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Diretor: Christophe Gans
Roteiro: Roger Avary
Elenco: Radha Mitchell, Laurie Holden, Sean Bean, Deborah Kara Unger, Kim Coates, Tanya Allen, Alice Krige, Jodelle Ferland, Colleen Williams, Ron Gabriel...
Gênero: Terror
Ano: 2006
País: Canadá/França/Estados Unidos/Japão
Duração: 125 min
Um termo que tem se popularizado por aí ultimamente é o “comfort movie”, que nada mais nada menos são aqueles filmes que, como o próprio nome diz, trazem conforto a quem assiste. São filmes que proporcionam sensações agradáveis como a de aconchego, por exemplo. Assistir a esse tipo de filme pode trazer paz a quem não está em um bom momento; a quem tem passado por algum tipo de dificuldade emocional... E são filmes que estão relacionados com alguns elementos dentre eles a nostalgia. Dito isso, muitos “comfort movies” têm relação direta com um passado agradável e feliz de quem os assiste. Não têm necessariamente de ser de um gênero específico. Por isso, muitas pessoas têm muitos filmes de terror como sendo um deles. Eu, no caso, possuo muitos que vão desde comédias, passando por dramas e, claro, chegando ao meu tão amado terror. “Silent Hill”, que abordarei aqui, é um deles. E não o farei de modo a compará-lo com o jogo. Não quero dizer se é uma adaptação fiel ou não. Isso não vem ao caso. O objetivo deste texto é simplesmente expor o carinho que tenho por esse filme que, com seus acertos e seus erros, acabou se enquadrando, para mim, já há algum tempo dentro desta categoria. O jogo, embora eu adore, nunca cheguei a passar da metade. Com o remake chegado ao PS5 agora talvez seja uma boa oportunidade de enfim finalizá-lo. Mas é um assunto para outro momento.
“Terror em Silent Hill” (“Silent Hill”, 2006) foi dirigido pelo francês Christophe Gans, que após ter chamado atenção com seu filme anterior, “O Pacto dos Lobos” (“Le pacte des loups”, 2001), foi aos Estados Unidos para dirigir essa adaptação, após anos tentando obter os direitos de filmagem. Foi após ter gastado seu próprio dinheiro gravando cenas onde ele misturava e sobrepunha cenas com a trilha sonora dos jogos e também depois de ter enviado à Konami uma entrevista onde ele dizia o quão importante o jogo era para ele, que finalmente conseguiu os direitos. Junto dele estava o roteirista Roger Avary, responsável por colocar no papel a adaptação.
Sonâmbula e tendo muitos pesadelos com o tal lugar chamado “Silent Hill”, a jovem Sharon (Jodelle Ferland) quase morre ao sair de casa em um desses episódios e ir para a beira de um abismo, onde só não despenca lá de cima, pois sua mãe, Rose (Radha Mitchell), a impede de cair no último momento. Ambos pai, Christopher Da Silva (Sean Bean) e Rose, possuem opiniões distintas sobre o que fazer com a filha. Enquanto o primeiro defende a ideia de que ela precisa de medicamentos e hospital, a mãe, por outro lado, defende que o melhor a se fazer e leva-la a esse lugar, afinal, como Sharon foi adotada, talvez se eles voltassem ao lugar de onde ela pudesse ter vindo, melhoras à saúde mental da filha poderia ocorrer, por meio de lembranças, talvez. No meio dessa discordância Rose resolve pegar a filha e ir até a cidade dos sonhos da menina. É a policial Cybil Bennett (Laurie Holden), no entanto, ao duvidar de que Sharon é realmente filha de Rose (na cabeça da policial, talvez a menina tivesse sido sequestrada – ela desenvolve essa ideia ao ver a menina chorando em um posto de gasolina com a mãe), que, pode-se dizer, ajuda a dar início ao pesadelo no qual Rose vivenciará nos momentos seguintes. Desesperada, ela foge da policial rumo à cidade onde, logo em sua entrada, sofre um acidente e desmaia. Ao acordar percebe que a filha não está mais no carro. É então que a mãe sai desesperada à sua procura e todo o pesadelo dá-se início.
“Silent Hill” é uma cidade fantasma onde um nevoeiro de cinzas perpétuo toma conta, com casas em situações extremamente precárias, algumas destruídas, e entidades macabras. Uma sirene toca de tempos em tempos como um aviso sombrio de que algo macabro está prestes a acontecer. Quando isso ocorre, a cidade deixa de ser o que é para se tornar algo ainda pior. Rose acaba descobrindo da pior forma possível.
