Diretor:
Michele Soavi.
Roteiro:
Michele Soavi, Dario Argento, Franco Ferrini, Lamberto Bava (não creditado), Fabrizio
Bava (não creditado), Nick Alexander (não creditado), M. R. James (não creditado), Dardano Sacchetti
(não creditado).
Gênero:
Horror
Duração: 102
minutos
País: Itália
Michele Soavi foi um dos cineastas mais promissores dos anos oitenta,
já começando a ganhar notoriedade logo após seu primeiro trabalho,
quando dirigiu um documentário sobre Dario Argento, o “Dario Argento’s World of
Horror” (1985). Dois anos depois, com um orçamento reduzido, porém muita
criatividade e talento, dirigiu seu primeiro longa de horror, “Deliria”, no
qual estrelava no papel principal a atriz Barbara Cupisti, que antes já havia
trabalhado com outro mestre do horror italiano, Lucio Fulci, no filme “The New
York Ripper” (“Lo squartatore di New York”), no ano de 1982.
Amigo e um dos mentores de Soavi, Dario Argento foi o
responsável por apostar no talento do jovem diretor bancando este seu segundo
filme e também o coescrevendo. Além de Argento, o roteiro também passou por
mais sete mãos, a do próprio Soavi e outras mais que não foram creditadas, como
a de Lamberto Bava, filho de um dos maiores diretores de todo o gênero (se você
realmente é fã de horror, diria até que de cinema como um todo, já deve saber
de quem estou falando). De início, Argento queria que o filme fizesse parte da
franquia “Demons”, iniciada por Lamberto Bava em 1985 e que ganhou uma segunda
parte logo um ano depois. Soavi, por outro lado, não queria que seu filme
fizesse parte da franquia, pois queria trabalhar os conceitos do filme, como possessão demoníaca e afins, de maneira diferente da trabalhada por Lamberto em seu filme. Soavi queria, portanto, algo mais artístico. Sem problemas nem nada, no final saiu da maneira
como gostaria.
O filme começa na idade média, já mostrando cavaleiros
teutônicos matando pessoas acusadas de bruxaria e de fazerem pactos com o
demônio, de modo a não perder tempo e com Soavi já mostrando a que veio. Com
mortes violentas, como a de um aldeão que tem sua cabeça decapitada para depois
aparecer sendo pisoteada pelos outros cavalos, e ângulos de câmeras inventivos
para época, incluindo câmeras subjetivas de dentro do elmo dos cavaleiros, pelos
quais o espectador vê toda atrocidade acontecendo, já dá para ter ideia do que
está por vir.
Após a perseguição e morte de todas as pessoas acusadas de
magia negra, uma enorme vala é aberta, dentro da qual são jogados os
corpos para em seguida ser coberta e selada com uma enorme cruz cuja finalidade
é impedir que os espíritos malignos e demônios saiam ali de dentro. Corta a
cena e então a história pula para os dias atuais, apresentando o personagem Evan
(Tomas Arana), novo bibliotecário e especialista em livros que será responsável
por catalogar todos as obras presentes naquela igreja. Logo de sua chegada,
Evan conhece Lisa (Barbara Cupisti), que já há um tempo lidera um trabalho de
restauração naquele local. Graças a Lisa, aliás, alguns túneis e passagens
secretas são descobertos no subsolo e interior da igreja, que servem para as
escapadas noturnas de Lotte, interpretada por uma jovem Asia Argento em seu terceiro trabalho
para o cinema (os anteriores foram “Demons 2”, de Lamberto Bava; e “Zoo”, de Cristina
Comencini).
Além das descobertas dos túneis, Lisa também descobre um
pergaminho com uma escrita, a princípio, indecifrável, e a entrega a Evan que,
após algum tempo trabalhando naquilo, decifra-as para então descobrir que há coisas escondidas sob o solo da igreja, no entanto o pergaminho não especifica o quê.
Então tomado por um sentimento de ganância por achar que pode haver um tesouro escondido, Evan
passa a procurá-lo e acaba encontrando a cruz que foi posta no chão algumas centenas
de anos atrás. Após mexer por algum tempo no objeto, acaba descobrindo uma maneira de
abri-lo, libertando assim os demônios que infestam a igreja passando a atormentar e a possuir as pessoas que rondam o local.
As pessoas então passam a enxergar coisas que não existem, pois assumem um aspecto delirante causado pelas ações dos demônios, como por
exemplo, quando um personagem é morto por uma espécie de “triturador” de
concreto para depois aparecer vivo e logo cometer um homicídio que, aliás, é um
dos mais interessantes de todo o filme. Por causa disso que coisas acontecem
numa cena para na outra parecer que nada tinha acontecido. A cena onde um peixe
gigante sai de um jarro de água para "comer" o rosto de um dos personagens
corrobora essa ideia, pois, enquanto a câmera assume a visão do personagem
perturbado, que está tento o rosto devorado, o espectador também vê o peixe, mas
quando a câmera assume a visão de uma pessoa normal, ela apenas vê uma pessoa
maluca se debatendo com a mão em seu rosto nu. Isso é um artifício interessante
para trazer o espectador para dentro dessa confusão mental pela qual essas pessoas
atormentadas pelo demônio passam. Por outro lado, é correto afirmar que o roteiro
também não tem a mínima vontade de explicar algumas situações que, em certo ponto, mostram-se um pouco
confusas e desconexas.
Soavi e Argento queriam que a história fosse filmada na
igreja medieval de St. Lawrence, na cidade de Nuremberg, na Alemanha. Chegaram
a fazer alguns testes no local, no entanto a ideia teve de ser abandonada, pois
os cidadãos da cidade não estavam muito contentes com a ideia de um filme de
terror sendo rodado ali. Então como segunda opção foi escolhida a Igreja
Mathias, da cidade de Budapeste, na Hungria, por possuir traços arquitetônicos um
pouco semelhantes com o plano original e que veio a satisfazer tanto o diretor
quanto o produtor após a negativa da primeira cidade.
O fato de o roteiro ter tido as mãos de Lamberto Bava como
uma das atuantes, fez com que a história se assemelhasse um pouco com seu filme
mais icônico (e um dos mais icônicos dos anos oitenta) “Demons”. Neste - sem
entrar em detalhes -, um grupo de pessoas fica preso num cinema após alguns
acontecimentos macabros, fazendo com que cada uma dessas pessoas fosse morta por
forças demoníacas que infestam o lugar após esse episódio macabro; já em “The
Church” acontece algo parecido só que, obviamente, na igreja, onde pessoas como
uma modelo que está ali sendo fotografada, crianças de uma excursão, um casal
de idosos, etc. são mortos através das piores maneiras possíveis, também por
forças demoníacas. Algumas semelhanças, aliás, fizeram com que o filme
recebesse o título picareta “Demons 3” nos Estados Unidos, mesmo sem ter
quaisquer relações com a franquia já citada acima.
Mesmo com algumas semelhanças, é bom destacar que o filme
caminha com suas próprias pernas, apesar de alguns picaretas terem tido essa
brilhante ideia do título, talvez para tentarem lucrar mais. O filme caminha com as
próprias pernas pois, primeiro, o tom inferido ao filme, como já dito, é um tom
mais artístico; segundo e mais importante, é porque Soavi já tinha demonstrado
ter uma assinatura própria. É fácil de saber quais filmes foram dirigidos pelo
diretor. Uma de suas características mais marcantes e a que o fez entrar no hall dos
grandes: não existe foco total em seus protagonistas, e isso pode ser
visto em toda sua filmografia. Isso significa que nem todo personagem que tem
um foco narrativo central, logo de início, é o protagonista. Soavi, aliás, gosta
de brincar com isso, levando o público para um lado para só depois mostrar que
não é aquilo o que pretende e que o foco está no outro lado. Subvertendo as expectativas do espectador. Desta maneira, o
roteiro trabalho de modo a enganar a quem assiste ao filme, desenvolvendo as características de um provável protagonista levando-o até o ponto no qual
será morto, para só então mostrar que o verdadeiro protagonista estava ali no
canto, quieto, só esperando a oportunidade certa de aparecer e resolver o
problema. É um artifício belamente utilizado e que poucos sabem
desenvolver tão bem.
A trilha sonora, muito interessante, aliás, ficou a cargo dos já colaboradores de longa data do Argento, a banda italiana de rock progressivo Goblin, além também de Keith Emerson, pianista e compositor britânico fundador da banda também de rock progressivo Emerson, Lake & Palmer. Vale mencionar também que Soavi faz uma ponta como policial, na cena em que recebe um pedido de ajuda vindo da casa de Lisa.
"A Catedral", no fim das contas, mostra-se como um bom filme com algumas boas qualidades que, postas na balança, superam seus problemas. Problemas estes que residem no fato de o roteiro ter passado por muitas mãos, que empregaram situações que, por muitas vezes, tornam-se confusas e infundadas do ponto de vista narrativo, uma vez que não explicam nada daquilo que deveria ser explicado.
"A Catedral", no fim das contas, mostra-se como um bom filme com algumas boas qualidades que, postas na balança, superam seus problemas. Problemas estes que residem no fato de o roteiro ter passado por muitas mãos, que empregaram situações que, por muitas vezes, tornam-se confusas e infundadas do ponto de vista narrativo, uma vez que não explicam nada daquilo que deveria ser explicado.
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