quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Horror in the High Desert (2021)

 

Nota: ★★★

Diretor: Dutch Marich
Roteiro: Dutch Marich
Elenco: Suziey Block, Eric Mencis, David Morales, Tonya Williams Ogden, Errol Porter.
Duração: 80 minutos
País: EUA

“Horror in the High Desert” é um filme independente de baixíssimo orçamento que transita entre o mockumentary e o found footage. Ao que parece, é o primeiro trabalho do roteirista e diretor Dutch Marich a ganhar um pouco de notoriedade dentro de sua filmografia – valendo a lembrança que, ao se falar de notoriedade, aqui, leia-se notoriedade entre pessoas do pequeno grupo de fãs de cinema de baixo orçamento e dos gêneros aos quais o filme pertence. No entanto, mesmo com esse pouco de notoriedade, ele ainda continua obscuro para a grande maioria e, mesmo não sendo perfeito, é eficiente e merece ser mais conhecido.

A história contada aqui se passa no estado de Nevada, nos Estados Unidos, e é sobre Gary Hinge (Eric Mences), um adepto das longas caminhadas na natureza e das técnicas de sobrevivência. Em 2017, Gary, em uma dessas longas caminhadas, acaba desaparecendo. Sem que os familiares tenham notícia, sua irmã, Beverly Hinge (Tonya Williams Ogden), aciona a polícia, e é então que toda uma investigação e busca são instauradas para encontrar o rapaz. Além da polícia, há também uma investigação paralela ocorrendo por parte de um investigador particular, também contratado por Beverly.

Aparentemente não admitido pelo diretor, a história de Gary pode ter sido inspirada num acontecimento real ocorrido no ano de 2014. Essa é a história de Kenny Veach, um também jovem aventureiro do estado de Nevada que costumava gravar vídeos contando sobre suas aventuras na natureza. Em uma dessas aventuras, Veach diz ter encontrado o que seria a mais misteriosa das coisas com as quais ele já se deparou, uma caverna cuja entrada tinha a forma perfeita de um M. O pior, porém, é que quanto mais perto ele se aproximava da caverna, segundo ele, mais seu corpo vibrava, o que o fez abandonar a ideia de adentrá-la, assim fugindo dali o mais rápido que pôde, apavorado. Seus seguidores, por outro lado, queriam que ele voltasse ao local e gravasse tudo que pudesse da caverna. Foi então que Veach resolveu voltar à aventura, só que dessa vez para nunca mais dar notícia. Até hoje ninguém sabe o que pode ter-lhe acontecido. Seu corpo jamais foi encontrado, o que só fez aumentar o número de teorias da conspiração que vão desde aliens até experimentos governamentais ultrassecretos.

O que aconteceu com Gary Hinge foi basicamente a mesma coisa, mas em vez de uma caverna, ele encontrou uma cabana velha de madeira. Essa cabana, aliás, muito estranha, chamou-lhe atenção nesse primeiro momento, porém ele não quis parar para averiguá-la com mais cautela por motivos tais quais a estranheza que ela passava. Também fazendo gravações de suas andanças pela redondeza, o rapaz chegou a gravar alguns vídeos nos quais ele relatava para seus seguidores o quão estranha e misteriosa era a cabana e também os acontecimentos estranhos pelos quais ele começou a passar partir de então. Por isso, estando completamente intrigado com tudo, mas principalmente com o que tinha encontrado, ele resolve voltar para fazer um registro detalhado do local para compartilhar em vídeo com as pessoas. É então que muitas coisas são reveladas.

Entre as entrevistas e as partes dos vídeos gravados pelo rapaz, muito suspense é desenvolvido pelos fatos que são aos poucos mostrados conforme vai seguindo a ordem da investigação feita principalmente pelo investigador particular. A história vai seguindo por rumos que faz o espectador pensar e desenvolver hipóteses sobre o que pode ter acontecido com Gary para, no final, descobrir a incômoda verdade por traz disso tudo. E isso é bom pois eleva bastante a atmosfera inquietante da obra, que encontra em seu clímax o ponto alto – que não seria alto se não fosse todo o desenvolvimento até ali. O found footage, portanto, se encontra no final da obra, quando toda a verdade é posta diante dos olhos dos curiosos espectadores.

Infelizmente nem tudo são flores. A atmosfera foi bem desenvolvida, assim como todo o suspense e tensão, porém o filme peca com alguns excessos. Na primeira parte, por exemplo, informações repetitivas advindas dos entrevistados poderiam ter sido filtradas com o intuito de diminuir o tamanho do longa e permitir uma melhor fluidez, assim como um ou outro momento desnecessário que também poderiam ter sido cortados, ou seja, o filme poderia ter sido mais enxuto. E sobre o clímax, há elementos que causam mais dúvidas – no sentido ruim da palavra – do que respostas, e isso acontece porque parece que o diretor ficou um pouco indeciso na hora de mostrar os fatos do que aconteceu com o rapaz ao público.

Dessa forma, “Horror in the High Desert” não se mostra como um dos grandes do gênero, mas mostra que é decente dentro do que se propõe e por isso vale muito ser visto. Lembrando que, para melhor apreciar a obra, é preciso gostar do gênero, mas não necessariamente ter um conhecimento prévio dele (do gênero cinematográfico) e também não se importar com desenvolvimento lento, pois este é de fato um filme que se desenrola devagar (e isso não é um demérito). O que não significa, vale ressaltar, que outros espectadores que são distantes quanto ao tipo de filme que foi feito aqui não possam gostar, que fique claro. 


 



 

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Evils of the Night (1989)


Diretor: Mardi Rustam
Roteiro: Mardi Rustam, Philip Dennis Cannors
Elenco: Neville Brand, Aldo Ray, Tina Louise, John Carradine, Julie Newmar, Karrie Emerson, Bridget Holloman, David Hawk, G.T. Taylor, Keith Fisher, Tony O'Dell, Kelly Parsons.
Duração: 84 minutos
País: EUA

Os anos 80 foram solo fértil para muitos ótimos Slashers. Foi nos anos 80 que vieram continuações dos “Texas Chainsaw Massacre” (1974) e “Halloween” (1978), por exemplo. Filmes que viraram franquias e deram origens a uma infinidade de continuações, sendo algumas delas boas, outras ruins, e tantas outras perdidas no meio disso. Jason, ao contrario, já nasceu dentro dos próprios anos 80 com o “Friday the 13th” e também virou franquia com suas também inúmeras continuações. Não se pode esquecer também de Freddy, extremamente popular à época - até hoje, aliás. Bom, pode-se dizer que essa foi a década de ouro dos Slasher. Vale ressaltar, no entanto, que nem tudo que foi feito dentro do subgênero é digno de nota, e é aí que entra o “Evils of the Night” (1985), produção bem capenga, porém divertidíssima que mistura dois mundos, o dos já falados Slashers, e também da Ficção-Científica. 


O filme começa com uma nave alienígena pousando na floresta à noite. Enquanto isso alguns casais desavisados se divertem na redondeza, sem ter a mínima ideia do grande mal que os aguarda. Como todo Slasher que se preze, este não se difere muito dos outros quando o assunto é nudez e sacanagem. Aqui as coisas já começam com sexo. Um casal se encontra sob uma árvore e protagoniza a cena mais hilária de todo o filme. Enquanto fazem sexo, alguém, provavelmente relacionado à nave que acabou de pousar, chega e enforca o namorado, por detrás, com uma corda. A mulher, de quatro e tendo o que parece ser a melhor transa de sua vida, não percebe e continua a todo vapor. Ela só percebe que tem algo de errado quando, depois de alguns minutos, seu namorado já morto simplesmente para. Ela percebe o que está acontecendo, e é aí que ela parece ser capturada por esse alguém. Não muito distante dali, outro casal também se dá muito mal, ambos sendo capturados. 



