sábado, 10 de fevereiro de 2018

The Creeping Terror (1964)






(The Creeping Terror, 1964)
Diretor: Vic Savage
Roteirista: Robert Silliphant
Gênero: Ficção Científica/Terror
Duração: 77 minutos
País: Estados Unidos


A década de cinquenta e sessenta ficaram marcadas por uma gigante onda de produções B de baixíssimo orçamento. Produções duvidosas que muitas das vezes não entregavam nada que valesse a pena, apesar do empenho e paixão por parte de alguns desses realizadores (vale abrir um parêntese aqui para dizer que, apesar das inúmeras produções B de baixa qualidade, muitas delas se tornaram clássicos e outras passaram a ser cultuadas pelos absurdos da trama. Nem todo filme desta época feito com orçamento reduzido é de se jogar fora. Aproveita-se muita coisa, sim). “The Creeping Terror” é um desses exemplares. Além do baixíssimo orçamento, os responsáveis ainda sofreram para terminar o filme por causa dos inúmeros percalços. O produtor, que pelo visto não estava muito empenhando em terminar a projeto, foi o responsável por perder quase todo o áudio original na pós-produção. O que os obrigou a gravar várias cenas extras e mais áudios para serem repostos, com o objetivo de amenizar o desastre.

Não bastasse perder tanto material assim, o monstro – criativamente bem construído, como apontavam algumas pessoas da época – foi roubado pouco tempo após o início das filmagens. Claro, isso não seria empecilho algum para o diretor, Vic Savage, e sua equipe, uma vez que, mesmo apertados pelo tempo e também pelo pouco dinheiro do qual se dispunham, construíram às pressas outro monstro, mas desta vez usando material caseiro: vários tapetes tirados de suas próprias casas. Parece absurdo, mas é exatamente isso! A equipe se uniu e, com o que tinham em mãos, construíram o monstro rastejante que pode ser visto se locomovendo e fazendo vítimas ao longo da história. 


 
Além de diretor, Vic Savage também interpreta Martin Gordon, que junto de sua esposa, Brett Gordon (Shannon O'Neil), estão voltando de lua mel. Sabemos disso por causa de uma narração em off que permanece durante todo o filme auxiliando a trama. Essa narração em off, aliás, foi uma das gravações feitas posteriormente por causa da perda dos áudios originais. Muitas cenas ficaram sem áudio, então a introdução de um narrador foi uma saída utilizada pela equipa para ajudar a contar a história. O que eles não contavam é que, ao invés de se mostrar um recurso funcional, a narração acabou se tornando um dos grandes problemas do longa. Voltando, o casal presencia a descida de uma nave (que não é nada mais nada menos que um vídeo de um foguete qualquer rodado de trás para frente para que desse a impressão de que estava pousando, ou caindo, ou seja lá qual impressão eles queriam passar com aquilo) entre as árvores no horizonte. O incidente então é rapidamente reportado ao xerife do condado – interpretado por Byrd Holland –, que também é tio de Martin. Já no dia seguinte, uma das duas criaturas da nave vagarosamente foge para começar a matança. 


 
Martin – um policial a espera de uma promoção – e seu tio, o xerife, vão investigar o ocorrido. Além dos dois, Martin também leva sua esposa, que pacientemente os aguarda no carro. Esse é outro momento que fica evidente a falta de dinheiro. A nave nunca é mostrada por completo, apenas algumas partes que, aliás, não se assemelham em nada com a nave mostrada pouco tempo antes caindo entre as árvores. A dupla, após alguns momentos analisando o objeto, escutam sons vindos lá de dentro. O xerife então tem a brilhante ideia de entrar para ver o que é que está emitindo o som, porque, segundo ele, pode haver pessoas lá dentro ainda vivas. Claro, não dá outra e o velho é morto pela segunda criatura. Martin, por sua vez, vai até sua esposa, no carro, e a acalma. Em seguida pede por ajuda usando o rádio de comunicação do carro de seu tio.

O exército então chega, ou pelo menos o grupo do Coronel James Caldwell (John Caresio). Os soldados adentram a nave e veem uma criatura presa por metais na lateral interna da nave. Não há, no entanto, nenhum vestígio do xerife. Como os soldados não conseguiram avaliar bem a criatura por esta estar se mexendo muito, resolvem então montar uma base militar no escritório do xerife, além de também montar uma vigilância constante ao redor da nave. Em toda a cena praticamente não há diálogos, apenas a narração que enfadonhamente vai explicando tudo o que acontece de maneira praticamente didática. Já no escritório do xerife, agora base militar, o narrador explica que os soldados estão esperando um especialista para cuidar do assunto, o Dr. Bradford (William Thourlby), a maior autoridade em missões espaciais que poderia levar a comunicação com outras formas possíveis de vida alienígenas. Martin então se mostra irritado, pois o governo parece mais preocupado com o monstro do que com as vítimas. 



Enquanto isso a cena é cortada para um casal se pegando no campo, entre as árvores. O monstro então vagarosamente vai atrás do dois. O namorado foge, a mocinha, no entanto, permanece ali, deitada e gritando de desespero ao mesmo tempo em que espera a criatura. É inacreditável a vagareza com a qual o bicho se locomove. Percebe-se de imediato que qualquer um com um mínimo de disposição nunca se deixaria ser pego. Não precisa sequer correr para conseguir fugir, o fato de simplesmente andar num ritmo um pouco melhor já é o suficiente para livrar-se. Ou seja, tem de fazer muita, muita força para conseguir ser morto.  


