domingo, 16 de janeiro de 2022

Melhores de 2021


Bom, 2021 já foi para o saco, graças aos bons deuses! Um ano que não deixará boas lembranças e muito devido a enorme quantidade de merdas que aconteceram como, por exemplo, os problemas causados direta e indiretamente pela covid-19. Com a pandemia vieram os lockdowns, as políticas de distanciamento social – todas necessárias, diga-se de passagem – etc. Com isso, lugares que promoviam aglomeração tiveram de fechar as portas durante esses períodos, sendo um desses lugares os cinemas. 2020 foi um ano ainda pior nesse sentido. Muitos dos grandes e pequenos estúdios optaram por adiar muitos dos seus lançamentos justamente por causa dos lockdowns. Grandiosos filmes como o novo “Duna”, que foi uma dessas inúmeras produções adiadas para o ano 2021, são exemplos de experiências cinematográficas que de fato merecem ser vistas na tela grande com a melhor qualidade de som e áudio disponível. No entanto, outros estúdios acabaram encontrando outras formas, como os streamings, para lançar seus filmes. Cada um tentando lidar da maneira como pode. Alguns deles acertando, outros, errando. A pergunta que vem a seguir, portanto, é essa: com todos esses problemas, será que tivemos algo digno de nota em meio a esse conturbado 2021? E a resposta é positiva! Sim, apesar dos problemas já ditos que todo mundo já conhece, muita coisa boa conseguiu ser lançada. Como de costume – pra variar! –, não consegui assistir a metade do que gostaria dos lançamentos. Mesmo assim, esta é a minha tentativa de fazer meu top 10 dos meus preferidos. As chances de eu falhar miseravelmente são grandes e muito verdadeiras, justamente pelo fato de que com certeza vou cometer injustiças deixando alguns bons títulos de fora – muitos deles que ainda não tive a oportunidade de ver. As chances são grandes mesmo, mas vai valer o esforço. Antes de começar, só quero deixar claro que os títulos não estão em ordem de preferência, mas sim em ordem dos que primeiro me vieram à mente, seguido da mais simples sinopse que eu poderia criar e um pouquinho do meu comentário. O critério que usei pra selecionar esses filmes, aliás, é simples: meu gosto pessoal. Simples assim! Não quis aqui fazer uma pretensiosa lista dos filmes tecnicamente melhores, mas sim dos que mais me chamaram atenção e me trouxeram, também, diversão. Claro que procurei trazer um pouco do meu conhecimento sobre o assunto, mas não como ponto principal. Enfim, sem mais delongas, vamos pra lista.

 

1) Titane (2021), dirigido por Julia Ducournau.

É um filme estranho, bizarro, violento e, por mais estranho que possa parecer, sensível. A história gira em torno de Alexia (Agathe Rousselle), uma mulher que quando criança sofreu uma grave lesão na cabeça por causa de um acidente de carro e por isso teve de colocar uma placa de titânio para corrigir a fratura, numa cirurgia delicadíssima. Já crescida, e ainda perturbada pelo que lhe aconteceu, trabalha numa espécie de clube de strip-tease, ao passo que, na cidade ao redor, assassinatos cruéis estão sendo cometidos (para não dar spoiler, talvez esse seja o máximo de uma sinopse que poderei dar). Fãs de Cronenberg podem pular de cabeça nessa obra, que mistura a já típica violência do movimento do cinema extremo francês, com metáforas e questionamentos muito legais sobre relacionamentos paternos, mais muitas referências ao cinema do mestre canadense. “Crash: Estranhos Prazeres”, aliás, talvez seja a maior das delas. 


2) Lamb (2021), dirigido por Valdimar Jóhannsson.

Distribuído pela A24, produtora e distribuidora velha conhecida dos fãs de terror, “Lamb” é o filme de estreia do diretor islandês que conta a história de Maria (Noomi Rapace) e Ingvar (Hilmir Snær Guðnason), casal criador de ovelhas que vê suas vidas mudarem após uma de suas criações parir um filhote um pouco diferente. Vivendo sozinhos numa fazendo isolada, os dois acabam desenvolvendo tanta afeição pelo cordeirinho recém-nascido que resolvem trata-lo de maneira quase como se fosse filho deles. É um filme que fala, dentre algumas coisas, sobre o relacionamento entre seres humanos e natureza, e também sobre família. Diferente do anterior, este causa incômodo não pela violência, mas pelas situações criadas. É um filme estranho, como tudo da A24, e possui ritmo muito lento, o que pode desagradar aqueles que não gostam desse tipo de terror mais contemplativo, e tem muito de seu desenvolvimento puxado também para o lado do drama que, aliás, toma a maior parte do filme.


