🎃🎃🎃
Diretor: Cristian Ponce
Roteiro: Gabriela Capello, André Pereira, Cristian Ponce
Elenco: Marjorie Estiano, Pablo Guisa Koestinger, Javier Drolas, Reynaldo Machado, Thelmo Fernandes, Chandelly Braz, Ângela Rabello, Helena Varvaki, Rafael Canedo...
Gênero: Terror / Suspense
Ano: 2024
País: Brasil
Duração: 91
Disponível pela Netflix desde o dia 23 deste outubro, “Abraço de Mãe” é mais uma adição do terror nacional - que vem chamando atenção do público ao longo dos anos - ao catálogo dessa plataforma. Dirigido pelo argentino Cristian Ponce, o filme passou por alguns festivais onde foi elogiado pelo público e por parte da crítica. É uma empreitada do diretor em terras tupiniquins onde ele explora o horror cósmico e o psicológico, criando uma narrativa tensa e de desconforto.
Marjorie Estiano é Ana, uma bombeira que durante as fortes e torrenciais chuvas que devastaram o Rio de Janeiro no ano de 1996, retorna de um afastamento após um trauma sofrido em uma ocorrência tempos atrás. Anteriormente designada ao setor administrativo, Ana acredita já estar pronta para voltar a trabalhar com resgates. No entanto, logo em sua primeira ocorrência após o retorno, que a bombeira se deparará com uma situação perigosa. Ao atender um chamado sobre um asilo com sérios riscos de desabamento, ela se vê frente a situações que nunca esperaria passar em sua vida, onde precisará lidar tanto com os perigos externos quanto com seus próprios demônios internos, à medida que traumas de um passado distante retornam para assombrá-la.
Ana é uma bombeira determinada que busca a redenção após ter paralisado na ocorrência responsável por afastá-la do Corpo de Bombeiros. Após passar por médicos e psiquiatras, a constatação de que não apresenta nenhum sinal de depressão é um dos fatores que fazem com que seus superiores a designem novamente para o trabalho na rua, como costumava fazer. Agora é o momento em que ela busca provar seu valor e suas capacidades. O problema é que, uma vez adentrando o asilo, os residentes ali tinham planos diferentes dos dela e de sua equipe. Contrários ao plano de evacuação, fazem de tudo para permanecer. O motivo, Ana descobre da pior forma. Tendo de lidar com suas memórias de infância, ela se vê em meio ao que parece ser um culto a alguma entidade cósmica. A partir dessa definição, o diretor, que já havia dado indícios desse horror lovecraftiano logo no início, ao mostrar tentáculos percorrendo o galpão da primeira ocorrência de Ana antes de ela e sua equipe partirem para o asilo, aprofundando o contexto e criando suspense sobre o que seria essa entidade e o que realmente está acontecendo. Nesse meio tempo, a mente da personagem se mostra confusa em relação às memórias e ao que está ocorrendo, muitas vezes acarretando riscos ao objetivo da equipe. Assim, ela luta tanto para se manter sã quanto para salvar os idosos de um possível desabamento.
A ambientação é inquietante e se mostra eficiente em grande parte graças ao talento de Marjorie, que consegue transmitir seus medos e angústias junto à urgência
de retirar aquelas pessoas dali devido ao risco iminente, numa atuação cuja dramaticidade é crescente e atinge o ápice quando ela descobre que, no
meio daqueles idosos, há uma menina. As fortes chuvas intensificam o clima tenso, mostrando que não há muitos lugares para onde ir, e isso é frequentemente reforçado por meio de notícias transmitidas por rádios ou televisores, que relatam o quão desolada ficou a cidade, com enchentes que têm derrubado casas e causado mortes. O pecado cometido pelo diretor, no entanto, reside no
fato de que o filme parece se perder entre dois caminhos: o de desenvolver a
trama calmamente, sugerindo o que pode estar por trás dos tentáculos que são vistos pelos cômodos da casa e dos demônios pessoais da
personagem; e com a urgência de se evacuar o local o mais rápido possível. Esses dois fatores se contradizem neste contexto, pois a trama, ao buscar introduzir elementos sobre o possível culto sinistro, acrescentando novas
informações sobre quem são aqueles idosos e as pessoas responsáveis pelo local, acaba por cansar o espectador. A repetição ineficaz do senso de urgência, em contraposição, retira a força do primeiro fator,
e junto disso as decisões duvidosas da protagonista destoam um pouco desse senso de pressa inicial, que se arrasta sem levar a lugar algum. A
personagem passeia entre os cômodos, conversa com sua equipe, pede ajuda pelo
rádio, anda mais um pouco pela casa, e toda essa repetição se revela inócua frente ao terror que vai sendo construído lentamente.
No final das contas, o filme se mostra eficiente até certo
ponto. É interessante acompanhar a história da personagem e toda sua tentativa de
superação pessoal e profissional. Os elementos lovecraftianos, incluindo o final em que uma criatura é revelada, são instigantes e, tanto pela ambientação quanto pela atuação de Marjorie, o filme acaba valendo a pena. Há também uma singela homenagem ao mestre John Carpenter, mais no início do filme, antes de a equipe chegar ao asilo, que os fãs perceberão rapidamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário