terça-feira, 10 de setembro de 2024

O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999)

 

 

★★★★★

Diretor: M. Night Shyamalan
Roteirista: M. Night Shyamalan
Elenco: Bruce Willis, Haley Joel Osment, Toni Collette, Olivia Williams, Trevor Morgan, Donnie Wahlberg, Peter Anthony Tambakis, Jeffrey Zubernis, Greg Wood...
Gênero: Suspense/Drama
Ano: 1999
País: Estados Unidos

M. Night Shyamalan é um dos diretores mais reconhecidos de Hollywood. À época um estreante de extremo sucesso, fez filmes aclamados como “O Sexto Sentido” (1999), “Corpo Fechado” (2000), “Sinais” (2002) e “A Vila” (2004). Quatro grandes filmes incontestáveis de sua filmografia – com exceção dos dois últimos que, vira e mexe, aparecem questionamentos por parte de uma parcela dos cinéfilos. Apesar de os dois últimos levantarem alguns questionamentos por parte de uma parcela do fãs, os dois primeiros, por outro lado, são tidos como obras-primas por muitos – por mim incluso. E não à toa, esse título dado aos primeiros tem relação direta com a forma como o diretor conduz o suspense, a tensão e o desenvolvimento até o clímax. Aliás, as reviravoltas – ou melhor, a reviravolta (falando dos finais) – que acontecem, hoje, pode-se dizer, foi o grande trunfo e, também, a grande desgraça na carreira do indiano (quem assistiu a sua filmografia inteira sabe do que estou falando). Os segredos revelados no final desses quatro primeiros filmes são avassaladores. “O Sexto Sentido” mesmo – material desta análise – possui um final arrebatador. O que o diretor entrega em termos de surpresa, tensão e desconforto é algo poucas vezes visto. Por isso logo no início dos anos 2000, após o lançamento do filme, ele já recebia a alcunha de “mestre do suspense”. Apesar das derrapadas a partir de “A Vila”, fãs e não fãs continuam e continuarão se lembrando desta grande obra em análise por décadas e décadas.

O filme acompanha Cole Sear (Haley Joel Osment) e Malcolm Crowe (Bruce Willis), um menino com sérios problemas de relacionamento e sociabilidade, principalmente no âmbito escolar, onde sofre bullying diário e que tais problemas são consequência direta do que passa diariamente por causa das visões que tem de espíritos – o que o faz ser chamado por amigos e até professores de "aberração" –, e um psicólogo que tenta recuperar a carreira após ser baleado pelo paciente cujo qual ele tinha falhado anos atrás, bem como o noivado, por ter se tornado distante depois de retomar a carreira como psicólogo infantil após o incidente. 

Ambos os personagens possuem problemas graves em suas vidas e ambos, embora com a sensação de que não podem ser ajudados por ninguém, seguem, de alguma forma, tentando. O garoto, por exemplo, no começo do filme diz gostar de Malcolm, embora ache que ele não possa ajudá-lo. Mesmo assim o mantém em sua vida, o que demonstra que, apesar de sua incredulidade, ele ainda tem, por menor que seja, forças para tentar. E as tentativas de superação são muitas e podem ser observadas nas interações sociais fracassadas onde o resultado gerado é apenas mais bullying. O psicólogo, por sua vez, demonstra toda sua tristeza no olhar pesado que, vez ou outra, acaba se desviando em momentos de confrontação, como na cena em que não consegue olhar nos olhos de Cole ao ser confrontado pelo menino que pede para que não desista dele, o que demonstra e reafirma sua fragilidade.  

A complexidade desses dois mostra como o diretor consegue dar camadas a seus personagens, de modo que seus trejeitos estejam alinhados com a história que está sendo contada. E não são camadas fáceis de se ver. As revisitações a obra ajudam a buscar por esses elementos, e o mais apaixonante nesse filme – assim como em outros do diretor – é que, a cada revisita, novas coisas são percebidas, tanto em termos de roteiro, atuação, direção ou história mesmo: a porta com a maçaneta vermelha e seu significado; a interação entre os dois personagens; a música de James Newton Howard e como ela se encaixa... Os elementos sãos muitos. E a forma como o suspense cresce conforme vamos descobrindo os segredos de Cole e Malcolm, que são desenvolvidos com cuidado e cautela, sendo mostrados aos poucos e com muita sutileza ao longo do filme, culmina no grande final, triste e melancólico, que acerta o espectador como um tiro – que ao contrário do personagem, acerta direto na cabeça. O diretor não polpa o espectador do abalo emocional. E essa, entre tantas outras coisas, é o que torna esse final irresistível.

E vale dar um destaque imenso a atuação de Haley Joel Osment e Bruce Willis. O primeiro tem uma das maiores interpretações feitas por crianças na história do cinema. Seu desespero profundo e a vontade de superá-lo são captados com maestria pelo menino, que faz com que os espectadores de todas as idades sintam o que ele sente. O mesmo pode ser dito do segundo, que tem um talento enorme para atuar em dramas. A conexão e química entre os dois é clara e evidente, e é uma das delícias do filme. Toni Collette como Lynn Sear também é um ponto chave. Sua atuação como mãe protetora e questionadora acrescentam elementos que ajudam no desenvolvimento tanto de sua própria personagem quanto o do filho (a cena em que fica brava com Cole após um objeto de seu apresso aparecer num lugar diferente do que ela o tinha guardado é excelente).

“O Sexto Sentido” é, portanto, não somente um dos maiores lançamentos de 1999 (que ano maravilhoso para o cinema, diga-se de passagem!), como para a década, como para o século, como para toda a história do cinema. Hoje, ele é lembrado e cultuado não à toa, a mente nova e fresca de um talentoso diretor que respira cinema é o nome por trás disso; as coisas não acontecem por mera coincidência. O que o filme possui de características que o elevam a esse patamar tem nome. E àqueles que por algum motivo ainda não conhecem a essa obra, não sabem a sorte que tem de ter essa primeira avassaladora experiência. Mergulhem de cabeça e não percam mais tempo!

 


 

 

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