(Deliria,
1987)
Diretor:
Michele Soavi (como Michael Soavi).
Roteiro: George Eastman (como Lew
Cooper), Sheila Goldberg.
Gênero: Horror
Duração: 90 minutos
País: Itália
O cinema de horror italiano sempre foi um dos mais ricos, possuindo uma enorme lista de diretores consagrados. Diretores como Mario Bava, Dario Argento, Lucio Fulci, Umberto Lenzi, Sergio Martino, Joe D’Amato, Ruggero Deodato, etc. são apenas alguns que contribuíram muito com a popularização e hoje são cultuados mundo afora. Michele Soavi, embora seja um nome menos conhecido dentro dessa enorme lista, também tem sua grande parcela de contribuição. Seu principal filme, como é apontado por muitos, é “Dellamorte Dellamore” (1994), mas não é seu único trabalho digno de ser lembrado pelos fãs do gênero.
Michele Soavi, aliás, começou sua carreira como ator, participando
de filmes conhecidos como o “Pavor na Cidade dos Zumbis” (1980), de Lucio Fulci,
e “Tenebre” (1982) de Dario Argento, por exemplo. Neste último também
participou como segundo assistente do diretor, acompanhando de perto todo o
processo técnico da direção do longa. Foi então coletando experiência ao longo
dos anos até que em 1987 veio seu primeiro filme como diretor, “Deliria” – ou “StageFright”
dentre outros títulos que o filme recebeu à época. No Brasil recebeu o título
de “O Pássaro Sangrento”.
A premissa é bastante simples: Alicia (Barbara Cupisti) é uma atriz que tem sofrido com dores no tornozelo e isso a tem atrapalhado em sua performance. Sua amiga, Betty (Ulrike Schwerk), sugere que vá até o médico mais próximo para olhar a gravidade do ferimento. É importante que seja a clínica mais próxima, uma vez que estão saindo do teatro sem a permissão do diretor que, pouco tempo antes, as havia proibido de deixar o local onde estão ensaiando uma peça, portanto o único lugar que encontraram foi uma clínica psiquiátrica. A especialidade da clínica não as incomoda, afinal um psiquiatra também é médico e entende de anatomia e essas coisas. Ora, eles também estudaram medicina como os outros, apenas tiveram uma especialização diferente. É neste ponto que Soavi tem seu primeiro e grande acerto, ao subverter o que até então tinha sido uma regra nesse tipo de filme. O assassino é apresentado neste momento e, a partir de então, o espectador sabe tudo a seu respeito, como seu rosto, seu nome, Irving Wallace (interpretado por Clain Parker), inclusive sua antiga profissão antes de enlouquecer e ser internado: ator. O maluco então consegue fugir enquanto as duas amigas ainda estão sendo consultadas pelo médico e se esconde no carro, pegando uma carona até o local onde acontecerá a chacina.
Agora que o espectador já sabe tudo sobre o vilão, inclusive
seu rosto, o filme tem tudo para ser um desastre, certo? Errado. Até poderia
ter-se tornado um desastre em outras mãos, mas não nas mãos de alguém que teve
nada mais nada menos do que Dario Argento e Joe D’Amato como mestres. Soavi
desenvolve seu filme em um meio inquietamente claustrofóbico, tenso e sangrento
do momento em que ocorre a primeira morte até a última. Tudo passa a ficar
ainda mais desconfortável quando, após chegar ao local, o assassino passa a vestir-se
como um pássaro, usando uma enorme e sinistra máscara de coruja. A partir disso,
o que importa agora é a maneira como a história vai se desenrolar e como ela
será contada.
Alguns personagens são o ponto fraco, estando
ali apenas para morrer. Boa parte deles, no entanto, contribuem
consideravelmente com o desenvolvimento da trama, como é o caso do odioso
diretor da peça Peter (David Brandon). Por outro lado, Barbara Cupisti – que voltou
a trabalhar com Soavi em “The Church” (1989) e também já trabalhou com Argento
e Fulci – encarna a típica mocinha delicada e indefesa que precisa tornar-se
forte para que consiga passar ilesa pela situação. O espectador se identifica
com moça, que é constantemente maltratada pelo diretor da peça e por alguns dos
seus parceiros de profissão. Ela faz o que pode para permanecer no show, no
entanto trabalha com algumas adversidades que, ao longo da história a
transformam em uma mulher mais forte, embora ainda aparente ser a mesma vulnerável
de antes.
As mortes, que são um dos pontos que mais interessam em
filmes como este, são bastante violentas e criativas. Enquanto um tem seu abdômen
perfurado enquanto o assassino o segura com uma mão através da porta, o outro
tem seu corpo partido ao meio com uma motosserra. Todas as cenas de morte são
extremamente gráficas e dispõem de um excelente trabalho de maquiagem. Aliás, a
utilização dos apetrechos cenográficos do teatro, como a emblemática cena dos
objetos na mesa, para fazer vítimas e participar da ação dos personagens é bastante
interessante, mostrando-se uma boa sacada. Com isso, o assassino vai em busca
de suas vítimas que, por sua vez, fazem o que podem para sobreviver. A utilização
da câmera subjetiva, somada a estes pontos, contribui com a atmosfera tensa
e inquietante instalada no longa, mostrando ser um artifício bastante eficiente.
Há um momento – que é um dos meus favoritos – no decorrer do
filme que foi maravilhosamente bem construído e que merece menção, que é o
momento no qual o assassino vislumbra suas vítimas, todas elas dispostas em
cima do palco, enquanto acaricia um gato, deliciando-se de seu glorioso feito. Cena
inspiradíssima de um novato determinado a mostrar a que veio.
Michele Soavi, portanto, entrega um filme digno de ser apreciado inúmeras vezes tanto por aqueles que já o conhecem quanto por aqueles que ainda não tiveram a
oportunidade e ainda precisam descobri-lo. Méritos de um jovem diretor que, com
muita dedicação e paixão, ousadamente construiu uma obra repleta de momentos insanos e
desconfortáveis, tudo envolto numa atmosfera sufocante através da qual não se
pode escapar.
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