🎃🎃🎃½
Diretor: Damien Leone
Roteiro: Damien Leone
Elenco: Lauren LaVera, David Howard Thornton, Elliott Fullam, Sarah Voigt, Kailey Hyman, Casey Hartnett, Charlie McElveen, Amelie McLain, Johnath Davis, Samantha Scaffidi, Leah Voysey, Chris Jericho...
Gênero: Terror
Ano: 2022
PaÃs: Estados Unidos
Duração: 138 min
Com o orçamento baixÃssimo de apenas 35 mil dólares, o primeiro filme solo de Art, O Palhaço, lucrou incrÃveis 419 mil dólares em bilheteria mundial, sendo que desse montante geral, 339 mil foram apenas nos Estados Unidos e Canadá. Um sucesso retumbate! Óbvio, uma franquia estava prestes a nascer; a popularidade de Art estava nas alturas (e ainda está) assim como a arrecadação do longa mundo afora. Com isso, o orçamento para esse segundo filme subiu consideravelmente para 250 mil dólares. Um valor alto quando se comparado com o orçamento minguado que teve seu antecessor – mas ainda assim baixo para os padrões hollywoodianos. Dito isso, com um valor investido maior, será que o faturamento também aumentou? E a história, melhorou?
O que fica evidente nesta continuação são as histórias pessoais de cada personagem e como elas se encaixam na trama central. Ao contrário do primeiro filme, que se baseava única e exclusivamente na violência propagada por Art, aqui as coisas mudam um pouco. Claro, a violência está presente de maneira mais gráfica e perturbadora do que no primeiro – embora eu ache que a cena da mulher sendo cerrada ao meio no primeiro filme é a mais violenta da franquia até aqui. No entanto, Damien Leone tenta equilibrar essa violência com um pouco de drama pessoal. Isto é, os personagens agora possuem um arco, mesmo que esse arco não seja complexo ou completo. Ainda há lacunas que o diretor e roteirista não conseguem preencher. Contudo, o fato é que agora o filme possui substância, o que, tendo em vista que se trata de um filme com quase duas horas e vinte de duração, é essencial para conseguir manter espectador atento e engajado, mesmo que esse espectador seja um fã inveterado de filmes gore. Sem substância, um filme com essa duração certamente, em algum momento, entediaria.
Os irmãos Sienna (Lauren LaVera) e Jonathan (Elliott Fullam) estão passando por um momento de luto pelo falecimento de seu pai. Cada um lidando com a perda à sua própria maneira. O menino mergulha no mundo do terror, que é sua paixão; é fã de filmes de terror e de histórias de assassinatos e serial killers. Tanto é que, no Halloween que está prestes a chegar, sua fantasia é justamente a de Art, O Palhaço, que, tempos atrás (primeiro filme), assassinou violentamente algumas pessoas. Fascinado pelo macabro, Jonathan é logo repreendido pela irmã e pela mãe, Barbara (Sarah Voigt), que explicam o quão desrespeitoso é vestir-se como um assassino real, mesmo que no Halloween. Sienna, aliás, que desaprova e se preocupa com o comportamento do irmão, tenta superar a morte do pai, por exemplo, recriando uma fantasia que pretende usar na data comemorativa, que foi desenhada por ele antes de seu falecimento. O pai era uma espécie de artista e ambos os irmãos se apegam a esse fato para conseguir atravessar esse momento, e Sienna demonstra muito disso. A interação entre os três é o ponto central da profundidade que Leone busca dar ao filme: como eles interagem entre si, com os outros e, claro, como irão reagir quando o sangue começar a jorrar. É uma grande mudança proposta pelo roteiro que busca realmente algo diferente do que havia sido feito antes, mas que não se sustenta em um filme tão longo. Por exemplo, a cena em que Sienna sonha com Art é excessivamente longa. É uma cena crucial para o restante do filme, pois estabelece alguns medos da personagem e inclusive reações frente alguns desses medos, mas... É longa demais. O que quer dizer que há elementos que se repetem e que poderiam ter sido excluÃdos eu enxugados do roteiro. A música que se ouve no sonho, por exemplo, se repete demais e, se Leone tinha a intenção de criar uma música que se tornasse icônica (como a que se ouve nos filmes do Freddy com as crianças cantando e pulando corda), o tiro acabou saindo pela culatra. E não é que a música seja ruim, é apenas pela sua repetição e também pelo tom, que não se prende à memória, diferente da mencionada entre parênteses. Mas tudo bem, porque, mesmo assim, é uma boa canção dentro do contexto estabelecido.
