(The Creeping Terror, 1964)
Diretor: Vic Savage
Roteirista: Robert Silliphant
Gênero:
Ficção Científica/Terror
Duração: 77
minutos
País:
Estados Unidos
A década de cinquenta e sessenta ficaram marcadas por uma
gigante onda de produções B de baixíssimo orçamento. Produções duvidosas que muitas
das vezes não entregavam nada que valesse a pena, apesar do empenho e paixão
por parte de alguns desses realizadores (vale abrir um parêntese aqui para
dizer que, apesar das inúmeras produções B de baixa qualidade, muitas delas se
tornaram clássicos e outras passaram a ser cultuadas pelos absurdos da trama.
Nem todo filme desta época feito com orçamento reduzido é de se jogar fora.
Aproveita-se muita coisa, sim). “The Creeping Terror” é um desses exemplares.
Além do baixíssimo orçamento, os responsáveis ainda sofreram para terminar o
filme por causa dos inúmeros percalços. O produtor, que pelo visto não estava muito
empenhando em terminar a projeto, foi o responsável por perder quase todo o
áudio original na pós-produção. O que os obrigou a gravar várias cenas extras e
mais áudios para serem repostos, com o objetivo de amenizar o desastre.
Não bastasse perder tanto material assim, o monstro –
criativamente bem construído, como apontavam algumas pessoas da época – foi roubado
pouco tempo após o início das filmagens. Claro, isso não seria empecilho algum
para o diretor, Vic Savage, e sua equipe, uma vez que, mesmo apertados pelo
tempo e também pelo pouco dinheiro do qual se dispunham, construíram às pressas
outro monstro, mas desta vez usando material caseiro: vários tapetes tirados de
suas próprias casas. Parece absurdo, mas é exatamente isso! A equipe se uniu e,
com o que tinham em mãos, construíram o monstro rastejante que pode ser visto
se locomovendo e fazendo vítimas ao longo da história.
Além de diretor, Vic Savage também interpreta Martin Gordon,
que junto de sua esposa, Brett Gordon (Shannon O'Neil), estão voltando de lua
mel. Sabemos disso por causa de uma narração em off que permanece durante todo
o filme auxiliando a trama. Essa narração em off, aliás, foi uma das gravações
feitas posteriormente por causa da perda dos áudios originais. Muitas cenas
ficaram sem áudio, então a introdução de um narrador foi uma saída utilizada
pela equipa para ajudar a contar a história. O que eles não contavam é que, ao invés de se mostrar um recurso funcional, a narração acabou se tornando um dos grandes problemas do longa. Voltando, o casal presencia a descida
de uma nave (que não é nada mais nada menos que um vídeo de um foguete qualquer
rodado de trás para frente para que desse a impressão de que estava pousando,
ou caindo, ou seja lá qual impressão eles queriam passar com aquilo) entre
as árvores no horizonte. O incidente então é rapidamente reportado ao xerife do
condado – interpretado por Byrd Holland –, que também é tio de Martin. Já no
dia seguinte, uma das duas criaturas da nave vagarosamente foge para começar a matança.
Martin – um policial a espera de uma promoção – e seu tio, o
xerife, vão investigar o ocorrido. Além dos dois, Martin também leva sua esposa,
que pacientemente os aguarda no carro. Esse é outro momento que fica evidente a
falta de dinheiro. A nave nunca é mostrada por completo, apenas algumas partes que,
aliás, não se assemelham em nada com a nave mostrada pouco tempo antes caindo
entre as árvores. A dupla, após alguns momentos analisando o objeto, escutam
sons vindos lá de dentro. O xerife então tem a brilhante ideia de entrar para
ver o que é que está emitindo o som, porque, segundo ele, pode haver pessoas lá
dentro ainda vivas. Claro, não dá outra e o velho é morto pela segunda criatura. Martin, por sua vez, vai até sua esposa, no carro,
e a acalma. Em seguida pede por ajuda usando o rádio de comunicação do carro de seu tio.
O exército então chega, ou pelo menos o grupo do Coronel James
Caldwell (John Caresio). Os soldados adentram a nave e veem uma criatura presa por metais
na lateral interna da nave. Não há, no entanto, nenhum vestígio do
xerife. Como os soldados não conseguiram avaliar bem a criatura por esta estar
se mexendo muito, resolvem então montar uma base militar no escritório do
xerife, além de também montar uma vigilância constante ao redor da nave. Em
toda a cena praticamente não há diálogos, apenas a narração que enfadonhamente
vai explicando tudo o que acontece de maneira praticamente didática. Já no
escritório do xerife, agora base militar, o narrador explica que os soldados
estão esperando um especialista para cuidar do assunto, o Dr. Bradford (William
Thourlby), a maior autoridade em missões espaciais que poderia levar a
comunicação com outras formas possíveis de vida alienígenas. Martin então se
mostra irritado, pois o governo parece mais preocupado com o monstro do que
com as vítimas.
Enquanto isso a cena é cortada para um casal se pegando no
campo, entre as árvores. O monstro então vagarosamente vai atrás do dois. O
namorado foge, a mocinha, no entanto, permanece ali, deitada e gritando de
desespero ao mesmo tempo em que espera a criatura. É inacreditável a vagareza
com a qual o bicho se locomove. Percebe-se de imediato que qualquer um com um mínimo
de disposição nunca se deixaria ser pego. Não precisa sequer correr para conseguir fugir,
o fato de simplesmente andar num ritmo um pouco melhor já é o suficiente para
livrar-se. Ou seja, tem de fazer muita, muita força para conseguir ser morto.
