(The Angry
Red Planet, 1959)
Director: Ib
Melchior
Roteirista: Ib
Melchior, Sidney W. Pink
Gênero:
Ficção Científica
Duração: 83
minutos
País:
Estados Unidos
Na década de cinquenta não havia muita informação a respeito
de Marte, não se sabia com precisão como era sua atmosfera, como era a composição de sua terra, geologia, etc. Essa
falta de informação, no entanto, deu origem a uma vasta gama de criatividade da
qual surgiram filmes realmente muito interessantes. Acreditava-se, inclusive,
que poderia existir vida inteligente nesse planeta vizinho e isso criava, na
mente das pessoas daquela época, todo tipo de imagem possível, afinal, seriam os
marcianos humanoides? Ou talvez possuíssem formas tão estranhas das quais nunca
se viu nada igual antes, tornando impossível imaginar uma forma física?
Com isso somos convidados a embarcar na nave com quatro cientistas
rumo ao desconhecido e inexplorado planeta vermelho. Esses quatro cientistas
viajam para poder investigar vida inteligente, além, é claro, das
outras possíveis formas de vida existentes ali. O que acontece ao grupo, no entanto, não
é nada muito agradável. Os cientistas ficam presos no planeta, pois uma espécie de
campo de força não os deixa decolar. Buscando meios de sair, um dos
integrantes da nave, o Prof. Theodore Gettell (Les Tremayne) avisa a
tripulação que a força gravitacional que os prende ao chão é tão forte que
seria necessário um motor cem vezes mais potente para conseguir levantar voo. Ou seja, estão de mãos atadas. Não há nada a fazer, pelo menos a princípio.
Então algumas expedições são realizadas com o intuito de explorar e entender melhor as condições do lugar. Nessas expedições, os cientistas puderam ver um pouco de quase tudo,
desde plantas carnívoras gigantes até animais complexos ainda maiores. Aliás, um desses
animais, uma mistura de morcego gigante com patas de caranguejo - uma das marcas do filme e que até tem lugar na arte que compõe o poster -, quase foi o
responsável pela morte do Prof. Theodore Gettell e pouco tempo antes quase fora a vez
da Dra. Iris Ryan (Nora Hayden) – para o desespero do apaixonado Coronel Thomas
O'Bannion (Gerald Mohr) –, que fora capturada por uma planta carnívora e salva
pelo Dr. Sam Jacobs (Jack Kruschen) e sua arma eletrônica.
Após alguns percalços que quase levaram a tripulação a morte, eles resolvem então ir além das
cordilheiras onde puderam observar um rio de água tão densa cuja composição, como
diz a própria Dra. Iris, lembra a consistência do óleo de azeite. Então pegam um bote e
começam sua jornada até o outro lado. No meio da jornada conseguem
observar no horizonte, através de um binóculo, uma cidade com prédios tão altos quanto as nuvens, mas logo são afugentados por uma espécie de ameba gigante que os
obriga desesperadamente a desistir da ideia e voltar para nave.
Parte do filme foi concebida a partir de uma tecnologia muito badalada
à época, o CineMagic, que foi primeiramente utilizada nesta obra e que consiste
basicamente em usar um filtro vermelho (falando a grosso modo) que causa esse
aspecto avermelhado nas cenas. O que acontece é que esse efeito serviu mais para
cobrir o evidente baixo orçamento do que qualquer outra coisa, maquiando
possíveis problemas técnicos causados pela falta de investimento. Todas as cenas fora da
nave possuem esse aspecto criado pelo CineMagic, aliás.
Além do medo do desconhecido, o diretor e roteirista Ib
Melchior também retrata de forma bastante interessante o medo causado pela Guerra Fria na população norte americana. Ao
contrário de filmes como “Guerra Entre Planetas” (1955) cuja metáfora consiste
numa possível invasão comunista aos Estados Unidos, aqui o diretor pretende
tratar do assunto de forma contrária: o que aconteceria se eles invadissem a
União Soviética? O que aconteceria se ocorresse um possível embate? Os vermelhos são os inimigos, os monstros a serem combatidos assim como os monstros de Marte,
mas será que eles estariam realmente preparados para uma possível incursão nesse perigoso território soviético, caso viesse a acontecer? A forma como os comunistas controlavam sua população
também é posta em crítica através das cenas nas quais, de certa forma, os quatro tripulantes são controlados por essa energia que os impede de sair do planeta vermelho, tirando-lhes essa liberdade.
Todos os cenários de incertezas e medo que pairavam na mente
da população foram postos no filme. É então que essa nova tecnologia veio
a calhar, fazendo parte das metáforas e servido a outro
propósito que não apenas maquiar possíveis problemas causados pela falta de
dinheiro.
Tudo isso soa bastante interessante, não? No entanto boa
parte da história é comprometida, pois o baixo investimento atrapalhou a parte
criativa, limitando, além de outras coisas, a quantidade de cenários e a criação
dos monstros que, aliás, são bem modestos - com exceção da forma inteligente, que aparece pouquíssimas vezes justamente por causa disso. Boa parte do filme se passa em
apenas um local, que é o interior da nave, e o roteiro além de excessivamente expositivo
possui um ritmo lento que vez ou outra compromete a fluidez da trama.
Nem tudo é ruim, no entanto. Muito pelo contrário. O desconhecido é muito
bem desenvolvido pelo diretor e roteirista, que a todo o momento coloca perguntas na
mente do espectador sobre o que mais a tripulação vai encontrar e quais problemas eles terão de atravessar, uma vez estando do lado de fora da
nave, contribuindo com a crescente atmosfera de tensão. Outro ponto a favor é com relação a garota indefesa que tanto aparece nesse tipo de filme, neste caso a Dra. Iris, pode até desempenhar esse papel em algumas passagens, mas que a justiça seja feita, ela é muito mais do que isso, é também quem ajuda a salvar a situação e os que restaram. É uma
mudança considerável, uma vez que as personagens femininas não costumavam ganhar
com tanta frequência esse grau de importância.
No fim, “Viagem ao Planeta Proibido" se mostra como uma grata
surpresa, sendo um daqueles típicos filmes B da década de cinquenta que
conquistam pela simplicidade e paixão pelos quais foram concebidos. Não é uma aula
de ficção-científica, filmes bem melhores foram feitos ao longo desta década, alguns
com orçamento tão baixo quanto, no entanto é uma experiência pela qual vale a pena passar, principalmente se levar em consideração o fato de que foi o primeiro filme
a utilizar dessa inovadora tecnologia CineMagic, ou seja, é uma parte
interessante da história da ficção-científica e do cinema como um todo que merece ser considerada.
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