  
Voltando ao local onde está localizada a nave, Martin encontra-se com o recém-chegado Dr. Bradford que, empolgado, logo diz que essa pode ser uma das únicas grandes oportunidades que a humanidade já teve. A cena não dura tanto tempo quanto as outras, então logo corta para casa de Martin, onde sua esposa está à pia lavando a louça. Martin chega pouco tempo depois com um amigo do trabalho que o espera na sala enquanto Martin vai a cozinha apalpá-la. Inacreditável constatar, desde já, que não há uma cena sequer na qual o casal apareça sem estar aos amassos. Essa parte específica até se torna involuntariamente engraçada ao mostrar os dois se beijando no sofá enquanto o amigo, quieto, apenas bebe sua cerveja enquanto os observa. É uma daquelas tentativas de desenvolver os personagens que acaba falhando miseravelmente. 
  

O tempo passa e a criatura continua perambulando por aí fazendo suas vítimas. Em alguns pontos o diretor opta por utilizar a câmera subjetiva para mostrá-la se aproximando. O problema é que ele não percebe que esse recurso apenas serve para tornar a cena dolorosamente ridícula, pois amplia a sensação de lentidão da criatura com relação às vítimas. Há um momento, por exemplo, antes de uma mãe e seu bebê serem mortos, no qual a câmera subjetiva se aproxima da mulher que nada faz além de gritar e esperar enquanto se enrola com as roupas no varal. Se resolvesse virar as costas e saísse andando certamente não teria morrido.

Mas se não bastasse tudo isso, o auge da bobagem é quando, sabe-se lá como, a criatura consegue invadir uma boate onde as pessoas preferem brigar entre si a correr para salvar a própria vida. É o cúmulo do ridículo e sequer dá para tirar algumas risadas daquilo, pelo contrário, fica-se é injuriado com tamanha bobagem. E a contagem de cadáveres continua aumentando. Enquanto isso, do outro lado da cidade, está Martin com sua esposa fazendo o que sabem fazer de melhor: estão, claro, beijando-se! Óbvio! 


 
No fim, após o coronel Caldwell e seus soldados matarem o animal – que também sabe-se lá como conseguiu sair da boate e voltar –, Dr. Bradford finalmente faz sua grande descoberta. Esses aliens na verdade são experimentos. Melhor dizendo, são “laboratórios móveis” capazes de ingerir seres humanos para fazer análises químicas com a finalidade de detectar suas fraquezas para posteriormente enviá-las ao espaço, para a civilização alienígena que as enviou. Martin então adentra a nave para destruir a transmissão, no entanto já é tarde. Os resultados já tinham sido enviados.

Então, após uma hora e dezesseis minutos de sofrimento (que mais pareciam quatro horas), o filme acaba com Dr. Bradford morrendo no colo de Brett enquanto diz alguma bonita frase de efeito acerca da imensidão do universo complementando com outra frase de cunho religioso, para, além de ruim, tornar-se também brega. 

Esse é sem dúvidas um dos filmes mais dolorosamente enfadonhos já feitos. Não é por menos que está listado no ranking dos cem piores, de acordo com "The Official Razzie Movie Guide", escrito por John Wilson - criador do Golden Raspberry Award, que é uma cerimônia que visa premiar os piores filmes da indústria cinematográfica. Baixo orçamento não é sinônimo de filme ruim, aliás nem é o problema aqui – apenas contribuiu com o péssimo resultado final cujos verdadeiros problemas vão muito além do dinheiro aplicado ao projeto. O roteiro, ou melhor dizendo, a falta dele o é. Não há sequer uma situação realmente bem desenvolvida aqui. Não há sequer situações verdadeiramente desenvolvidas. Tudo que se vê na tela é um emaranhando de cenas repetitivas e pessoas aleatórias morrendo, e a história é tão infantil que mais parece ter sido escrita por uma criança na véspera das filmagens. Se não bastasse tudo isso, as dificuldades como o roubo e os materiais perdidos na sala de edição contribuem ainda mais com o resultado negativo. 



 
As cenas com as intermináveis narrações em off também testam a paciência do espectador. Se fossem narrações complementares – como era o propósito inicial –, tudo bem, mas o problema é que são mais do que isso, são constantemente expositivas no que tange a descrição da cena. Basta o personagem tomar uma atitude qualquer para que o narrador explique novamente tudo aquilo que acabou de acontecer. Qual a finalidade de dizer com palavras aquilo que já foi dito com gestos? Para que se repetir de novo e de novo?

Alguns filmes são tão ruins, mas tão ruins que acabam tornando-se bons, ou seja, tornam-se verdadeiras comédias involuntárias ou quaisquer outras coisas que acabam por fazer valer a pena. Neste caso até dá para rir de uma situação aqui ou outra ali, no entanto esses momentos são raros se comparados com a obra em si, que insiste, assim como o monstro, em arrastar-se vagarosamente até o finalmente. Claro que o empenho do diretor Vic Savage em terminar o filme após tantos desastres é algo a se valorizar. Talvez seja sua paixão em fazer cinema que o fez seguir em frente. Ou talvez apenas estivesse cumprindo prazos, afinal esse é um filme que foi encomendado para TV. Certo é que "The Creeping Terror" consegue falhar em todas as esferas possíveis e sequer diverte. É um daqueles filmes que talvez valham mais pela curiosidade apenas, porque pelo resto... não, definitivamente.




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