quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Viagem ao Planeta Proibido (The Angry Red Planet, 1959)





(The Angry Red Planet, 1959)
Director: Ib Melchior
Roteirista: Ib Melchior, Sidney W. Pink
Gênero: Ficção Científica
Duração: 83 minutos
País: Estados Unidos

Na década de cinquenta não havia muita informação a respeito de Marte, não se sabia com precisão como era sua atmosfera, como era a composição de sua terra, geologia, etc. Essa falta de informação, no entanto, deu origem a uma vasta gama de criatividade da qual surgiram filmes realmente muito interessantes. Acreditava-se, inclusive, que poderia existir vida inteligente nesse planeta vizinho e isso criava, na mente das pessoas daquela época, todo tipo de imagem possível, afinal, seriam os marcianos humanoides? Ou talvez possuíssem formas tão estranhas das quais nunca se viu nada igual antes, tornando impossível imaginar uma forma física?

Com isso somos convidados a embarcar na nave com quatro cientistas rumo ao desconhecido e inexplorado planeta vermelho. Esses quatro cientistas viajam para poder investigar vida inteligente, além, é claro, das outras possíveis formas de vida existentes ali. O que acontece ao grupo, no entanto, não é nada muito agradável. Os cientistas ficam presos no planeta, pois uma espécie de campo de força não os deixa decolar. Buscando meios de sair, um dos integrantes da nave, o Prof. Theodore Gettell (Les Tremayne) avisa a tripulação que a força gravitacional que os prende ao chão é tão forte que seria necessário um motor cem vezes mais potente para conseguir levantar voo. Ou seja, estão de mãos atadas. Não há nada a fazer, pelo menos a princípio. 



Então algumas expedições são realizadas com o intuito de explorar e entender melhor as condições do lugar. Nessas expedições, os cientistas puderam ver um pouco de quase tudo, desde plantas carnívoras gigantes até animais complexos ainda maiores. Aliás, um desses animais, uma mistura de morcego gigante com patas de caranguejo - uma das marcas do filme e que até tem lugar na arte que compõe o poster -, quase foi o responsável pela morte do Prof. Theodore Gettell e pouco tempo antes quase fora a vez da Dra. Iris Ryan (Nora Hayden) – para o desespero do apaixonado Coronel Thomas O'Bannion (Gerald Mohr) –, que fora capturada por uma planta carnívora e salva pelo Dr. Sam Jacobs (Jack Kruschen) e sua arma eletrônica. 





Após alguns percalços que quase levaram a tripulação a morte, eles resolvem então ir além das cordilheiras onde puderam observar um rio de água tão densa cuja composição, como diz a própria Dra. Iris, lembra a consistência do óleo de azeite. Então pegam um bote e começam sua jornada até o outro lado. No meio da jornada conseguem observar no horizonte, através de um binóculo, uma cidade com prédios tão altos quanto as nuvens, mas logo são afugentados por uma espécie de ameba gigante que os obriga desesperadamente a desistir da ideia e voltar para nave.

Parte do filme foi concebida a partir de uma tecnologia muito badalada à época, o CineMagic, que foi primeiramente utilizada nesta obra e que consiste basicamente em usar um filtro vermelho (falando a grosso modo) que causa esse aspecto avermelhado nas cenas. O que acontece é que esse efeito serviu mais para cobrir o evidente baixo orçamento do que qualquer outra coisa, maquiando possíveis problemas técnicos causados pela falta de investimento. Todas as cenas fora da nave possuem esse aspecto criado pelo CineMagic, aliás. 



Além do medo do desconhecido, o diretor e roteirista Ib Melchior também retrata de forma bastante interessante o medo causado pela Guerra Fria na população norte americana. Ao contrário de filmes como “Guerra Entre Planetas” (1955) cuja metáfora consiste numa possível invasão comunista aos Estados Unidos, aqui o diretor pretende tratar do assunto de forma contrária: o que aconteceria se eles invadissem a União Soviética? O que aconteceria se ocorresse um possível embate? Os vermelhos são os inimigos, os monstros a serem combatidos assim como os monstros de Marte, mas será que eles estariam realmente preparados para uma possível incursão nesse perigoso território soviético, caso viesse a acontecer? A forma como os comunistas controlavam sua população também é posta em crítica através das cenas nas quais, de certa forma, os quatro tripulantes são controlados por essa energia que os impede de sair do planeta vermelho, tirando-lhes essa liberdade.

Todos os cenários de incertezas e medo que pairavam na mente da população foram postos no filme. É então que essa nova tecnologia veio a calhar, fazendo parte das metáforas e servido a outro propósito que não apenas maquiar possíveis problemas causados pela falta de dinheiro. 



Tudo isso soa bastante interessante, não? No entanto boa parte da história é comprometida, pois o baixo investimento atrapalhou a parte criativa, limitando, além de outras coisas, a quantidade de cenários e a criação dos monstros que, aliás, são bem modestos - com exceção da forma inteligente, que aparece pouquíssimas vezes justamente por causa disso. Boa parte do filme se passa em apenas um local, que é o interior da nave, e o roteiro além de excessivamente expositivo possui um ritmo lento que vez ou outra compromete a fluidez da trama.

Nem tudo é ruim, no entanto. Muito pelo contrário. O desconhecido é muito bem desenvolvido pelo diretor e roteirista, que a todo o momento coloca perguntas na mente do espectador sobre o que mais a tripulação vai encontrar e quais problemas eles terão de atravessar, uma vez estando do lado de fora da nave, contribuindo com a crescente atmosfera de tensão. Outro ponto a favor é com relação a garota indefesa que tanto aparece nesse tipo de filme, neste caso a Dra. Iris, pode até desempenhar esse papel em algumas passagens, mas que a justiça seja feita, ela é muito mais do que isso, é também quem ajuda a salvar a situação e os que restaram. É uma mudança considerável, uma vez que as personagens femininas não costumavam ganhar com tanta frequência esse grau de importância.



No fim, “Viagem ao Planeta Proibido" se mostra como uma grata surpresa, sendo um daqueles típicos filmes B da década de cinquenta que conquistam pela simplicidade e paixão pelos quais foram concebidos. Não é uma aula de ficção-científica, filmes bem melhores foram feitos ao longo desta década, alguns com orçamento tão baixo quanto, no entanto é uma experiência pela qual vale a pena passar, principalmente se levar em consideração o fato de que foi o primeiro filme a utilizar dessa inovadora tecnologia CineMagic, ou seja, é uma parte interessante da história da ficção-científica e do cinema como um todo que merece ser considerada.  


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