domingo, 29 de dezembro de 2024

Marcas da Violência (A History of Violence, 2005)

 

Nota: 

Diretor: David Cronenberg
Roteirista: John Wagner, Vince Locke, Josh Olson
Elenco: Viggo Mortensen, Maria Bello, Ed Harris, William Hurt, Ashton Holmes, Peter MacNeill, Stephen McHattie, Greg Bryk...
Duração: 1h 36 min
País: Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha

Não é bem um filme de terror, mas se encaixa bem por causa da estranheza e da tensão que a história causa. Além disso, foi dirigido por ninguém mais, ninguém menos que David Cronenberg, um dos maiores do cinema de gênero. Com sua especialização no body horror, aqui, pelo contrário, o filme foge disso. Aliás, esta é uma fase bastante distinta da carreira do mestre, que deixa o horror de lado para se dedicar ao suspense e ao drama mais focados na realidade.

Tom Hall (Viggo Mortensen) e Edie Stall (Maria Bello) são donos de uma cafeteria na pacata cidade de Millbrook, no interior dos Estados Unidos. A família, também composta pelo filho Jack (Ashton Holmes) e pela filha Sarah (Heidi Hayes), é posta de cabeça para baixo após dois assassinos invadirem a cafeteria, obrigando Tom a se defender e também a defender seus funcionários usando o única recurso disponível no momento, que é matando-os. A partir disso, um homem misterioso (interpretado por Ed Harris) passa a perseguir a família. Muitas dúvidas começam a pairar sobre Tom. Afinal, quem é esse sujeito misterioso que o persegue e o que ele quer com o calmo e carismático patriarca?

Conhecido pela violência gráfica, Cronenberg aqui se contém, priorizando o desenvolvimento dessa família frente aos terríveis acontecimentos, mas principalmente priorizando Tom, que evidentemente ama a família acima de qualquer coisa, sendo um ótimo marido e pai. As dúvidas que começam a surgir na cabeça do espectador fazem total sentido frente ao que lhes é posto, principalmente diante da ambiguidade que se é criada com relação a Tom. Afinal, como um homem calmo, carismático, de fala e andar mansos consegue usar tamanha força e acurácia para conter dois assassinos violentos? E o mérito de Cronenberg em desenvolver certas pistas ajuda a tornar este um dos clássicos da década de 2000, com um suspense crescente e uma história que faz com que o espectador se preocupe e torça para que tudo dê certo para a família e, claro, para com o personagem principal também.

Recheado de interpretações fortes, “Marcas da Violência” é uma grande adição ao catálogo de filmes do diretor, que, mesmo aqui, ainda sabe usar a violência gráfica quando ela é necessária, sem parecer gratuita ou deslocada. Destaque total para Viggo Mortensen, Ed Harris e para William Hurt, este que tem uma pequena, porém crucial e marcante aparição. 

 

(Textos Curtos - Considerações)

 

sábado, 28 de dezembro de 2024

Textos Curtos (Algumas Considerações)

Estou inaugurando esta nova sessão dentro do blog por um motivo muito simples: a falta de tempo para escrever textos maiores e, honestamente, um pouco de preguiça na hora de redigi-los. Em meio à correria do dia a dia, na maioria das vezes, acabo priorizando outras atividades e esta, que é escrever sobre os filmes que eu amo, acaba ficando de lado. Por isso penso que, talvez, escrevendo textos menores, eu consiga escrever com mais frequência. Talvez seja apenas uma sessão que utilizarei quando não conseguir escrever textos maiores, ou talvez, caso se torne muito frequente, passe a ser o formato oficial. Ou talvez seja apenas mais uma tentativa frustrada que não irá para frente. Independente do que aconteça, vai valer a pena tentar. Dito isso, aqui também escreverei sobre filmes de outros gêneros, que não apenas terror, ficção científica e afins. Tentarei trazer outros gêneros, desde que sejam filmes que me agradem. Talvez, vez ou outra, apareça algum que não me agrade; então utilizarei o espaço como meio de desabafo, afinal, só escrevo sobre filmes que não gosto quando sou decepcionado por eles. Quer dizer, primeiro vem minha vontade de assistir a certo filme, acarretada pelo interesse e pelas expectativas; porém, quando a expectativa não é alcançada, vindo em seguida a decepção ou qualquer outro sentimento que o valha, só então escreverei, como disse, usando o espaço como desabafo. Não acontecerá com frequência, mas acontecerá vez ou outra. Também utilizarei esse espaço para indicar curtas-metragens. Há muitos interessantíssimos no YouTube e tantos outros internet afora que vale a pena parar por alguns instantes para falar sobre eles. Enfim, sem mais delongas, que seja inaugurado esse meu singelo espaço e veremos até onde isso vai. 


