Diretor: Christophe Deroo
Roteiro: Christophe Deroo, Clement
Tuffreau
Elenco: Rusty Joiner, Sigrid La Chapelle, Rhoda Pell, Hassan Galedary.
Gênero: Horror/Thriller
Ano: 2016
País:
França/Estados Unidos
Duração: 75
min
Apareceu no catálogo do Netflix há algum tempo, um dos
filmes (debute de Christophe Deroo que, antes disso, havia
dirigido alguns curtas de terror e ficção) que mais tem dividido opiniões, lado
a lado com “Mother!”, do Aronofsky – claro, guardando suas devidas proporções. Isso se deve ao fato de a trama não dar ao
espectador muitas pistas do que realmente está acontecendo. O filme se encerra
sem uma conclusão fechada, ou seja, não diz o que aconteceu de fato, ao
contrário, deixa para que o espectador reflita e tente achar uma conclusão para
aquilo. É aberto a várias interpretações, algumas bem interessantes, aliás. No
entanto, não cabe a este texto discutir essas possíveis teorias (talvez num
texto futuro). Aqui, serão ressaltados apenas alguns pontos da história, para
que talvez ajude você, leitor, a decidir se quer assistir ou não ao filme.
O filme se inicia com o diretor mostrando, por meio de
alguns ângulos abertos, o local onde a história vai se desenrolar: uma
cidadezinha pequena no meio do deserto, isolada em meio às colinas, num tempo
ensolarado e seco. A música, que acompanha a abertura, remete bastante aos filmes
oitentistas e já é uma pista de que há algo errado acontecendo naquela
cidadezinha.
Sam é um vendedor ambulante, do tipo que viaja de cidade a
cidade vendendo seus produtos na porta das casas por onde passa. Acontece que
Sam chega a esta cidadezinha e não encontra ninguém. A cidade está deserta e
não há indício algum de que possa haver alguém por ali.
O vendedor então visita às casas e nenhuma parece haver alguém
morando – apesar dos móveis ainda estarem todos lá dentro, como pode ser observado
ao olhar pela janela –, com exceção de uma onde se ouve sons vindos da
televisão, que em seguida é desligada por alguém que tenta fazer com que o vendedor não perceba que há de fato
alguém ali dentro. Ou seja, a única casa possivelmente habitada, os moradores não querem
saber de visitas.
Conforme o dia passa, em seu carro, Sam ouve pelo rádio uma
espécie de programa policial onde um tal de “Eddy” fala sobre um assassino
perigoso que está à solta nas redondezas. Esse radialista, aliás, repete
algumas vezes que a justiça será feita e que tal assassino não sairá impune da cidade.
Típico programa sensacionalista onde o ouvinte pode inclusive interagir com o radialista enviando
denúncias, comentários ou quaisquer outras coisas que desejar.
Após várias tentativas frustradas de encontrar alguém, Sam
volta ao local onde deixou o carro. Já pensando em ir embora, tenta
ligá-lo, no
entanto o carro não funciona. Após alguns ajustes no motor e algumas
tentativas, acaba fazendo-o funcionar. Entretanto, apesar de
finalmente ter conseguido, Sam não enxerga benefício algum em sair
daquela
cidade naquele momento, afinal ali está para conseguir clientes, então
com o
intuito de não perder viagem, prefere invadir o quarto de um pequeno
motel, aparentemente completamente vazio, para
passar a noite. Mas Sam é honesto, ele não passaria a noite em um lugar
como este sem pagar pela estadia; é o que acontece no dia seguinte.
Além da cidade deserta, outro ponto de estranheza é uma luz
vermelha que Sam, pouco tempo antes, tinha observado estática no céu, no lugar onde era
para estar o sol. Uma luz vermelha, forte e estranhamente imóvel. Ao amanhecer, antes de
deixar o motel, deixa um bilhete com os dizeres “Sam was here” (Sam esteve
aqui).
Somando a luz vermelha mais a cidade deserta, as coisas pioram
quando bilhetes aparecem em seu carro e mensagens no seu pager, chamando-o de
“molestador de crianças”, “assassino” e tantas outras atrocidades.
Esta sinopse, embora um pouco longa, parará por aqui, pois,
acredito que quanto menos você souber do que se trata, melhor será sua
experiência. No entanto, deixarei um trailer no final do texto para os
mais curiosos.
O roteiro tem os méritos de transformar a trama em algo
realmente intrigante ao optar por não contar nada além do necessário. Aliás, o
roteiro diz muito pouco sobre os fatos estranhos que acontecem. Assim como o
personagem, nós, espectadores, também não sabemos muito do que está acontecendo,
a não ser pelas pouquíssimas pistas deixadas ao longo do filme.
O fato de a cidade estar no meio do nada e as coisas
acontecerem de maneira a impedir Sam de deixar o local, transforma a trama em
algo claustrofobicamente inquietante. Há espaço para fugir, entretanto não há
boas maneiras de fazê-lo. Neste ponto, a história sofre uma reviravolta
transformando-se num jogo de caça e perseguição eletrizante. Por mais que Sam queira ir embora,
as coisas trabalham de maneira a deixá-lo cada vez mais preso naquele inferno. Não importa o que faça.
Agora o ponto em questão – o motivo de tantos terem odiado o
filme e a outra parte adorado –, é o final completamente aberto. O roteiro
coloca o espectador numa direção, a partir daí fica a seu cargo a
responsabilidade de pensar para decifrar os códigos. Não há informação entregue
de bandeja. Não “é um filme sem pé nem cabeça” como dizem por aí, de fato há
hipóteses que explicam a trama, uma, em especial, é interessantíssima. Não são
hipóteses infundadas, aliás. E o próprio título já dá uma pista – e que título horrível esse nacional, diga-se de passagem, assim como tantos outros, não sei como essas pessoas conseguem estragar tanto assim um título.
O bom trabalho do enxuto elenco – principalmente do ator
principal (Rusty Joiner) – confere veracidade à história. Isso, juntamente
com o apuro técnico, bons ângulos e uma fotografia contribuem com o clima e
atmosfera fazendo deste uma boa pedida.
“Sam Was Here” é um retrato psicologicamente perturbado e
violento de uma mente perdida em um mundo alheio em busca de respostas e de uma
saída. Obviamente não é perfeito, possuindo alguns pecados inclusive,
entretanto os acertos pesam mais do que os erros. Como um todo é um bom
trabalho de um estreante que, pode-se dizer, começou com o pé direito.
Texto escrito em 2017
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