Descobre-se em seguida que todos os capturados são levados a um hospital para terem suas plaquetas extraídas de seu sangue. Os extraterrestres que pousaram no local usam o hospital como uma base científica para esse fim. Liderados pelo Dr. Kozmar (interpretado por um John Carradine aparentemente precisando de dinheiro, pois só pode ser essa a explicação mais plausível para aceitar participar disso), a equipe é formada por mais quatro extraterrestres, todas mulheres, sendo duas cientistas, Dr. Zarma (Julie Newmar) e Cora (Tina Louise, que os fãs do gênero devem reconhecer por seu papel como Charmaine Wimpiris em “The Stepford Wives”, filme de Bryan Forbes, de 1975) que são responsáveis por extrair as plaquetas, e mais duas outras, que são responsáveis por levar as pessoas para dentro dos quartos, como se fossem enfermeiras e também vigias, ou coisa parecida (a propósito, todas as cenas com Carradine, Newmar e Louise foram filmadas dois anos antes, em 1983, em um único dia; agora saber por qual motivo isso aconteceu é um mistério). Todos eles possuem uma aparência humana que em nada lembra um extraterrestre. Um recurso muito usado, aliás, em produções cujo orçamento não permite maquiagens e efeitos especiais mais elaborados. No entanto, em termos de história, o roteiro não busca explicar por que eles possuem essa aparência humana, embora deveria ter explicado. Eles apenas a têm e fica por isso mesmo. Já a extração das plaquetas, por sua vez, é bem explicada. A injeção de plaquetas em seus corpos pode prolongar suas vidas em até mais de 200 anos. Como sua população tem envelhecido rápido e declinado por causa disso, acaba que a procura por jovens para esse fim se mostra bastante urgente. 



Enquanto isso, com relação ao casal capturado lá no comecinho e que foi levado ao hospital, o namorado ainda tenta escapar, mas é morto do lado de fora do hospital por meio de um raio verde que é disparado de um anel usado por uma das extraterrestres. Todos eles usam esse anel e, mais adiante, descobre-se que esse raio é chamado de poder supremo. É um raio muito potente e por isso não pode ser usado com muita frequência, caso contrário esses seres podem enfraquecer ainda mais. Por que isso acontece não é bem esclarecido.

Após tudo isso, um novo grupo de jovens é apresentado se divertindo num lago, sendo cinco deles os que serão acompanhados mais de perto durante a trama. O grupo é constituído pelos solteiros Brian (David Haw), Connie (G. T. Taylor) e Heather (Bridget Holloman), e pelo casal Nancy (Karrie Emerson, que os fãs a reconhecerão como a Linda Stanton de “Chopping Mall”, de 1986) e Ron (Keith Fisher). Um outro casal aleatório também é apresentado, mas não possui relevância alguma para a trama. Após estes dois serem apresentados no lago durante a tarde, eles voltam a aparecer novamente à noite arrombando a porta de uma casa abandonada para transarem lá dentro. No meio do ato, eles escutam um som estranho dentro da casa, e então o namorado resolve parar tudo para checar (pra variar, afinal de contas é uma regra isso, ao que parece!), mas por incrível que pareça, ele não morre, nem se fere, nem nada. Nenhum dos dois morre, aliás. Eles resolvem sair do local para nunca mais darem as caras. São dois dos personagens mais aleatórios e sem relevância já mostrados em um filme.



O foco, agora, volta a ser do grupo principal. Como já é tarde estão todos se aprontando para dormir, com os três solteiros se ajeitando perto do lago, e o casal, Ron e Nancy, se afastando dali - pois resolveram se divertir mais um pouco, se é que me entende -, para terem privacidade. O que acontece então é a coisa mais óbvia: os dois acabam sendo sequestrados. Nancy é levada de prontidão para dentro do hospital, já Ron tenta fugir, mas a fuga acaba se mostrando inócua, pois mesmo lutando ele é parado por um dos capangas (que não demorarão a ser apresentados na história) com uma pancada na cabeça. No dia seguinte, ao notar o desaparecimento dos dois, os que restaram saem à procura.  Com o carro resolvem ir à cidadezinha mais próxima e param, por pura conveniência e obviedade, na oficina onde trabalham os capangas Kurt (Neville Brand) e Fred (Aldo Ray), que sequestraram não somente seus amigos, mas todos os outros jovens desaparecidos. Como os dois já estavam à espreita durante a noite, eles sabiam que o casal que eles sequestraram tinha confidenciado aos seus amigos seus planos de fugirem para se casarem; a ideia deles seria ir embora naquele exato momento da noite. Ir embora e não olhar para trás. Portanto o que acontece é que essa história do casamento é justamente a informação dada pelos dois na oficina. É dito que o casal passou ali por perto para pedir informações, pois estavam indo se casar. Os três, desapontados por pensarem que foram abandonados, voltam ao lago para aproveitar o que lhes reta.  
 


O que não é espanto para ninguém é o fato de que os três que sobraram também acabam sequestrados. Primeiro, as meninas, que tentam fugir e lutar, mas acabam presas na oficina dos capangas no final das contas. Em segundo lugar, Brian, que acaba sendo sequestrado e levado para o mesmo lugar. É nesse cenário que acontece algumas das sequências mais estranhas, no pior sentido da palavra. Connie consegue soltar a si mesma das amarras, mas não seus amigos, como já era de se esperar de um filme como este. Como último recurso, ela tenta acertar um dos capangas com um bastão de ferro, mas, pra variar, falha, o que acaba acarretando sua morte violenta por meio de uma furadeira elétrica (bela morte, a propósito). Heather, ao contrário, consegue lutar e matar o vilão, após quase ser estuprada momentos antes. Antes de desamarrar Brian, porém, o outro capanga chega e a persegue. Brian acaba se libertando sozinho pouco tempo depois. 


Enquanto tudo isso acontece, Nancy escapa do hospital, após ver seu namorado morto (ele não aguentou as inúmeras extrações de sangue), e é quem salva Heather do capanga que restou. O surpreendente disso tudo, no bom sentido agora, é que Nancy, a garota que parecia ser uma das protagonistas, acaba morrendo da forma mais cruel: ela é assassinada friamente a machadas por um vilão enfurecido pela morte de seu amigo e com sangue nos olhos de ira. Ressaltando, isso tudo é positivamente surpreendente porque o filme dá a entender que ela seria uma das sobreviventes, no entanto o final de sua história acaba com essa bem-vinda reviravolta. Enquanto tudo isso acontece, Dr. Kozmar e o resto decidem partir com urgência do planeta. Uma partida que refletirá no final da jornada de terror dos poucos que ainda sobrevivem.

Para encerrar a trama, então, Brian, que há pouco se soltou das cordas, salva Heather de ter seu fim parecido com a da amiga morta a machadadas. Retirando o machado da mão do capanga bem no momento em que este ia desferir o golpe, os dois lutam até o vilão ser enfim morto pelo poder supremo que é imprevisivelmente desferido nele a partir da nave extraterrestre que está de partida. Após problemas no hospital e a urgência de levar as plaquetas para o planeta deles, eles precisavam partir dali o mais rápido possível caso contrário eles poderiam morrer ali mesmo na Terra. Curioso é o motivo que levou os extraterrestres a matarem o último capanga. Na verdade não chega a ser tão curioso assim, visto que os dois se mostraram extremamente ineficientes durante todo o filme. 

 

 


Assim, o filme não entrega absolutamente nada demais. Na verdade nada mesmo. Começa regado a peitos e sacanagem, o que se restringe apenas a esse começo mesmo, e depois a nudez simplesmente acaba. Mais adiante algumas garotas correm de calcinha para lá e para cá de vez em quando, porém usando camisa, não passando disso. Aliás, falando em peitos, duas atrizes pornôs foram convidadas a atuarem no filme pelo motivo de que estava difícil para o diretor encontrar atrizes de cinema dispostas a aparecerem nuas. A atriz pornô Crystal Breeze aparece totalmente nua numa cena da floresta no começo, já a atriz pornô Jody Swafford aparece fazendo topless com a atriz Traci Escobar (que nada tem a ver com o narcotraficante colombiano) enquanto uma esfrega protetor solar no corpo da outra. Escobar era amiga de Swafford e aceitou participar do filme por causa dessa amizade, e também por achar interessante participar do que seria sua primeira aparição no cinema. Primeira e única, aliás. 
 
 
 


Inspirado no filme “The Day the Earth Stood Still” (1951), como declarou o próprio diretor, é evidente que aqui as coisas não funcionaram bem. Muita coisa ficou comprometida por causa da precariedade da produção e baixo orçamento. As cenas de perseguição não convencem, assim como as de embate também não. As mortes, por causa do orçamento minguado, são todas off screen, com exceção de uma ou outra que aparece timidamente na tela. No entanto, é uma diversão esse filme, porque muito disso acaba se tornando humor involuntário, e de boa qualidade. É uma típica excelente podreira dos anos oitenta. Assim dito, esse filme é uma espécie de gosto adquirido. Mergulhe fundo apenas se for fã de filmes assim, pobres e obscuros. Se for o caso, o prato vem cheio.


 

domingo, 16 de janeiro de 2022

Melhores de 2021


Bom, 2021 já foi para o saco, graças aos bons deuses! Um ano que não deixará boas lembranças e muito devido a enorme quantidade de merdas que aconteceram como, por exemplo, os problemas causados direta e indiretamente pela covid-19. Com a pandemia vieram os lockdowns, as políticas de distanciamento social – todas necessárias, diga-se de passagem – etc. Com isso, lugares que promoviam aglomeração tiveram de fechar as portas durante esses períodos, sendo um desses lugares os cinemas. 2020 foi um ano ainda pior nesse sentido. Muitos dos grandes e pequenos estúdios optaram por adiar muitos dos seus lançamentos justamente por causa dos lockdowns. Grandiosos filmes como o novo “Duna”, que foi uma dessas inúmeras produções adiadas para o ano 2021, são exemplos de experiências cinematográficas que de fato merecem ser vistas na tela grande com a melhor qualidade de som e áudio disponível. No entanto, outros estúdios acabaram encontrando outras formas, como os streamings, para lançar seus filmes. Cada um tentando lidar da maneira como pode. Alguns deles acertando, outros, errando. A pergunta que vem a seguir, portanto, é essa: com todos esses problemas, será que tivemos algo digno de nota em meio a esse conturbado 2021? E a resposta é positiva! Sim, apesar dos problemas já ditos que todo mundo já conhece, muita coisa boa conseguiu ser lançada. Como de costume – pra variar! –, não consegui assistir a metade do que gostaria dos lançamentos. Mesmo assim, esta é a minha tentativa de fazer meu top 10 dos meus preferidos. As chances de eu falhar miseravelmente são grandes e muito verdadeiras, justamente pelo fato de que com certeza vou cometer injustiças deixando alguns bons títulos de fora – muitos deles que ainda não tive a oportunidade de ver. As chances são grandes mesmo, mas vai valer o esforço. Antes de começar, só quero deixar claro que os títulos não estão em ordem de preferência, mas sim em ordem dos que primeiro me vieram à mente, seguido da mais simples sinopse que eu poderia criar e um pouquinho do meu comentário. O critério que usei pra selecionar esses filmes, aliás, é simples: meu gosto pessoal. Simples assim! Não quis aqui fazer uma pretensiosa lista dos filmes tecnicamente melhores, mas sim dos que mais me chamaram atenção e me trouxeram, também, diversão. Claro que procurei trazer um pouco do meu conhecimento sobre o assunto, mas não como ponto principal. Enfim, sem mais delongas, vamos pra lista.

 

1) Titane (2021), dirigido por Julia Ducournau.

É um filme estranho, bizarro, violento e, por mais estranho que possa parecer, sensível. A história gira em torno de Alexia (Agathe Rousselle), uma mulher que quando criança sofreu uma grave lesão na cabeça por causa de um acidente de carro e por isso teve de colocar uma placa de titânio para corrigir a fratura, numa cirurgia delicadíssima. Já crescida, e ainda perturbada pelo que lhe aconteceu, trabalha numa espécie de clube de strip-tease, ao passo que, na cidade ao redor, assassinatos cruéis estão sendo cometidos (para não dar spoiler, talvez esse seja o máximo de uma sinopse que poderei dar). Fãs de Cronenberg podem pular de cabeça nessa obra, que mistura a já típica violência do movimento do cinema extremo francês, com metáforas e questionamentos muito legais sobre relacionamentos paternos, mais muitas referências ao cinema do mestre canadense. “Crash: Estranhos Prazeres”, aliás, talvez seja a maior das delas. 


2) Lamb (2021), dirigido por Valdimar Jóhannsson.

Distribuído pela A24, produtora e distribuidora velha conhecida dos fãs de terror, “Lamb” é o filme de estreia do diretor islandês que conta a história de Maria (Noomi Rapace) e Ingvar (Hilmir Snær Guðnason), casal criador de ovelhas que vê suas vidas mudarem após uma de suas criações parir um filhote um pouco diferente. Vivendo sozinhos numa fazendo isolada, os dois acabam desenvolvendo tanta afeição pelo cordeirinho recém-nascido que resolvem trata-lo de maneira quase como se fosse filho deles. É um filme que fala, dentre algumas coisas, sobre o relacionamento entre seres humanos e natureza, e também sobre família. Diferente do anterior, este causa incômodo não pela violência, mas pelas situações criadas. É um filme estranho, como tudo da A24, e possui ritmo muito lento, o que pode desagradar aqueles que não gostam desse tipo de terror mais contemplativo, e tem muito de seu desenvolvimento puxado também para o lado do drama que, aliás, toma a maior parte do filme.


3) Censor (2021), dirigido por Prano Bailey-Bond.

Aqui a pegada é de homenagem; homenagem, mais especificamente falando, aos filmes que foram banidos por sua violência extrema no Reino Unido durante os anos 1980 e que ficaram conhecidos como Video Nasties. Após serem avaliados pelos censores da época, muitos desses filmes tinham suas cenas cortadas para serem lançados, já outros – os que não tinham salvação segundo essas pessoas –, eram banidos. Enid Baines (Niamh Algar) – em uma excelente atuação –, é uma desses censores, e se vê cada vez mais enrolada numa trama bizarra que pode ou não envolver conspiração, após pensar ter visto sua irmã desaparecida em um desses filmes. Aqui o terror é também psicológico e de excelente qualidade, e intercala momentos de pura desorientação com cenas de violência gráfica. É um filme bastante vivo em termos de cores – todas em tons neon – e toda sua construção foi feita para remeter os anos 80. É o longa de estreia da diretora.


4) A Quiet Place II (2020), dirigido por John Krasinski.

Com uma data de lançamento prevista para 2020, este foi um dos filmes que sofreram com a pandemia. Foi sendo adiado por muito tempo porque Krasinski, que também dirigiu o primeiro filme, queria que fosse lançado nos cinemas para uma melhor apreciação do publico. Com isso, conseguiu encontrar essa data de estreia apenas em aproximadamente meados de 2021. É uma continuação direta que segue Evelyn Abbott (Emily Blunt) e seus filhos Regan (Millicent Simmonds) e Marcus (Noah Jupe) e seu bebê recém-nascido. Com ainda mais dificuldades de conseguirem se virar nesse mundo pós-apocalíptico, a trama aqui segue mais intimamente Regan e um personagem novo, Emmett (Cillian Murphy) – um excelente personagem, diga-se de passagem –, que, junto da decisão do diretor de colocar o protagonismo nas mãos da personagem Regan, acaba dando um novo frescor ao filme. A direção segura e dinâmica e um roteiro que soube se reinventar, além das atuações poderosas de quase todo o elenco (Noah Jupe está um pouco exagerado aqui) são algumas das qualidades do longa.


5) Saint Maud (2019), dirigido por Rose Glass.

Rose Glass é outra que tem sua grande estreia na direção de longas-metragens. Aqui a história acompanha Maud (Morfydd Clark), uma enfermeira fanática e fundamentalista religiosa que vê muito de seus princípios entrarem em conflito quando começa a trabalhar como cuidadora de Amanda (Jennifer Ehle), uma mulher que sofre de câncer terminal. Amanda, nada religiosa, leva uma vida completamente diferente da de Maud, que, por sua vez, começa a desenvolver afeições pela enferma e vê seu mundo começar a mudar. Estando confusa com toda a situação e também consigo mesma, a enfermeira começa a presenciar coisas estranhas e até mesmo a agir de forma bastante diferente do usual por causa disso. O filme – um terror psicológico dos bons – é de 2019, mas rodou muitos festivais até ser lançado no circuito mundial em 2021. Morfydd Clark é destaque aqui e está excelente, entregando o que é sua melhor atuação na carreira. Já a diretora Rose Glass é uma dentre outras para se ficar de olho.


6) My Heart Can't Beat Unless You Tell It To (2020), dirigido por Jonathan Cuartas.

Outra estreia em grande estilo, aqui a trama segue de forma introspectiva uma família de três irmãos, Dwight (Patrick Fugit) e Jessie (Ingrid Sophie Schram) – que são os irmãos mais velhos – e Thomas (Owen Campbell) que, por causa de uma doença, não pode sair de casa e por isso precisa de cuidados 24 horas por dia. Assim, os dois primeiros irmãos se mantêm bastante ocupados durante o dia e a noite para manter a saúde do caçula em bom estado. Acredito que quanto menos souber sobre a história, melhor será a experiência. O filme busca subverter alguns clichês de um subgênero do terror bem específico e acerta em praticamente tudo. Vale ressaltar que o filme foi filmado em 4:3, o que ajuda muito a construir a sensação de desconforto gerada pela claustrofobia que o filme traz.

 

7) The Night House (2020), dirigido por David Bruckner.

Bruckner é um diretor que já possui certa experiência, contando no currículo, com este filme, três longas. Seu último trabalho foi a obra bem conceituada “O Ritual” (2017). Nesse seu último projeto ele traz Rebecca Hall para interpretar Beth, uma professora que está passando por um processo de luto após seu marido se matar em sua própria casa. Com sua cabeça passando por um turbilhão de emoções, Beth, uma mulher determinada e forte, vê suas emoções piorarem após descobrir alguns segredos envolvendo a vida de seu marido. Claire (Sarah Goldberg), sua melhor amiga, é quem tenta ajuda-la nesse período. Uma das grandes obras do ano, “The Night House” perde um pouquinho de força no finalzinho, quando o filme parece entrar em conflito com alguma coisa que ele próprio havia definido nos primeiro e segundo atos. No entanto não é nada que prejudique sua totalidade. Grande filme!


8) Vicious Fun (2020), dirigido por Cody Calahan.

Um dos filmes mais divertidos do ano, “Vicious Fun” conta a história de Joel (Evan Marsh), um jovem nerd, ingênuo, desajeitado e em péssima situação financeira e amorosa, que escreve sobre filmes de terror para uma revista independente bem pobrezinha. Após seguir uma mulher desconhecida até um bar, com a intenção de talvez conseguir se dar bem com ela e enfim mudar sua situação com as mulheres, acaba entrando numa das piores situações ao se ver preso numa reunião de autoajuda que acontece dentro do próprio bar após o encerramento do expediente. Você deve estar se perguntando, “como uma pessoa se dá tão mal assim numa reunião de autoajuda?". A resposta é que essa não é uma reunião comum de um grupo comum, é uma reunião de autoajuda para assassinos em série (!!!). A partir daí se desenrola algumas das situações mais engraçadas e sangrentas que se pode imaginar. O filme entrega uma mistura de comédia e terror e, vale dizer, é outra homenagem aos anos 80 da lista, tanto em termos de fotografia quanto de violência que, diga-se de passagem, é feita toda, ou quase toda, com efeitos práticos, e também de música, que remete às trilhas dos anos 80. Ou seja, é o pacote completo. Infelizmente a história perde um pouco de força no decorrer do filme, mas não é nada que chega a comprometer.


9) Coming Home in the Dark (2021), dirigido por James Ashcroft.

Mais uma estreia, dessa vez vinda da Nova Zelândia. Hoaggie (Erik Thomson), sua esposa Jill (Miriama McDowell) e seus filhos, Maika (Billy Paratene) e Jordan (Frankie Paratene), estão em um piquenique na natureza, num lugar remoto, quando dois estranhos aparecem e os fazem reféns. A violência é intensa e acontece desde o princípio e de muitas formas, física e psicológica, de modo incômodo e inquietante, principalmente pelo fato de que ninguém, nem espectador e nem personagens, sabem quais as reais motivações dos vilões. Por que isso está acontecendo? Será que é violência apenas por violência? O acaso tem papel forte nisso tudo, mas muitas coisas serão reveladas ao longo dessa jornada de terror, sendo muitas dessas revelações absurdas – no bom sentido. Com isso tudo ainda dá tempo de levantar questões sobre abuso e maus-tratos infantis. Talvez o filme mais macabro - um dos mais, com certeza - e indigesto da lista.


10) The Wolf of Snow Hollow (2020), dirigido por Jim Cumming.

Jim Cummings aqui entrega o terceiro filme de sua filmografia, uma mistura muito bem feita de comédia e terror. John Marshall, interpretado pelo próprio Cummings, é um policial e filho do Sheriff (Robert Forster), que tem nas mãos alguns dos casos mais cruéis de assassinatos que a pacata e turística cidade de Snow Hollow já presenciou. Por causa da natureza dos crimes, muitos na cidade, inclusive dentro da própria polícia, com exceção de John, acreditam que as mortes foram causadas por um lobisomem. Isso, por sua vez, acaba causando atrito entre o protagonista e muitos de seus parceiros. A trama divertidíssima, vale dizer, ainda encontra momentos para falar sobre alcoolismo e paternidade, por exemplo. John, que tem uma filha e é divorciado, não tem um bom relacionamento com a mesma. Para piorar, ainda sofre com ataques de raiva, o que acaba desenvolvendo situações complicadas tanto em sua vida pessoal como no trabalho, com tudo isso sendo desenvolvimento em meio ao caos que se tornou a vida do personagem após começarem os violentos crimes.

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Para encerrar, fica evidente e óbvio o fato de que, ano após ano, o gênero se mostra cada vez mais vivo. A quantidade de estreantes no gênero, fãs entregando filmes para fãs, é bem grande e muito bom de se constatar. Assim, acabou que 2021, apesar de todos os problemas, ajudou a abrir as portas para essas pessoas mostrarem seu potencial. Fica agora a esperança de um 2022 ainda melhor - em todos os sentidos -, e a expectativa de que esses diretores entreguem filmes tão bons quanto num futuro próximo. Veremos o que este novo ano tem para nos entregar. 

 

 

Sessão Dupla: Os Goonies (1985) e Conta Comigo (1986)

      Os Goonies (The Goonies, 1985) – Richard Donner Conta Comigo (Stand by Me, 1986) – Rob Reiner Dentre as várias combinações possíveis...