Lista:

1) Separados pelo Sangue (Shotgun Stories, 2007);

2) Marcas da Violência (A History of Violence, 2005);

3) Rota da Morte (Dead End, 2003);

4) Haloween III: A Noite das Bruxas (Halloween III: Season of the Witch, 1982);

5) O Sequestro do Voo 375 (2023);

6) Tentáculos (Deep Rising, 1998);

7) Fantasmas (Phantoms, 1998);

8) Vigiados (The Rental, 2020);

9) Cubo (Cube, 1997);

10) Vírus (Virus, 1999);

11) Desconhecido (Unknown, 2011);

12) Nandor Fodor and the Talking Mongoose (2023);

13) Cegos, Surdos e Loucos (See No Evil, Hear No Evil, 1989);

14) Y2K: Bomba-Relógio (Y2K, 2024);

15) Get Away (2024);

16) A Entidade (Sinister, 2012);

17) Saw (Jogos Mortais, 2004);

18) O Dia do Terror (Valentine, 2001);

19) Heart Eyes (2025);

20) Cemitério Maldito (Pet Sematary, 1989);

21) Sala Verde (Green Room, 2015);

22) Hotel da Morte (The Innkeepers, 2011);

23) Último Suspiro (Last Breath, 2025);

24) O Macaco (The Monkey, 2025);

25) The Man in the White Van (2023)

Textos Curtos: Separados Pelo Sangue (Shotgun Stories, 2007)

 

Nota: ★★★★
 
Diretor: Jeff Nichols
Roteirista: Jeff Nichols
Elenco: Michael Shannon, Douglas Ligon, Barlow Jacobs, Michael Abbott Jr., Travis Smith, Lynnsee Provence, David Rhodes, Glenda Pannell...
Duração: 1h 32min
País: Estados Unidos
 
Separados pelo Sangueé o primeiro longa-metragem de Jeff Nichols e conta a história de duas famílias cujo único elo, embora fraco, era o pai. Com o falecimento deste, os irmãos Son Hayes (Michael Shannon), Kid Hayes (Barlow Jacobs) e Boy Hayes (Douglas Ligon), que levam uma vida sem grandes perspectivas, com empregos simples e horizontes limitados, acabam entrando em conflito com a família atual do falecido. Os três foram abandonados ainda crianças e cresceram alimentados por um grande rancor, que a mãe passou a eles durante toda sua criação. O conflito entre as duas famílias tem início no funeral, quando os irmãos decidem comparecer, e Son, o filho mais velho, faz um breve discurso sobre o quão ruim era seu pai. O discurso irrita a outra família e, a partir daí, dá-se início ao conflito entre ambas as partes.

A história é contada em ritmo lento que preza principalmente o desenvolvimento dos três irmãos e o quão ressentidos – principalmente Son – são por causa do abandono que sofreram por parte do pai; um ressentimento e ódio alimentandos principalmente por sua mãe.

Mostrando a vida daquela família, é possível observar um cotidiano extremamente simples em subempregos em uma dinâmica ressaltada pela bela trilha sonora muitas vezes melancólica. Sem grandes perspectivas, os irmãos parecem apenas existir. Não há muita diversão naquele meio, apenas trabalho e uma lealdade bastante evidente entre os três. Uma lealdade que os leva até às últimas consequências.

O conflito entre as duas famílias se intensifica, e o diretor se mostra competente nesses momentos, pois parte do ocorrido não é mostrada, mas sugerida a partir do início e do fim de sua ocorrência. Isto é, muitas vezes vemos o início e as consequências das brigas, e o que ocorre entre esses momentos fica a cargo da imaginação do espectador, muito por que não é importante sob o ponto de vista narrativo o que ocorre durante, mas sim o que acarretou e suas consequências. Essa maneira sutil de retratar os assuntos combina com a proposta em termos de condução da trama.

Separados pelo Sangue” é, portanto, uma história sobre ódio, ressentimento, sobre ficar preso a um passado doloroso, e o quão destrutivo isso pode ser, tudo mostrado de modo sutil em uma dinâmica que busca evidenciar o quão simples é aquele ambiente rural no qual vivem. 

 

(Textos Curtos - Considerações)

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Sinais (Signs, 2002)

 

💀💀💀💀

Diretor: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan
Elenco: Mel Gibson, Joaquin Phoenix, Rory Culkin, Abigail Breslin, Cherry Jones, M. Night Shyamalan, Patricia Kalember, Ted Sutton, Merritt Wever...
Gênero: Suspense
Ano: 2002
País: Estados Unidos
Duração: 106 min

Em 2017 eu escrevi uma série de textos, sendo que a maioria deles já está perdida há tempos. Três deles foram usados para preencher lacunas na maratona que me propus a fazer no mês no Halloween. Com o objetivo de não perder mais nenhum dos textos que escrevo, este blog foi criado. Na verdade, não somente com esse intuito, mas também para simplesmente compartilhar minha paixão pelos filmes. Não sou crítico e nem tenho a intenção de ser. Os textos que escrevo são apenas minha forma honesta de enxergá-los. Dito isso, dentre os textos perdidos, hoje acabei encontrando um sobre este filme em questão. Na verdade não é um texto em formato de resenha ou crítica, são apenas pontos que levantei que, à época, me chamaram atenção para o bem ou para o mal: são pontos positivos e negativos. Aliás, mais positivos que negativos. Uma revisão futura se fará necessária, e quando esse dia chegar, talvez eu escreva novamente sobre ele, dessa vez de forma diferente. Ou melhor, da forma como deve ser, padronizado com o tipo que costumo escrever quando venho ao blog publicá-los. Enfim, segue o texto - para, espero, nunca mais se perder.

 SPOILERS:

Pontos positivos:

. Interessante notar que o filho de Graham sempre aparece ao lado do Tio ou do lado contrário; e a filha, por outro lado, sempre próxima a ele. O que sinaliza seu afastamento devido à culpa atribuída a seu pai por ter “deixado” sua mãe morrer no acidente. Isso é reforçado quando se vê o filho dizendo ao Tio que gostaria que ele fosse seu pai.

. Sinais pela casa, como o de um crucifixo na parede do quarto de Graham, indicam que, por mais que ele tenha perdido sua fé, de uma maneira ou de outra ela ainda permanece ao redor. Pode indicar que, por mais que tente rejeitar o Deus que deixou sua mulher morrer, essa fé que sempre esteve ao seu lado pode não ter sido completamente abandonada. Como uma pessoa que tenta rejeitar uma ideia qualquer, mas não consegue fazê-la totalmente senão por insegurança ou medo, por qualquer outra coisa que de alguma forma ainda o prende àquilo. Independente do que realmente seja, o que permeia de fato a cabeça de Graham é que não importa o que ele faça, Deus não irá lhe ajudar, e isso demonstra o quão difícil é esse combate espiritual interno.

. Após duras batalhas intra e interpessoais altamente emocionais, a família se vê unida quando os quatro integrantes se abraçam aos prantos num juntar. É só então que a casa começa a ser invadida, quando há finalmente o perdão e o trágico passado é deixado para trás. Mostrando que, agora que a família está finalmente unida, a luta contra o mal pode enfim acontecer... não há luta efetiva sem amor e união.

. Questões envolvendo o destino são trabalhadas pelo diretor durante toda a obra. Tudo acontece por um motivo e nada é aleatório. Enquanto acompanha a invasão alienígena que tem assolado o planeta, lembranças dolorosas surgem cada vez com mais intensidade à sua mente. Lembranças do momento em que vira sua esposa pela última vez antes de vir a falecer. Essas lembranças vêm em fragmentos e vão se intensificando à medida que a invasão vai ficando mais séria. Graham percebe, enfim, que tudo aconteceu por um único motivo: manter sua família unida. Ao final, após a criatura ter jogado um gás tóxico nas narinas de seu filho, Graham diz que esse é o motivo pelo qual o menino tem asma, que seria impossível ser uma coincidência. Às vezes um mal acontece e o que se percebe é que ele viera a fim de um bem maior. Afinal todos esses transtornos envolvendo os alienígenas e seus problemas internos apenas acontecem para que no final ele recupere sua fé e sua família, unindo-os de maneira ainda mais forte do que antes.

. É um filme que, embora triste, é ainda mais leve que seus antecessores. É essa a cara que Shyamalan quis dar a esse seu projeto. E se encaixou como uma luva, pois é um humor até certo ponto discreto que se apresenta de forma visual ou em pequenos diálogos, servindo bem como alívio cômico em cenas mais emocionalmente densas.   

Ponto negativo:

. Ainda com todas as metáforas, água é ainda água, e mataria todos os alienígenas de uma vez só caso houvesse uma tempestade, por exemplo. É um ponto simples, mas primordial, pois é o alicerce para que outros pontos sejam desenvolvidos, como metáforas sobre fé e religião, entretanto é um alicerce extremamente frágil, pois, independente dessas metáforas, os invasores continuaram sendo sensíveis a ela. Portanto, conseguindo evitar esse deslize, “Sinais” arrancará verdadeiros sorrisos de alegria com suas cenas de suspense magistralmente criadas (a cena do porão é a melhor de todo o filme) e das piadas que vão aparecendo no decorrer da trama. 

 (Texto Escrito em 2017




 

Sessão Dupla: Os Goonies (1985) e Conta Comigo (1986)

      Os Goonies (The Goonies, 1985) – Richard Donner Conta Comigo (Stand by Me, 1986) – Rob Reiner Dentre as várias combinações possíveis...