Voltando ao local onde está localizada a nave, Martin
encontra-se com o recém-chegado Dr. Bradford que, empolgado, logo diz que essa
pode ser uma das únicas grandes oportunidades que a humanidade já teve. A cena não
dura tanto tempo quanto as outras, então logo corta para casa de Martin, onde
sua esposa está à pia lavando a louça. Martin chega pouco tempo depois com um
amigo do trabalho que o espera na sala enquanto Martin vai a cozinha apalpá-la.
Inacreditável constatar, desde já, que não há uma cena sequer na qual o casal
apareça sem estar aos amassos. Essa parte específica até se torna
involuntariamente engraçada ao mostrar os dois se beijando no sofá enquanto o
amigo, quieto, apenas bebe sua cerveja enquanto os observa. É uma daquelas
tentativas de desenvolver os personagens que acaba falhando miseravelmente.
O tempo passa e a criatura continua perambulando por aí
fazendo suas vítimas. Em alguns pontos o diretor opta por utilizar a câmera
subjetiva para mostrá-la se aproximando. O problema é que ele não percebe que
esse recurso apenas serve para tornar a cena dolorosamente ridícula, pois
amplia a sensação de lentidão da criatura com relação às vítimas. Há um
momento, por exemplo, antes de uma mãe e seu bebê serem mortos, no qual a câmera
subjetiva se aproxima da mulher que nada faz além de gritar e esperar enquanto se enrola com as roupas no varal. Se resolvesse virar
as costas e saísse andando certamente não teria morrido.
Mas se não bastasse tudo isso, o auge da bobagem é quando,
sabe-se lá como, a criatura consegue invadir uma boate onde as pessoas preferem
brigar entre si a correr para salvar a própria vida. É o cúmulo do ridículo e
sequer dá para tirar algumas risadas daquilo, pelo contrário, fica-se é
injuriado com tamanha bobagem. E a contagem de cadáveres continua aumentando. Enquanto
isso, do outro lado da cidade, está Martin com sua esposa fazendo o que sabem fazer
de melhor: estão, claro, beijando-se! Óbvio!
No fim, após o coronel Caldwell e seus soldados matarem o
animal – que também sabe-se lá como conseguiu sair da boate e voltar –, Dr.
Bradford finalmente faz sua grande descoberta. Esses aliens na verdade são
experimentos. Melhor dizendo, são “laboratórios móveis” capazes de ingerir
seres humanos para fazer análises químicas com a finalidade de detectar suas fraquezas para posteriormente enviá-las ao espaço, para a civilização
alienígena que as enviou. Martin então adentra a nave para destruir a transmissão, no
entanto já é tarde. Os resultados já tinham sido enviados.
Então, após uma hora e dezesseis minutos de sofrimento (que
mais pareciam quatro horas), o filme acaba com Dr. Bradford morrendo no colo de
Brett enquanto diz alguma bonita frase de efeito acerca da imensidão do
universo complementando com outra frase de cunho religioso, para, além de ruim, tornar-se também brega.
Esse é sem dúvidas um dos filmes mais dolorosamente
enfadonhos já feitos. Não é por menos que está listado no ranking dos cem
piores, de acordo com "The Official Razzie Movie Guide", escrito por John Wilson - criador do Golden Raspberry Award, que é uma cerimônia que visa premiar os piores filmes da indústria cinematográfica. Baixo orçamento não é sinônimo de filme ruim, aliás nem é o problema
aqui – apenas contribuiu com o péssimo resultado final cujos verdadeiros problemas vão muito além do dinheiro aplicado ao projeto. O roteiro, ou melhor dizendo, a falta dele o é. Não
há sequer uma situação realmente bem desenvolvida aqui. Não há sequer situações verdadeiramente desenvolvidas. Tudo que se vê na tela é um emaranhando de cenas repetitivas e pessoas aleatórias morrendo, e a história é tão
infantil que mais parece ter sido escrita por uma criança na véspera das
filmagens. Se não bastasse tudo isso, as dificuldades como o roubo e os
materiais perdidos na sala de edição contribuem ainda mais com o resultado
negativo.
As cenas com as intermináveis narrações em off também testam a
paciência do espectador. Se fossem narrações complementares – como era o propósito inicial –, tudo bem,
mas o problema é que são mais do que isso, são constantemente expositivas no que tange a descrição da cena. Basta o personagem tomar uma
atitude qualquer para que o narrador explique novamente tudo aquilo que acabou de acontecer. Qual a finalidade de dizer com
palavras aquilo que já foi dito com gestos? Para que se repetir de novo e de novo?
Alguns filmes são tão ruins, mas tão ruins que acabam tornando-se
bons, ou seja, tornam-se verdadeiras comédias involuntárias ou quaisquer outras
coisas que acabam por fazer valer a pena. Neste caso até dá para rir de uma situação aqui
ou outra ali, no entanto esses momentos são raros se comparados com a obra em
si, que insiste, assim como o monstro, em arrastar-se vagarosamente até o
finalmente. Claro que o empenho do diretor Vic Savage em terminar o filme após
tantos desastres é algo a se valorizar. Talvez seja sua paixão em fazer cinema
que o fez seguir em frente. Ou talvez apenas estivesse cumprindo prazos, afinal esse é um filme que foi encomendado para TV. Certo é que "The Creeping Terror" consegue falhar em todas as esferas possíveis e sequer diverte. É um daqueles filmes que talvez valham mais pela curiosidade apenas, porque pelo resto... não, definitivamente.
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