Tantas outras cenas sofrem desse mesmo mal do prolongamento desnecessário, com diálogos que se estendem e assim por diante. Dar substância à trama não é o mesmo que alongá-la. Por isso, o filme acaba se tornando enfadonho em alguns momentos. É um filme ruim por causa disso? Muito pelo contrário; aqui o diretor acerta mais do erra. Já foi mencionado que muitas cenas e diálogos se prolongam mais do que o necessário, o que é bastante negativo, por outro lado, a substância dada aos personagens e, claro, a violência apresentada são dois grandes pontos positivos. Além disso, a produção se destaca com uma cinematografia bonita com tons neons e cores frias e quentes que se misturam e uma trilha sonora bonita com sintetizadores que remetem aos anos 80, que era outro objetivo do diretor: buscar elementos desta época para tornar o filme o mais oitentista possÃvel. Ele conseguiu.
Sobre os personagens, aliás, há uma personagem especÃfica
que se torna companhia de Art, que é a 'Pale Girl'. Uma garota, também vestida de
palhaço, que só Art enxerga, e chega a ser tão sádica quanto. O palhaço
assassino agora ganha uma comparsa que o segue em sua jornada sangrenta.
Aliás, uma jornada também repleta de humor negro, que se faz presente desde o
começo, quando, após ressuscitar em uma sala que parece uma espécie de IML, o
palhaço mata o médico e vai até a lavanderia lavar sua roupa encharcada de
sangue para continuar sua matança. Inclusive é nesta lavanderia que ele
conhece Pale Girl. São cenas violentÃssimas e engraçadas, que levam o tom do filme para essa dualidade. Há muitos momentos cômicos em meio ao banho de sangue, e essa é uma mistura que o diretor sabe realizar muito bem, pois não descamba para o exagero, mesmo que o filme possa ser visto desta forma. O humor não é deslocado, muito pelo contrário, ele reafirma a violência de modo a mostrar o quão sádico Art é.
Como a continuação ainda é uma produção completamente independente, toda a maquiagem e efeitos também foram feitos pelo diretor, que é um expert no assunto. Sem um grande estúdio por trás, assim como no primeiro filme, Leone pôde usar toda a sua criatividade nas mortes e na hora de recriá-las. Verdade seja dita: tudo isso só foi possÃvel porque não há ninguém grande da indústria por trás dizendo o que pode ou não ser mostrado – e isso é justamente um dos grandes problemas das produções que sofrem com cortes e interferências o tempo todo. Assim, Leone está livre para fazer o que quiser da forma como quiser, e é por isso que os filmes de Art são tão violentos. O terceiro, a propósito, pelo que se diz por aÃ, consegue ser ainda mais violento (quando chegar a hora, o abordarei por aqui).
Os filmes de Leone, portanto, vêm em um crescente; começando
lá atrás com seus curtas e depois passando por “All Hallows’ Eve”, onde Art aparece pela primeira vez, seguindo para sua estreia em um filme solo até esta continuação, fica perceptÃvel a crescente qualidade
técnica, que abrange o roteiro e a produção, e avança em direção a outros elementos.
Os personagens são melhores e mais bem desenvolvidos, e novas caracterÃsticas são
incluÃdas, como a agora evidente e sobrenatural faceta do
assassino. E, óbvio, tudo isso se reflete no faturamento, que foi nada menos que incrÃveis 15 milhões e 700 mil dólares mundo afora – sucesso financeiro que coroa o esforço do diretor em entregar algo fora do mainstream, com nÃveis de gore que vão à s alturas e que seriam com certeza rejeitados por grandes estúdios. São melhoras consideráveis que fazem cada vez mais aumentar a curiosidade com relação ao que está por vir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário