🎃🎃🎃🎃
Diretor: Jim Cummings
Roteiro: Jim Cummings
Elenco: Jim Cummings, Riki Lindhome, Robert Forster, Chloe East, Will Madden, Annie Hamilton, Jimmy Tatro, Hannah Elder, Kelsey Edwards, Skyler Bible, Anne Sward, Demetrius Daniels, Kevin Changaris, Chase Palmer, Daniel Fenton Anderson, Rachel Jane Day, Marshall Allman, Gabriel Casdorph...
Gênero: Terror/ Dark Humor
Ano: 2020
País: Estados Unidos
Duração: 84 min
Ultimamente tem havido uma boa leva de diretores estreantes cujas suas primeiras obras estão aí para mostrar que eles não estão para brincadeira. Entre alguns desses diretores está o ótimo Aneesh Chaganty, cujos primeiros filmes são o excelente e criativo “Buscando...” (2018), que é um filme que se passa inteiramente nas telas de computadores e celulares, webcams etc., e o seu mais recente “Fuja” (2020), filme muito divertido e tenso sobre uma mãe superprotetora e sua filha cadeirante; mais recentemente, ainda, a diretora galesa Prano Bailey-Bond nos mostrou que é uma grande fã de filmes de terror e da história dos Video Nasties ao dar vida ao seu ótimo “Censor” (2021), mostrando que é uma diretora para ficar de olho em seus novos projetos; Jim Cummings, que é o diretor do filme que será abordado neste texto, também aparece como um grande promissor nessa lista.
Seu projeto até então mais recente, “O Lobo de Snow Hollow”, que é seu terceiro longa-metragem, chama atenção ao mesclar muito bem terror e comédia numa congelante e intrigante história que se passa na pacata cidade de Snow Hollow, cidade interiorana famosa por suas pistas de esquis e pelos seus baixos índices de violência. Pacata, porém, até o momento em que uma turista é brutalmente assassinada pelo que parece ser um animal gigante, no caso a suspeita é de que talvez seja um lobo. Um policial, John Marshall (Jim Cummings), tenta, junto do Sheriff Hadley (grande Robert Forster em seu último papel antes de sua morte), solucionar o crime antes que a imprensa caia em cima deles, e, claro, para que a cidade, então alvoraçada, possa voltar ao normal. O que acontece, no entanto, é o contrário. Novas mortes, cada vez mais violentas, acontecem, fazendo aumentar a pressão nas costas de John, um pai ausente que tem passado por um processo de divórcio e que já há muito luta contra seus problemas de alcoolismo e raiva.
John é o único policial da corporação a rejeitar a ideia de um lobo gigante à solta ou, pior, a ideia de um lobisomem – segundo alguns amigos. Pegadas gigantes mais mordidas e corpos despedaçados fazem com que seus colegas pensem na tal possibilidade de um lobisomem. Já John, por outro lado, trabalha com a razão, uma vez que as mortes possuem características que não seriam possíveis ser associadas a um animal. Esse conflito de ideias e interpretações sobre os crimes protagonizam algumas das cenas mais hilárias do filme. John, embora se esforce em conter sua raiva, não consegue segurar sua frustração diante de seus colegas de trabalho, e com isso acaba perdendo a paciência com eles em vários momentos. Uma situação particular entre ele e o Sheriff, mais seus problemas com a esposa e a filha, e a pressão de solucionar assassinatos cada vez mais violentos e enigmáticos fazem o policial sucumbir.
As mortes, aliás, não são mostradas on-screen, já as perseguições às vítimas e até mesmo algumas injúrias, sim. Embora a certa altura o espectador já saiba, ou pelo menos tenha uma boa ideia sobre os crimes, essa decisão de não mostrar tudo ajuda no suspense, e com isso a surpresa reservada ao final é recompensadora. Jim Cummings sabe como conduzir a trama até esse surpreendente final que com certeza vai pegar muita gente de surpresa. O ponto fraco dentro disso, por outro lado, é a decisão de mostrar certas cenas, talvez, precipitada e prematuramente. Não é nada que chegue a comprometer, no entanto.
Além das mortes intrigantes, do suspense e das surpresas, o filme trabalha com duas boas sacadas, a primeira delas são as dicas visuais, a segunda, as dicas sonoras. Com relação à primeira, é interessante notar que o diretor mostra uma característica que é comum a todas as vítimas. Assim, uma vez identificada essa característica é possível saber exatamente quem será a próxima a morrer. Já com relação à segunda, a dica sonora indica, mesmo que de forma óbvia, o momento em que o ser que está causando terror na cidade vai ser pego, bem como também aponta para o problema de raiva do personagem principal. Esses são artifícios eficientes, pois permitem que o espectador mais atento se engaje e, por causa disso, também se antecipe aos acontecimentos; deixa o filme mais divertido.
As relações pessoais de John, vale mencionar, é outro dos bons pontos do filme, pois ajudam a humanizar o personagem bem como ajudam na criação do humor e dos alívios cômicos. Há uma cena, por exemplo, em que ele vai à casa do interesse amoroso da filha após um perigoso acontecimento, para protagonizar, embora um pouco deslocada, uma das cenas mais hilárias de todo filme. Em seguida, em contrapartida, dá-se início a uma triste cena que leva a acontecimentos que vão fazer com que o protagonista se afunde ainda mais nos seus problemas, o que é determinante para fazer com que ele resolva tomar certas decisões que vão culminar no interessante final.
“O Lobo de Snow Hollow”, para todos os efeitos, como mostra o pôster, é um filme diferente sobre o que aponta sua arte, e sobre o que se propõe. Tem bons momentos de suspense e as mortes, embora off-screen, são legais de imaginar porque os corpos, quando aparecem no dia seguinte, aparecem completamente dilacerados, isso ajuda a criar na mente do espectador o que pode ter acontecido para o corpo ter ficado destroçado daquela forma. O trabalho de maquiagem, nesse sentido, é muito bem feito e é outro grande mérito. A comédia se encontra na medida certa e em harmonia com o terror, embora um pouco exagerada em um momento ou dois. Assim, Jim Cummings mais uma vez – sua obra anterior já mostrava muito de seu potencial – mostra que é um desses novos diretores para se prestar atenção. Além de protagonizar, ele dirige e escreve os próprios filmes. Se continuar seguindo essa linha traçada em sua filmografia até aqui, pode ter certeza que vai longe. Ou talvez ele resolva mudar e surpreender. Esperemos para ver.
Texto escrito em 2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário