terça-feira, 22 de outubro de 2024

Maratona de Halloween 2024: #12, O Hóspede (The Guest, 2014)

 

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Diretor: Adam Wingard
Roteiro: Simon Barrett
Elenco: Dan Stevens, Sheila Kelley, Maika Monroe, Joel David Moore, Brendan Meyer, Leland Orser, Lance Reddick, Tabatha Shaun, Chase Williamson, Steve Brown, Brenden Roberts...
Gênero: Suspense / Thriller / Ação / Terror
Ano: 2014
País: Estados Unidos
Duração: 101 min

Adam Wingard é diretor responsável por algumas obras interessantes; diretor do excelente “Você é o Próximo” (“You're Next”, 2011), de alguns segmentos em filmes como “V/H/S” (tanto primeiro e segundo filmes, 2012 e 2013, segmentos “Tape 56” e “Phase I Clinical Trials”, respectivamente), e também de obras questionáveis como a continuação de “A Bruxa de Blair” (“Blair Witch”, 2016) e o fracasso que foi “Death Note” (2017), por exemplo, além dos atuais blockbusters onde o monstro Godzilla enfrenta King Kong (filmes de 2021 e 2024). Como o assunto é cinema de terror, os que interessam passam longe destes últimos. E é então que entra a obra em questão: o interessantíssimo e intrigante “O Hóspede” (“The Guest”, 2014) que, convenhamos, não é terror puro, mas possui uma mistura interessante que envolve elementos deste gênero com ação e suspense.

David (muito bem interpretado por Dan Stevens) logo após ser dispensado do exército, onde sofreu um atentado que quase lhe custou a vida numa guerra no oriente médio, chega à casa da família Peterson, família de seu melhor amigo que acabou vindo a falecer nesse mesmo ataque. Com algumas dúvidas, principalmente por parte do pai dessa família, Spencer Peterson (Leland Orser), e por sua filha, Anna Peterson (Maika Monroe), mas convencidos por Laura Peterson (Sheila Kelley), mãe e esposa, David logo é carinhosamente integrado à família, que insiste que ele fique com eles até que resolva o que fazer a seguir, afinal ele acabou de voltar da guerra e ainda não tem um destino específico traçado. A partir daí uma conexão começa a se formar com todos os membros dessa família, inclusive com os dois anteriormente duvidosos sobre o caráter do rapaz, mas principalmente com o filho caçula dessa família, Luke Peterson (Brendan Meyer) – Anna Peterson é a filha do meio e o rapaz que morreu na guerra é o mais velho –, que vive sofrendo bullying na escola e que é ajudado por David, como se este realmente fosse seu irmão mais velho.

É interessante notar que esse misterioso ex-soldado realmente desenvolve afeição pela família. A forma como ele se comunica e, principalmente, age, passa a sensação de que, apesar de ninguém ali ter informações o bastante a seu respeito, todos se sentem confortáveis em sua presença. Laura logo passa a enxerga-lo como se fosse seu filho (muito disso tem relação direta com o luto pelo qual ela tem passado). Spencer, embora hesitante no começo, se aproxima tanto do rapaz que passa até a confidenciar seus problemas referentes ao trabalho e preocupações. Luke, quieto e tímido, é o que mais se apega, principalmente após o ocorrido no bar, onde presencia David dando o troco nos meninos que lhe bateram na escola, dando-lhes uma surra muito bem dada numa cena extremamente satisfatória. É Anna Peterson, por outro lado, que demora a ser conquistada pelo rapaz, e quando o é, não é uma confiança que perdura por muito tempo. Aliás, é ela a responsável por ir a fundo na vida de David com intuito de descobrir quem é ele realmente. E é a partir daí que o filme tem uma grande e excelente reviravolta. Tudo o que foi visto num primeiro momento passa a ser questionado no segundo, porém, observa-se que as situações que se sucedem não invalidam por definitivo o que havia sido construído até então, pois as ações tomadas por David são justificadas por meio de algo muito, muito maior. Ele passa a agir de forma extremamente racional – doa a quem doer, como já dizia o poeta –, "até seu filho entenderia o que preciso fazer agora" é uma fala de David bastante autoexplicativa. E aqui entram questionamentos a respeito de algumas teorias da conspiração que muito já foi discutido por aí sobre o governo dos Estados Unidos eventualmente fazer testes em seus soldados (há teorias sobre isso sobre a Guerra do Vietnam e, óbvio, sobre a do Iraque e tantas outras; alguns outros filmes inclusive já falaram sobre o assunto, mesmo que nas entrelinhas, como "Alucinações do Passado", cujo título original é "Jacob's Ladder", de 1990, dirigido por Adrian Lyne). No entanto, embora haja espaço para isso dentro da história, o foco não é desenvolvê-la a ponto de se fazer deste um filme crítico e profundo. O assunto é mencionado de modo a dar profundidade ao personagem e à história e, ao mesmo tempo, seguir como condutor que ajude a levar a trama para frente. E vale ressaltar que funciona muito bem. Inclusive fazendo o espectador questionar o comportamento de Anna que, se não tivesse tomado a decisão de procurar informações sobre o rapaz, possivelmente nada do que se desencadeou a partir disso teria acontecido.

Parte do sucesso da obra se deve a Dan Stevens, que consegue passar esse mistério característico de seu personagem. Ele é amável, amigável, compreensivo e disposto a ajudar literalmente com o que for preciso, e muitas vezes o faz sem sequer ter recebido o pedido de ajuda. Por outro lado, seu jeito sério, introspectivo, de fala mansa e movimentos calmos demonstram a frieza que muito provavelmente desenvolveu no exército, e tudo isso contribui para deixar seu personagem, além de cativante, também intrigante.

A trilha sonora é outro ponto forte. Buscando emular as trilhas dos anos 80, é repleta de sintetizadores. O diretor, que é fã de John Carpenter, pediu para o compositor referenciá-lo. Por isso os sintetizadores usados aqui são do mesmo tipo que o mestre usou no seu icônico “Halloween III: A Noite das Bruxas” (“Halloween III: Season of the Witch”, 1982). Parte da trilha que pode ser escutada em momentos de transição é muito parecida, aliás. E as referências e homenagens não param por aí. Na festa de Halloween no fim do filme é possível observar na decoração da escola as três máscaras usadas no mesmo filme citado, que são as máscaras do Jack O’ Latern, da bruxa e do esqueleto (quem assistiu ao filme de 1982 vai logo perceber).

Assim, Adam Wingard entrega um filme intrigante com elementos de terror, suspense e ação (que se apresenta a partir da segunda metade) com personagens carismáticos e envolventes, principalmente o personagem hóspede; é também inquietante e muitas vezes divertido – não no sentido de ser engraçado, mas no sentido de que essa uma hora e quarenta de duração passa muito rápido com os acontecimentos que se desenrolam lentos no início e frenéticos no final.

 


 

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