero: Horror.
País: Estados Unidos.

É normal que alguns filmes acabem trocando de título durante sua produção, o que não é normal é quando tal mudança acontece frenética e desenfreadamente. Aqui, resolveram simplesmente mudar o título nada mais nada menos do que quatro vezes! O roteiro foi originalmente intitulado "Five Faces", mas acabou mudando para "Five Faces of Terror" durante a produção. Então o filme foi lançado e desta vez foi o distribuidor que resolveu que o nome não estava muito bom, mudando-o para “Alien Zone”, título pelo qual, aliás, a obra é mais conhecida. No entanto, este não é seu título definitivo. Posteriormente, e desta vez definitivamente, a obra acabou sendo intitulada de "House of the Dead". O diretor, que não deve ter ficado muito satisfeito com todas essas mudanças, é o estreante Sharron Miller, que guia o filme em quatro curtas histórias cujas premissas envolvem o comportamento humano. 


 
A história se inicia com Talmudge (John Ericson que pouco mais de uma década atrás atuou no divertidíssimo “As 7 Faces do Dr. Lao”, em 64; algumas pessoas talvez se lembrem dele) e sua amante na cama. Após alguns minutos de diversão, Talmudge sai, bem no meio da noite, para voltar ao seu apartamento para dar satisfações a sua esposa preocupada sobre o porquê de sua demora – óbvio que o pilantra ia mentir –, mas o que acontece é que o motorista do táxi o deixa, por algum motivo, em um bairro desconhecido. Perdido e sob uma intensa chuva, ele acaba se refugiando num misterioso local no qual o proprietário além de ali morar, também toca seus negócios. O proprietário (Ivor Francis) não tem seu nome revelado durante a história, mas seu negócio é uma espécie de funerária, ele próprio se auto intitula como um agente funerário, o que por si só já é uma pista do rumo que a história pode tomar.

Talmudge diz ao senhor que precisa ir embora mesmo que de baixo de chuva, mas é convencido do contrário para que possa conhecer um pouquinho seu estabelecimento e seu trabalho. O homem é convidado a entrar numa sala cheia de caixões entre os quais caminham enquanto o agente funerário seleciona alguns daqueles para contar-lhe suas histórias. O filme é uma antologia, algo que soa interessante a princípio principalmente pelo fato de que neste início remete um pouquinho aos filmes da britânica Amicus. Ao todo são quatro caixões, ou seja, quatro mortos e suas respectivas histórias horripilantes.

O primeiro segmento é sobre a senhora Sibiler (Judith Novgrod), uma professora que, por mais irônico que possa parecer, é uma mulher que não gosta de crianças. Ao chegar em casa após um dia muito ruim, nada lhe passa pela cabeça que não relaxar um pouco e esquecer os problemas. Então ela tenta colocar-se o mais confortável possível, ligando música em seu rádio e preparando um banho que posteriormente acaba sendo interrompido por barulhos e um vulto que é possível ser visto adentrando o banheiro. Há um invasor na casa e ele passa a brincar com sua sanidade mental. Claro que a moça toma a decisão mais sensata que uma pessoa pode tomar nessas situações. Ela sai de casa e vai à procura de ajuda? Claro que não! Muito melhor, ela própria sai andando pelos cômodos, assustada, a procura do invasor enquanto se certifica de que todas as janelas e portas estão bem trancadas (!!!). É a melhor decisão possível, trancar-se em casa sabendo que possivelmente há um bandido ali, escondido em algum lugar apenas esperando uma brecha. Alguns instantes após algumas dessas melhores decisões, sem muitas delongas o invasor se mostra, e surpreendentemente (ou não) o invasor na verdade são crianças que não tardam em colocar em prática seus planos. 

 

É uma história que tinha potencial, mas é completamente jogada no lixo porque não há tempo para seu desenvolvimento, além do fato de que a estrutura narrativa ali é inexistente. Não há uma introdução do motivo que a levou a odiar as crianças e muito menos há um desencadeador que leva as coisas a acontecerem daquela maneira. As coisas simplesmente acontecem. Simples assim. A mensagem é clara, afinal o que as crianças intentam fazer com a moça é o que a moça fazia contra elas (guardando as devidas proporções, obviamente) diariamente na escola. No entanto, mesmo com essa mensagem bastante clara, há uma pequena reviravolta ali no meio que não faz o menor sentido dentro daquele contexto já estabelecido, pois coloca em questionamento a natureza de certas coisas que já foram predeterminadas.

Para uma antologia dar certo, um dos principais fatores é tentar cativar o público logo com a primeira história, prendendo-o no sofá para que siga curioso e instigado a chegar ao fim, mas o que acontece aqui infelizmente é o oposto disso. Passar desta primeira parte já é uma dificuldade tremenda.

Já o segundo consegue ser ainda pior e mais vergonhoso. Growski (Burr DeBenning, que os fãs de horror devem se lembrar de seu papel como Dr. Ted Nelson no excelente “O Incrível Homem Que Derreteu”, de 77; ou do seu papel em “A Hora do Pesadelo 5: O Maior Horror de Freddy”, 89) é um fotógrafo com um gosto bastante doentio: ele convida mulheres a irem a sua casa para filmá-las através de uma câmera escondida enquanto as mata. Não há muito o que dizer deste, pois a história só se mantém assim, repetitivamente. Aqui apenas três vitimas são mostradas e são mortas das piores maneiras possíveis – isso não é um elogio –, sendo uma delas enforcada com as próprias meias. No intervalo entre uma vítima e outra é mostrado esse homem sendo preso em meio a várias câmeras e repórteres de diferentes veículos de informação, ou seja, agora quem se encontra em frente as câmeras numa situação ruim é ele, e não mais as garotas. 


 
Ambos os segmentos brigam para decidir qual é o pior. Assim como o primeiro, não há história aqui, apenas um esboço que mais parece ter saído do lixo de um escritor frustrado. As mortes são vergonhosas, as atuações, idem, e sequer há um nível mínimo de divertimento com as já citadas poucas mortes, pois não há uma gotinha de sangue sequer, são todas as mortes extremamente discretas e não são bem mostradas. Assim como seu predecessor, o desenvolvimento aqui também é inexistente. Simplesmente não há. Mostrar pessoas entrando na casa, sendo mortas, e entrando gente nova que também será morta não é uma história. Talvez tenha faltado criatividade ao roteirista, ou talvez seja apenas um enchedor de linguiça para não deixar o filme muito mais curto do que já é. Ou a minha hipótese preferida: os dois ao mesmo tempo. 

Bom, após dois fiascos monumentais, talvez o terceiro segmento eleve um pouco a qualidade da fita, certo? Errado! Ou melhor, talvez - logo você vai entender o que quero dizer com esse "talvez". Este, que é o mais longo de todos, conta a história de dois detetives, os melhores de seus respectivos países, detetive estadunidense Toliver (Charles Aidman) e o britânico da Scotland Yard, Inspetor McDowal (Bernard Fox, que teve um breve momento de fama no filme “Titanic”, de James Cameron). Este segmento teve o que os anteriores não tiveram: tempo para seu desenvolvimento. A qualidade deste então sobe um pouquinho de patamar, o que, tendo os anteriores como parâmetro, também não é um elogio. Apesar de possuir alguns elementos interessantes, ainda se mostra fiel ao baixo padrão estabelecido. O que o torna menos ruim, dentre algumas coisas, é que neste há reviravoltas relativamente interessantes. Uma delas pode pegar de surpresa os mais desavisados. No entanto, não há muito o que dizer da trama por também ser bastante simples, resumindo-se a uma investigação feita pelo detetive americano, que é acompanhado de perto pelo britânico para tentar apurar as origens de uma carta misteriosa que o primeiro recebe enquanto está num restaurante; além de mostrar a rivalidade que se estabelece entre os dois no decorrer do segmento. Longos e enfadonhos diálogos ditam o fluxo aqui, que culmina num final que, apesar das reviravoltas, não consegue se sustentar após períodos sem muita inspiração. 
 


O quarto e último, como já esperado, segue no mesmo baixo nível. Conta a história de um homem que apenas se preocupa com seu trabalho e nada mais, e justamente por isso acaba tratando muito mal todos a sua volta. Certo dia, após recusar a proposta de seu amigo de sair para comer um hambúrguer após o trabalho, no caminho para casa acaba parando, por alguma razão, num prédio aparentemente baldio onde coisas estranhas começam a acontecer; ele cai no poço do elevador e quase é esmagado pelo mesmo, além de uma parede com pregos também quase o perfurar etc. Após tais episódios de natureza um tanto quanto estranha, tendo passado pelo pior dia de sua vida, ao sair do prédio, já no dia seguinte, as coisas não melhoram: todo maltrapilho, acaba sendo tratado pelas pessoas na rua da mesma maneira como ele próprio as tratava no seu dia a dia.  


   
Basta ter apenas meio neurônio funcionando para entender que todas essas histórias contadas pelo anfitrião e agente funerário tem apenas um propósito, que é passar uma lição de moral ao homem que está ali presente. Remete um pouquinho – ao nível de história – à franquia “Jogos Mortais”, cujos personagens morrem de acordo com aquilo que eles praticaram durante sua vida; e também com os filmes da Amicus, cujas antologias sempre apresentavam um anfitrião que guiava seus convidados entre histórias que no fim sempre levava a um propósito bastante claro relacionado a esses convidados. A diferença deste para com os da Amicus é que os desta produtora britânica os filmes são infinitamente superiores, em todos os aspectos.

Talvez um dos motivos pelos quais o filme tenha se tornado esse fiasco seja pelo fato de que seu roteirista, David O'Malley, tenha-o escrito durante suas férias. Talvez tenha dedicado mais do seu tempo livre a se divertir do que a escrever (justo, afinal o filho da mãe estava de férias!). Vai saber. Ou talvez não souberam, todos os envolvidos, lidar com o baixo orçamento, estimado em cerca de 350 mil dólares apenas. Se for este o caso, então fica evidente a falta de talento, tendo em vista que vários diretores mundo afora souberam fazer muito com orçamentos até menores, como é o caso de Ib Melchior em “The Time Travelers” (1964).

Boa parte (para não dizer todos) do elenco também não se sai bem. Maioria dos atores e atrizes não era muito experiente, e isso se deve ao fato de que quase todos foram escolhidos porque o diretor já os conhecia da escola de atuação de Los Angeles, na Califórnia, onde estiveram juntos, e não necessariamente por serem talentosos. É o famoso caso do empregador contratando amigos apenas por serem amigos. Tudo bem que numa bagaceira dessas são dispensados grandes atores e atrizes, o mínimo seria incentivar cada um a dar o seu melhor. O trabalho de um diretor é também dirigir o elenco, e mais uma vez ele se mostrou incapaz.


 
Além das mudanças que o título do filme sofreu durante a produção, partes envolvendo o segundo segmento também sofreram mudanças, sendo uma dessas mudanças a retirada de comentários que satirizavam o ex-presidente Richard Nixon, o único presidente da história dos Estados Unidos a renunciar o cargo, isso no ano de 1974, por causa dos escândalos do Watergate. Escândalo ocorrido no complexo de edifícios que leva o mesmo nome, que em 1972 foram descobertas pessoas, contratadas pelo comitê de releeição do próprio, implantando microfones e roubando documentos do escritório do Partido Democrata. Bom, este não é o assunto apropriado para se alongar aqui, portanto o parágrafo extremamente resumido sobre o ocorrido é importante apenas para contextualizar aqueles que ainda não conheciam esse fato, devido a essa curiosidade envolvendo essa segunda história. Agora, o motivo que levou a retirada desses comentários satíricos continua uma incógnita. Talvez não quisessem misturar política no meio e tornar o negócio ainda pior.

Como fã de podreira, poderia até dizer que, apesar dos pesares, o filme vale uma conferida, mas infelizmente isso não vai acontecer. É filme para ser visto apenas uma vez caso a curiosidade bata e olhe lá. O filme não diverte e não têm sequer uma gota de sangue derramada para satisfazer os gostos dos sedentos por esse líquido denso, viscoso e vermelho. Quer dizer, a roupa de um senhor mancha-se de sangue enquanto é morto em um dos segmentos, mas é tudo tão pífio que não vale a pena mesmo. Caso a curiosidade bata, assista e tire suas próprias conclusões (filme completo e sem legenda abaixo), afinal é disso que se trata, certo? 


Um comentário:

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