Toda a construção da cidade com seus locais fúnebres e sombrios passam uma sensação de desconforto que se alinha ao fato de que, uma vez estando na cidade, dificilmente você conseguirá sair, se é que conseguirá de fato. Todas as entradas e saídas encontram-se bloqueadas por enormes abismos. A única forma de fugir dali é atravessando-os, o que é impossível. A atmosfera claustrofóbica é construída por meio desse pilar. As personagens estão presas naquele ambiente e não importa o que elas façam ou por onde vão, haverá sempre algo entre a cidade e a saída que as impedirão de fugir. “Silent Hill”, portanto, acaba se tornando um labirinto infinito. A trilha sonora, a propósito, tem papel fundamental nisso. O uso de pianos e violinos, em algumas ocasiões, ajudam a construir e a manter o clima de tensão. A música tema de Sharon, inclusive, é a mais bela de todo o filme e uma das minhas preferidas dos filmes de terror desta década. Ela é um pouco fúnebre e, ao mesmo tempo, doce e até, por que não, reconfortante de algum modo. E é interessante notar esse choque de elementos, pois, acredito, foi exatamente esse o objetivo dos criadores: querer passar a sensação de aconchego que toda mãe tem quando está com o filho, mas, tendo em mente a situação na qual se está inserida, o desespero para que não ocorra o pior. Vale ressaltar que, tirando “The Ring of Fire”, de Johnny Cash, que toca numa ocasião após Rose ter sobrevivido à sirene, toda e qualquer outra música da trilha tem sua ligação com o jogo, sendo ela retirada diretamente ou modificada de alguma forma. E essa, da qual menciono, embora não tenha elementos consonantes e dissonantes (mistura muito característica em trilhas que trazem desconforto), é eficiente em passar a emoção citada e muito disso por causa de sua simplicidade. Não é o tipo de música rebuscada cheia de características, aliás muito pelo contrário. E esse é um dos fatores que a tornam interessante. É de longe a minha preferida do filme.
Quando a história por si só me chama atenção, e junto há mais elementos que se destacam, como a trilha, já está feito todo o ingrediente para me ganhar. Muitos filmes, sejam eles de terror ou drama (há um filme em que Bill Murray atua, “Flores Partidas”, cujo título original é “Broken Flowers”, de Jim Jarmusch, que eu simplesmente amo por causa dessa combinação; foi nele que conheci a maravilhosa “There is an End”, de Holly Golightly), me conquistam por causa disso. Música é extremamente importante pra mim, assim como cinema o é, portanto quando há essa mistura maravilhosamente bem feita como no filme citado entre os parênteses – e aqui vou citar mais outro: “Donnie Darko” (2001), de Richard Kelly, que me apresentou a Echo and The Bunnymen, que amo – e tantos outros é quando eles passam de ser simples filmes para fazerem parte integrante de minha vida. Claro que “Terror em Silent Hill” não chega a pertencer a um nível tão alto como os citados anteriormente, mas é um filme cujo qual nutro um carinho justamente por causa dessa combinação. A história pode não ser nada demais, mas a forma como foi construída, junto com a inserção da trilha, me fazem nutrir esse carinho e também a colocá-lo no grupo dos meus "comfort movies" pessoais.
Para além disso, há também a violência. O terceiro ato é bastante gráfico e violentíssimo, inclusive com direito a uma cena de estupro bizarra envolvendo arames farpados numa igreja que, vale dizer, tem papel fundamental na história. É dentro dela que Rose faz questionamentos pertinentes sobre fanatismo, fundamentalismo e como esses líderes religiosos usam disso para manipular; são assuntos que ressoam muito nos dias de hoje. Isto é, além de tudo, ainda há uma mensagem sobre os danos que o fundamentalismo religioso causa nas sociedades. Ao completar o filme observa-se que tudo aquilo só ocorreu, ou ocorreu por força maior por causa disso. Sem ele, muito do que se vê seria com certeza diferente. E esse é outro ponto de acerto.
No final, embora não seja um filme genial com mensagens profundas, uma direção magistral e roteiro complexo, é um filme que cumpre seu papel ao entreter e questionar algumas questões e, também, mesmo que levemente, passar essa mensagem. Se é fiel ou não ao jogo, no meu caso específico, não vem muito ao caso. No futuro, após zerar o remake do PS5 e retornar ao do PS1, voltarei a rever e, talvez minha opinião mude um pouco. O bom é que, independentemente disso as características que ajudam a obra ser o que é continuarão lá. E o que é o bom e ruim não são conceitos que dependem de uma opinião específica. Quer dizer, as pessoas podem muito bem gostar do que é ruim e não gostar do que é bom. O que é bom e ruim não é definido por gosto pessoal. Por isso a cautela. Enfim, talvez este seja um assunto para um tipo de texto diferente numa outra ocasião. No mais, este texto – que procurei redigir num formato diferente também, diga-se de passagem – termina por aqui.
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