3) Censor (2021), dirigido por Prano Bailey-Bond.

Aqui a pegada é de homenagem; homenagem, mais especificamente falando, aos filmes que foram banidos por sua violência extrema no Reino Unido durante os anos 1980 e que ficaram conhecidos como Video Nasties. Após serem avaliados pelos censores da época, muitos desses filmes tinham suas cenas cortadas para serem lançados, já outros – os que não tinham salvação segundo essas pessoas –, eram banidos. Enid Baines (Niamh Algar) – em uma excelente atuação –, é uma desses censores, e se vê cada vez mais enrolada numa trama bizarra que pode ou não envolver conspiração, após pensar ter visto sua irmã desaparecida em um desses filmes. Aqui o terror é também psicológico e de excelente qualidade, e intercala momentos de pura desorientação com cenas de violência gráfica. É um filme bastante vivo em termos de cores – todas em tons neon – e toda sua construção foi feita para remeter os anos 80. É o longa de estreia da diretora.


4) A Quiet Place II (2020), dirigido por John Krasinski.

Com uma data de lançamento prevista para 2020, este foi um dos filmes que sofreram com a pandemia. Foi sendo adiado por muito tempo porque Krasinski, que também dirigiu o primeiro filme, queria que fosse lançado nos cinemas para uma melhor apreciação do publico. Com isso, conseguiu encontrar essa data de estreia apenas em aproximadamente meados de 2021. É uma continuação direta que segue Evelyn Abbott (Emily Blunt) e seus filhos Regan (Millicent Simmonds) e Marcus (Noah Jupe) e seu bebê recém-nascido. Com ainda mais dificuldades de conseguirem se virar nesse mundo pós-apocalíptico, a trama aqui segue mais intimamente Regan e um personagem novo, Emmett (Cillian Murphy) – um excelente personagem, diga-se de passagem –, que, junto da decisão do diretor de colocar o protagonismo nas mãos da personagem Regan, acaba dando um novo frescor ao filme. A direção segura e dinâmica e um roteiro que soube se reinventar, além das atuações poderosas de quase todo o elenco (Noah Jupe está um pouco exagerado aqui) são algumas das qualidades do longa.


5) Saint Maud (2019), dirigido por Rose Glass.

Rose Glass é outra que tem sua grande estreia na direção de longas-metragens. Aqui a história acompanha Maud (Morfydd Clark), uma enfermeira fanática e fundamentalista religiosa que vê muito de seus princípios entrarem em conflito quando começa a trabalhar como cuidadora de Amanda (Jennifer Ehle), uma mulher que sofre de câncer terminal. Amanda, nada religiosa, leva uma vida completamente diferente da de Maud, que, por sua vez, começa a desenvolver afeições pela enferma e vê seu mundo começar a mudar. Estando confusa com toda a situação e também consigo mesma, a enfermeira começa a presenciar coisas estranhas e até mesmo a agir de forma bastante diferente do usual por causa disso. O filme – um terror psicológico dos bons – é de 2019, mas rodou muitos festivais até ser lançado no circuito mundial em 2021. Morfydd Clark é destaque aqui e está excelente, entregando o que é sua melhor atuação na carreira. Já a diretora Rose Glass é uma dentre outras para se ficar de olho.


6) My Heart Can't Beat Unless You Tell It To (2020), dirigido por Jonathan Cuartas.

Outra estreia em grande estilo, aqui a trama segue de forma introspectiva uma família de três irmãos, Dwight (Patrick Fugit) e Jessie (Ingrid Sophie Schram) – que são os irmãos mais velhos – e Thomas (Owen Campbell) que, por causa de uma doença, não pode sair de casa e por isso precisa de cuidados 24 horas por dia. Assim, os dois primeiros irmãos se mantêm bastante ocupados durante o dia e a noite para manter a saúde do caçula em bom estado. Acredito que quanto menos souber sobre a história, melhor será a experiência. O filme busca subverter alguns clichês de um subgênero do terror bem específico e acerta em praticamente tudo. Vale ressaltar que o filme foi filmado em 4:3, o que ajuda muito a construir a sensação de desconforto gerada pela claustrofobia que o filme traz.

 

7) The Night House (2020), dirigido por David Bruckner.

Bruckner é um diretor que já possui certa experiência, contando no currículo, com este filme, três longas. Seu último trabalho foi a obra bem conceituada “O Ritual” (2017). Nesse seu último projeto ele traz Rebecca Hall para interpretar Beth, uma professora que está passando por um processo de luto após seu marido se matar em sua própria casa. Com sua cabeça passando por um turbilhão de emoções, Beth, uma mulher determinada e forte, vê suas emoções piorarem após descobrir alguns segredos envolvendo a vida de seu marido. Claire (Sarah Goldberg), sua melhor amiga, é quem tenta ajuda-la nesse período. Uma das grandes obras do ano, “The Night House” perde um pouquinho de força no finalzinho, quando o filme parece entrar em conflito com alguma coisa que ele próprio havia definido nos primeiro e segundo atos. No entanto não é nada que prejudique sua totalidade. Grande filme!


8) Vicious Fun (2020), dirigido por Cody Calahan.

Um dos filmes mais divertidos do ano, “Vicious Fun” conta a história de Joel (Evan Marsh), um jovem nerd, ingênuo, desajeitado e em péssima situação financeira e amorosa, que escreve sobre filmes de terror para uma revista independente bem pobrezinha. Após seguir uma mulher desconhecida até um bar, com a intenção de talvez conseguir se dar bem com ela e enfim mudar sua situação com as mulheres, acaba entrando numa das piores situações ao se ver preso numa reunião de autoajuda que acontece dentro do próprio bar após o encerramento do expediente. Você deve estar se perguntando, “como uma pessoa se dá tão mal assim numa reunião de autoajuda?". A resposta é que essa não é uma reunião comum de um grupo comum, é uma reunião de autoajuda para assassinos em série (!!!). A partir daí se desenrola algumas das situações mais engraçadas e sangrentas que se pode imaginar. O filme entrega uma mistura de comédia e terror e, vale dizer, é outra homenagem aos anos 80 da lista, tanto em termos de fotografia quanto de violência que, diga-se de passagem, é feita toda, ou quase toda, com efeitos práticos, e também de música, que remete às trilhas dos anos 80. Ou seja, é o pacote completo. Infelizmente a história perde um pouco de força no decorrer do filme, mas não é nada que chega a comprometer.


9) Coming Home in the Dark (2021), dirigido por James Ashcroft.

Mais uma estreia, dessa vez vinda da Nova Zelândia. Hoaggie (Erik Thomson), sua esposa Jill (Miriama McDowell) e seus filhos, Maika (Billy Paratene) e Jordan (Frankie Paratene), estão em um piquenique na natureza, num lugar remoto, quando dois estranhos aparecem e os fazem reféns. A violência é intensa e acontece desde o princípio e de muitas formas, física e psicológica, de modo incômodo e inquietante, principalmente pelo fato de que ninguém, nem espectador e nem personagens, sabem quais as reais motivações dos vilões. Por que isso está acontecendo? Será que é violência apenas por violência? O acaso tem papel forte nisso tudo, mas muitas coisas serão reveladas ao longo dessa jornada de terror, sendo muitas dessas revelações absurdas – no bom sentido. Com isso tudo ainda dá tempo de levantar questões sobre abuso e maus-tratos infantis. Talvez o filme mais macabro - um dos mais, com certeza - e indigesto da lista.


10) The Wolf of Snow Hollow (2020), dirigido por Jim Cumming.

Jim Cummings aqui entrega o terceiro filme de sua filmografia, uma mistura muito bem feita de comédia e terror. John Marshall, interpretado pelo próprio Cummings, é um policial e filho do Sheriff (Robert Forster), que tem nas mãos alguns dos casos mais cruéis de assassinatos que a pacata e turística cidade de Snow Hollow já presenciou. Por causa da natureza dos crimes, muitos na cidade, inclusive dentro da própria polícia, com exceção de John, acreditam que as mortes foram causadas por um lobisomem. Isso, por sua vez, acaba causando atrito entre o protagonista e muitos de seus parceiros. A trama divertidíssima, vale dizer, ainda encontra momentos para falar sobre alcoolismo e paternidade, por exemplo. John, que tem uma filha e é divorciado, não tem um bom relacionamento com a mesma. Para piorar, ainda sofre com ataques de raiva, o que acaba desenvolvendo situações complicadas tanto em sua vida pessoal como no trabalho, com tudo isso sendo desenvolvimento em meio ao caos que se tornou a vida do personagem após começarem os violentos crimes.

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Para encerrar, fica evidente e óbvio o fato de que, ano após ano, o gênero se mostra cada vez mais vivo. A quantidade de estreantes no gênero, fãs entregando filmes para fãs, é bem grande e muito bom de se constatar. Assim, acabou que 2021, apesar de todos os problemas, ajudou a abrir as portas para essas pessoas mostrarem seu potencial. Fica agora a esperança de um 2022 ainda melhor - em todos os sentidos -, e a expectativa de que esses diretores entreguem filmes tão bons quanto num futuro próximo. Veremos o que este novo ano tem para nos entregar. 

 

 

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